A perda de biodiversidade no Brasil vem se acelerando nas últimas décadas. Biomas como Amazônia, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica sofrem com o desmatamento, queimadas, caça e tráfico de animais silvestres. O resultado é um número crescente de espécies ameaçadas, muitas delas exclusivas do território nacional.
Algumas dessas espécies já vivem em condições críticas. Entre elas estão aves que só existem em regiões muito restritas, como a Chapada do Araripe (CE), e grandes predadores, como a onça-pintada, que dependem de extensas áreas preservadas para sobreviver.
Listas oficiais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) revelam que várias espécies brasileiras podem ser extintas nas próximas décadas.
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- Mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia);
- Ararinha-azul (Cyanopsitta spixii);
- Onça-pintada (Panthera onca);
- Peixe-boi-marinho (Trichechus manatus);
- Mutum-do-nordeste (Pauxi mitu);
- Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla);
- Anta-brasileira (Tapirus terrestris);
- Formigueiro-do-litoral (Formicivora littoralis);
- Jabuti-piranga (Chelonoidis carbonarius);
- Cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus).
Segundo Aline Costa, professora de Biologia da escola Maple Bear Brasília, essas espécies enfrentam diversas pressões que comprometem sua sobrevivência a curto e longo prazo.
“Eles estão no topo da lista por enfrentarem múltiplas ameaças como a perda de habitat, caça ilegal, tráfico de animais, mudanças climáticas. Muitos deles têm baixa taxa de reprodução ou vivem em áreas muito restritas — o que os torna mais vulneráveis a distúrbios ambientais, devido à baixa variabilidade genética”, explica Aline.
Os critérios para determinar o risco de extinção seguem padrões científicos internacionais, adotados pelo ICMBio e pela IUCN. Eles consideram dados populacionais, distribuição geográfica e tendências de ameaça para classificar a situação de cada espécie.
Uma espécie é considerada “criticamente em perigo” quando sua população é extremamente pequena, apresenta declínio rápido, ocupa áreas muito restritas ou quando modelos populacionais indicam que ela pode desaparecer nas próximas décadas caso nenhuma ação de conservação seja implementada.
O mico-leão-dourado é encontrado exclusivamente na Mata Atlântica do Rio de Janeiro
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A arara-azul se alimenta principalmente de sementes de palmeiras, como buriti, licuri e macaúba, utilizando seu bico forte para quebrar as cascas
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As onças-pintadas podem caçar mais de 85 espécies diferentes, desde pequenos roedores até grandes mamíferos como capivaras
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Apesar de viver em ambientes marinhos e estuarinos, o peixe-boi marinho precisa de água doce para manter seu equilíbrio hídrico
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O Mutum-do-nordeste é uma ave de grande porte, com cerca de 83 centímetros de comprimento
A língua do tamanduá-bandeira é extremamente longa e pegajosa, ideal para capturar formigas e cupins
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Antas podem medir até 2 metros de comprimento e pesar cerca de 300 kg
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O Formigueiro-do-litoral é uma espécie de ave endêmica da Mata Atlântica, mais precisamente das restingas do litoral norte do Rio de Janeiro, entre Saquarema e Cabo Frio
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O Jabuti-piranga se alimenta principalmente de frutas, folhas, flores e brotos, além de ocasionalmente consumir matéria orgânica seca e até fezes de outros animais
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O cervo-do-pantanal é o maior cervídeo da América do Sul
Fatores que ameaçam a extinção
Os animais brasileiros enfrentam uma combinação de desafios que comprometem sua sobrevivência. A caça e o tráfico de espécies, especialmente araras e onças, removem indivíduos reprodutores do ecossistema, diminuindo a capacidade de recuperação das populações.
O desmatamento e a fragmentação dos habitats reduzem as áreas disponíveis para animais que dependem de grandes extensões, como a onça-pintada e o mico-leão-dourado, enquanto a conversão de florestas em pastos ou lavouras, queimadas e poluição agravam ainda mais a situação.
“As espécies citadas são endêmicas, logo, só existem no Brasil. Ao desaparecerem aqui, perdemos espécies únicas do planeta inteiro. A extinção funciona como peças de dominó enfileiradas: cada peça (espécie) derrubada gera desequilíbrios no ecossistema, afetando as outras espécies que lá vivem”, afirma Renata Costa, bióloga do Rio de Janeiro.
Além das ações humanas, as mudanças climáticas também alteram os habitats e a reprodução das espécies. Um exemplo disso são os muriquis, que buscam refúgio em serras para escapar do calor extremo, enquanto tartarugas marinhas enfrentam desequilíbrios na proporção de machos e fêmeas devido ao aumento da temperatura da areia onde depositam os ovos.
Pequenos anfíbios, como a perereca-de-alcatrazes e rãs do gênero Brachycephalus, são extremamente sensíveis a alterações do micro-habitat, e qualquer mudança pode levar à extinção. A perda dessas espécies pode afetar a polinização, controle de insetos e equilíbrio da vegetação.
Conservação e recuperação de espécies ameaçadas
Projetos de conservação e educação ambiental são essenciais para proteger animais brasileiros sob risco de extinção. Estratégias incluem reprodução em cativeiro, proteção de ninhos e manutenção de habitats naturais, para garantir que animais vulneráveis consigam se reproduzir e manter suas populações.
Iniciativas como o Projeto Tamar, que protege filhotes de tartarugas marinhas, e a criação de ninhos artificiais para araras demonstram como ações coordenadas podem aumentar a sobrevivência de espécies em risco. Além disso, esses programas permitem monitorar populações e estudar comportamentos para aprimorar métodos de preservação.
Para os especialistas, a proteção de espécies ameaçadas é essencial não apenas para os animais, mas para todo o ecossistema. “Cada animal que desaparece enfraquece os ecossistemas dos quais dependemos. A extinção ainda é algo irreversível, mas a conservação é uma escolha — e ainda temos tempo de fazer diferente”, lembra Aline.
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