As escolas estaduais de São Paulo registram, em média, oito casos de racismo por dia. O número surgiu em um levantamento feito pelo Metrópoles, a partir de dados da Secretaria da Educação (Seduc), obtidos exclusivamente via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Entre janeiro de 2024 e julho de 2025, a rede pública educacional do estado teve 4.554 ocorrências de injúria racial. De todas as diretorias regionais de ensino, a maioria ocorre no interior (55,93%) e na capital (24,31%). O restante foi de incidentes na região metropolitana e no litoral: 17,96% e 1,8%, respectivamente.
Vale destacar que a realidade pode ser ainda mais alarmante, já que a temática envolve subnotificação. Foram contabilizados apenas os casos que se tornaram conhecidos pela administração das unidades.
Os nomes das escolas em que foram detectados casos de racismo não foram especificados pela pasta, já que a disseminação do detalhamento envolve “dados sensíveis e de natureza pessoal”. “A divulgação pode gerar impactos negativos à comunidade, como aumento de pedidos de transferência, estigmatização de instituições de ensino e desestímulo à matrícula, comprometendo o direito à educação e à convivência escolar segura”, alegou a Seduc.
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De todas as diretorias regionais de ensino, a maioria ocorre no interior (55,93%) e na capital (24,31%)
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Foram contabilizados apenas os casos que se tornaram conhecidos pela administração das unidades
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Racismo em escolas
Um dos milhares de casos do interior ocorreu em Sorocaba, no interior, em março deste ano. Na escola estadual situada no bairro Santa Bárbara, um adolescente foi agredido verbalmente por outros quatro alunos. Eles teriam falado frases como “volta pra senzala” e “macaco quer banana” .
Cadastrado pela Polícia Civil, o boletim de ocorrência trata de ameaça e preconceito de raça ou de cor. O professor que presenciou foi demitido por omissão.
Em novembro de 2024, uma mãe fez denúncia por intimidação sistemática (bullying) e preconceitos de raça ou de cor praticados contra a filha, de apenas 11 anos. Os episódios de racismo denunciados, que envolveram comparar a menina a macacos, ocorreram em escola na zona sul de São Paulo.
No entanto, os incidentes de discriminação racial não aparecem apenas entre alunos. Em maio do ano passado, no município de São José do Rio Preto, por exemplo, duas estudantes, de 17 e 14 anos, foram apreendidas após terem proferido falas racistas a uma inspetora da escola.
As suspeitas teriam chamado a funcionária de “preta filha da p*ta”. As meninas também teriam atacado policiais militares (PMs) que foram acionados ao local.
Casos da capital paulista
Entre janeiro de 2024 e julho de 2025, as escolas estaduais da cidade de São Paulo contabilizaram 1.107 casos de racismo, dos quais a maioria (35,86 %) ocorreu na zona leste.
De acordo com o levantamento, a zona sul da capital concentra 27,55 % das ocorrências de injúrias raciais em unidades de ensino do estado. Já a parte norte do município tem 19,87% dos incidentes e o centro 16,71 %.
O que diz a Secretaria da Educação
O Metrópoles questionou a Secretaria da Educação sobre medidas que têm sido adotadas pelo governo de São Paulo para coibir incidentes de racismo em escolas estaduais. Em nota, a gestão disse que “trabalha diariamente, dentro do currículo, questões relacionadas a racismo, preconceito, sexualidade, identidade e outros temas centrais da sociedade”.
A administração ressaltou que educadores da rede estadual participam de formações continuadas por meio das Atividades Pedagógicas de Caráter Formativo (ATPC), oferecidas pela Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores (EFAPE). De acordo com a pasta, essas atividades abordam pautas como violência de gênero, proteção de grupos vulneráveis, educação em direitos humanos (EDH) e diversidade.
“A Diretoria de Clima, Convivência e Proteção Escolar (Conviva SP) reúne projetos e ações que estimulam a colaboração e o bom convívio, tornando cada escola um ambiente acolhedor e solidário, além de identificar pontos de vulnerabilidade em cada unidade escolar”, informou a Seduc.
A Seduc enfatizou ainda que promove iniciativas voltadas à diversidade e à inclusão por meio de projetos educativos, como o concurso musical Vozes pela Igualdade, realizado desde 2016 em parceria com o Ministério Público (MPSP). “A parceria com a Faculdade Zumbi dos Palmares permite que mais de 3 milhões de estudantes da rede participem do Festival Afrominuto, que premia produções escolares voltadas à valorização da cultura afro-brasileira e da diversidade étnico-racial”, completou o governo.