Os dados de inflação referentes ao mês de julho, divulgados nesta terça-feira (12/8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vieram bem abaixo das estimativas de analistas do mercado.
Os preços de bens e serviços do país avançaram 0,26% em julho, um aumento de 0,02 ponto percentual em comparação a junho (0,24%). Em 12 meses até julho, a inflação acumula alta de 5,23%, ainda acima do teto da meta (4,50%). No ano, o índice acumula alta de 3,26%. No mesmo mês de 2024, a variação foi de 0,38%.
O resultado do mês passado ficou abaixo do esperado por analistas do mercado financeiro. A mediana das previsões do relatório Focus e do mercado era alta de 0,34% e 0,36%, respectivamente. Os dados fazem parte do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país.
O resultado mensal foi influenciado pela alta de 3,04% nos preços da energia elétrica residencial, devido à manutenção da bandeira tarifária vermelha no patamar 1, com taxa adicional de R$ 4,46 na conta de luz a cada 100 KWh consumidos. Ela também exerceu o maior impacto individual no índice, com incremento de 0,12 ponto percentual.
Nos primeiros sete meses do ano, a energia elétrica residencial acumula uma alta de 10,18% – a maior variação para o período desde 2018, quando o acumulado foi de 13,78%.
Segundo o IBGE, a alta no subitem reflete uma série de reajustes nas tarifas, por parte das concessionárias, nos estados de São Paulo (13,97%), Curitiba (1,97%), Porto Alegre (14,19%) e Rio de Janeiro (-2,16%).
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O que diz o mercado
De acordo com economistas e analistas do mercado consultados pela reportagem do Metrópoles nesta terça-feira, o desempenho da inflação em julho surpreendeu, mas ainda é necessário ter cautela em relação ao comportamento dos preços nos próximos meses.
“O resultado de julho foi uma surpresa positiva, refletindo a deflação mais forte que esperado em alimentos e vestuário e uma inflação menor que o esperado em habitação. Para o curto prazo, o dado de hoje terá pouca influência, mas dá mais tranquilidade para o Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central] para as próximas reuniões”, avalia André Valério, economista sênior do Banco Inter.
“Em agosto, deveremos observar a deflação do índice, influenciado pelo bônus de Itaipu, o que contribuirá para manter a atual tendência de desaceleração da inflação. No entanto, o início do ciclo de cortes ainda depende de uma sinalização mais clara de que a política monetária restritiva esteja impactando a atividade real”, explica Valério. “Nota-se sinais de acomodação da atividade e no crédito, e devemos ter um crescimento menor do PIB no 2º trimestre. Mantemos a visão de que o Copom inicie o ciclo de cortes na reunião de dezembro, com um corte inicial de 50 pontos-base.”
Em sua última reunião, o Copom interrompeu o ciclo de alta na taxa básica de juros e manteve a Selic em 15% ao ano – o maior patamar em quase duas décadas, desde 2006. A taxa de juros elevada é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação.
Para Igor Cadilhac, economista da PicPay, “qualitativamente, o resultado foi misto, mas melhor do que o esperado”. “Com exceção dos serviços (0,59%), todas as demais medidas vieram melhores do que nossas projeções. No entanto, como os serviços subjacentes (0,49%) representam uma das principais métricas qualitativas, o resultado deve ser interpretado com cautela. Mantemos a avaliação de que ainda é necessária uma política monetária restritiva, com a Selic permanecendo em 15% até o final do ano”, afirma.
“Olhando à frente, mantemos nossa projeção de inflação para 2025 em 5,1%. Por ora, seguimos observando um balanço de riscos equilibrado, com efeitos líquidos desinflacionários da guerra tarifária. O câmbio permanece relativamente comportado e as expectativas vêm melhorando persistentemente. Além disso, os dados correntes indicam uma dinâmica mais positiva”, prossegue Cadilhac.
“Apesar disso, o quadro permanece significativamente pressionado. Seguimos atentos às pressões altistas, associadas à desancoragem das expectativas, à manutenção de um hiato do produto positivo e à eventual depreciação do real em um cenário de maior percepção de risco fiscal e/ou geopolítico.”
O economista Pablo Spyer, conselheiro da Ancor, observa que o IPCA de julho “mostrou uma leve aceleração da inflação, puxada pela alta da energia elétrica e dos serviços, com destaque para passagens aéreas”. “Mas vieram três boas notícias: o resultado ficou abaixo do esperado de todas as estimativas, os núcleos perderam força e a difusão de preços recuou”, aponta.
“Mesmo com o índice em nível controlado, esses itens pontuais ainda podem gerar volatilidade. Por isso, segue essencial uma política monetária cautelosa e ações que elevem produtividade e competitividade. Para o investidor, o momento pede foco no longo prazo e carteira diversificada, diante das incertezas no Brasil e lá fora”, completa Spyer.
Segundo o economista Maykon Douglas, “a leitura reforça o processo gradual de desinflação, com surpresa negativa no número cheio e na média dos núcleos de inflação”. “No entanto, a desinflação nos núcleos de serviços ainda é bastante gradual e eles seguem acima do teto da meta. Além disso, a desinflação acentuada do núcleo de bens industriais reflete de maneira defasada à apreciação do real nos últimos meses, movimento interrompido pelo tarifaço dos EUA contra o Brasil”, avalia.
“Como o mercado de trabalho não dá sinais claros de moderação, ao contrário da atividade agregada, atividades mais sensíveis à mão-de-obra podem mostrar leituras menos benignas à frente. Portanto, a inflação corrente segue exigindo cautela da autoridade monetária”, conclui o economista.
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Inflação é o termo da economia utilizado para indicar o aumento generalizado ou contínuo dos preços de produtos ou serviços. Com isso, a inflação representa o aumento do custo de vida e a consequente redução no poder de compra da moeda de um país
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Em outras palavras, se há aumento da inflação, o dinheiro passa a valer menos. A principal consequência é a perda do poder de compra ao longo do tempo, com o aumento dos preços das mercadorias e a desvalorização da moeda
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Existem várias formas de medir a inflação, contudo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o mais comum deles
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No Brasil, quem realiza a previsão da inflação e comunica a situação dela é o Banco Central. No entanto, para garantir a idoneidade das informações, a pesquisa dos preços de produtos, serviços e o cálculo é realizado pelo IBGE, que faz monitoramento nas principais regiões brasileiras
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De uma forma geral, a inflação pode apresentar causas de curto a longo prazo, uma vez que tem variações cíclicas e que também pode ser determinada por consequências externas
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No entanto, o que influencia diretamente a inflação é: o aumento da demanda; aumento ou pressão nos custos de produção (oferta e demanda); inércia inflacionária e expectativas de inflação; e aumento de emissão de moeda
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No bolso do consumidor, a inflação é sentida de formas diferentes, já que ela não costuma agir de maneira uniforme e alguns serviços aumentam bem mais do que outros
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Isso pode ser explicado pela forma de consumo dos brasileiros. Famílias que possuem uma renda menor são afetadas, principalmente, por aumento no preço de transporte e alimento. Por outro lado, alterações nas áreas de educação e vestuário são mais sentidas por famílias mais ricas
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Ao contrário do que parece, a inflação não é de todo mal. Quando controlada, é sinal de que a economia está bem e crescendo da forma esperada. No Brasil, por exemplo, temos uma meta anual de inflação para garantir que os preços fiquem controlados. O que não pode deixar, na verdade, é chegar na hiperinflação – quando o controle de todos os preços é perdido
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O que é o IPCA
O IPCA é calculado desde 1979 pelo IBGE. O índice é considerado o termômetro oficial da inflação e é usado pelo Banco Central para ajustar a taxa básica de juros, a Selic.
Ele mede a variação mensal dos preços na cesta de vários produtos e serviços, comparando-os com o mês anterior. A diferença entre os dois itens da equação representa a inflação do mês observado.
O IPCA mensura dados nas cidades, de forma a englobar 90% das pessoas que vivem em áreas urbanas no país.
O índice pesquisa preços de categorias como transporte, alimentação e bebidas, habitação, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais, educação, comunicação, vestuário, artigos de residência, entre outros.
O IPCA referente a agosto será divulgado em 10 de setembro.