Alfinetadas, acusações, apelidos maldosos, cartas públicas e muito mais. A guerra entre as montadoras de veículos escalou tão alto nos últimos dias que coube ao governo tentar apaziguar os ânimos com uma solução intermediária.
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A rusga começou com o pedido da chinesa BYD para que o governo reduzisse o imposto de importação sobre carros trazidos do exterior em estado “semi-pronto”, para serem montados no país. É com esse modelo que a montadora começou a produzir no Brasil, em julho, na finada fábrica da Ford — que deixou o Brasil em 2021 –, em Camaçari (BA), adquirida pela chinesa do governo baiano por R$ 287,8 milhões.
A montadora propôs uma alíquota de 10% para veículos elétricos que chegassem parcialmente montados (SKD) e de 5% para modelos ainda mais desmontados (CKD). As montadoras tradicionais reagiram e, por meio de uma carta conjunta, assinada por Volks, Toyota, Stellantis — grupo que controla marcas como Fiat, Jeep e Peugeot — e GM e endereçada ao presidente Lula, pediram que a isenção do imposto não fosse concedida.
“Por uma questão de isonomia e busca de competitividade, essa prática deletéria pode disseminar-se em toda a indústria, afetando diretamente a demanda de autopeças e de mão de obra. Seria uma forte involução, que em nada contribuiria para o nível tecnológico de nossa indústria, para a inovação ou para a engenharia nacional. Representaria, na verdade, um legado de desemprego, desequilíbrio da balança comercial e dependência tecnológica”, diz trecho da carta.
A BYD reagiu de forma dura. Disse que as concorrentes “ameaçam” o governo com a possibilidade de demissões e aumento do desemprego. O documento da montadora chinesa afirmou que o posicionamento das concorrentes “tem o tom dramático de quem acaba de ver um meteoro no céu”.
“O problema não é o meteoro, claro. O problema é que ele está sendo bem recebido pelos consumidores — aqueles mesmos que, por décadas, foram obrigados a pagar caro por tecnologia velha e design preguiçoso”, continua a BYD.A ironia, continua: “Agora, chega uma empresa chinesa que acelera fábrica, baixa preço e coloca carro elétrico na garagem da classe média, e os dinossauros surtam”.
A decisão coube ao Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-Camex), que buscou o meio-termo, mas, no fim, não agradou ninguém. O benefício para os carros “desmontados” foi, de certa forma, mantido, mas foi antecipado o fim: janeiro de 2027, quando o imposto passará a ser de 35%.
Também foram instituídas cotas temporárias de importação — no valor de US$ 463 milhões — permitindo a entrada desses veículos com imposto zero até janeiro de 2026 ou até que a cota seja esgotada.