Quando falamos em confiança, parece que estamos tratando apenas de uma escolha racional. Mas, como psicóloga, posso garantir: o nosso cérebro decide em quem confiar antes mesmo que a razão entre em cena. É um processo emocional, profundo e quase instintivo.
Leia também
-
Por que marcas líderes estão operando em ecossistemas
-
O que as pequenas empresas podem aprender com as grandes marcas?
-
Construindo marcas com alma: a história de Renata Altenfelder
-
Storytelling é relevante para todas as marcas?
A confiança é menos sobre lógica e mais sobre sensação. É o tipo de sentimento que nasce quando algo nos toca internamente — algo que lembra cuidado, proteção e vínculo.
Neurocientificamente, o que ocorre é fascinante. Diante de estímulos que evocam segurança, nosso cérebro ativa áreas relacionadas à emoção e ao apego. Regiões como a amígdala e o sistema límbico reagem positivamente quando identificamos sinais de acolhimento, verdade ou empatia.
A sensação é de alívio: podemos relaxar, entregar, confiar. Essa resposta nos conecta com arquétipos universais como o da Mãe — figura simbólica que representa proteção, nutrição e segurança.
É por isso que a confiança é, antes de tudo, emocional. A gente sente antes de pensar. E a razão, nesse cenário, apenas entra em ação para validar algo que já foi decidido pelo inconsciente.
Em branding, isso tem um peso imenso: marcas que querem construir reputação precisam tocar o coração antes de convencer a mente.
E como fazer isso? O caminho está na história que se conta — e no jeito de contar. Quando uma marca comunica com autenticidade, mostra cuidado real e desperta imagens simbólicas positivas, ela constrói uma ponte direta com o inconsciente coletivo.
Se ela parece protetora, justa ou inspiradora, ela passa a ser percebida como confiável. São sensações que vão além do texto e do logotipo. São vivências emocionais.
Nosso cérebro é rápido: em milissegundos já forma uma impressão sobre pessoas, marcas e contextos. E essa impressão, moldada por emoções e imagens arquetípicas, tende a durar.
Por isso, o primeiro contato é decisivo. Temos menos de 15 segundos para transmitir uma sensação de confiança — e o que não for claro, verdadeiro e coerente nesse tempo pode gerar distanciamento.
Relações interpessoais ativam fortemente o sistema da empatia: confiamos em quem vemos, ouvimos e sentimos. Mas, no caso das marcas, essa conexão precisa ser construída de outro modo — com uma personalidade simbólica forte, coerente e constante.
A confiança institucional não nasce de um post, mas de um histórico de atitudes que se alinham com valores humanos.
A ciência da confiança nos mostra que reputação é menos sobre performance e mais sobre vínculo. E vínculo só nasce quando há humanidade, empatia e verdade.
Marcas que entendem isso criam não apenas consumidores, mas relacionamentos duradouros. Afinal, como seres humanos, não buscamos apenas produtos — buscamos sentido. E o cérebro sabe exatamente onde procurar.
Andrea Beltran é psicóloga analítica junguiana.