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    A era da central de atendimento acabou, e o cliente agradece

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    Durante anos, prevaleceu no mercado a ideia de que oferecer o maior número possível de canais de atendimento era sinônimo de experiência superior.

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    Mas, a prática mostrou o contrário: canais em excesso, sem integração, criam fragmentação, aumentam custos e frustram consumidores.

    A lógica do “quanto mais, melhor” perdeu espaço para um movimento de racionalização, menos opções, mas muito mais eficazes.

    O relatório CX Trends 2023 da Zendesk mostra que 61% dos consumidores já esperam experiências mais naturais, fluidas e convenientes.

    Essa expectativa explica por que empresas que investem em canais integrados conseguem elevar a lealdade e a receita enquanto aquelas que multiplicam pontos de contato sem planejamento veem a satisfação despencar. O cliente não deseja dez opções que falham, mas duas que funcionem muito bem.

    Abrir frentes demais sem qualidade traz riscos concretos. A experiência fragmentada obriga o consumidor a repetir dados, mina a confiança e sobrecarrega operações.

    Cada canal exige tecnologia, processos e treinamento, o que encarece a estrutura e dilui a entrega. Além disso, um canal ruim compromete toda a percepção de marca. Não é apenas um gargalo: é perda de dados estratégicos e reputação.

    Do exterior ao Brasil

    Esse movimento começou nos Estados Unidos e na Europa, onde a pressão por eficiência acelerou a consolidação.

    No Brasil, já há exemplos sólidos: o Nubank centralizou quase todo o atendimento no app; o Magazine Luiza priorizou WhatsApp e aplicativo; o iFood migrou para fluxos digitais quase sem voz; a Azul Linhas Aéreas reduziu solicitações telefônicas; e o Banco Inter manteve a central apenas para casos críticos.

    O resultado foi ganho de agilidade, redução de ruído e maior satisfação.

    O WhatsApp tornou-se peça-chave dessa transformação. Mais de 95% dos brasileiros conectados utilizam o aplicativo diariamente, segundo o Panorama Mobile Time/Opinion Box.

    As novas APIs empresariais democratizaram integrações antes restritas a grandes players, permitindo que empresas médias conectem o canal a CRMs, ERPs e fluxos automatizados.

    O iFood e o Magalu já operam suporte e vendas por lá, enquanto bancos digitais usam a plataforma para notificações e suporte ágil.

    Automação com humanidade

    Automatizar tarefas repetitivas é essencial, mas insuficiente. O equilíbrio está em usar inteligência artificial e bots para dar escala e velocidade, sem perder a dimensão humana.

    Pesquisas apontam que consumidores se frustram com interações automatizadas que não resolvem problemas. Por outro lado, operações que combinam jornadas digitais e humanas elevam a satisfação e reduzem conflitos.

    O cliente quer rapidez, mas também reconhecimento da sua individualidade. A pesquisa “Voz do Consumidor 2024”, da PwC, ouviu mais de 20 mil consumidores em 31 países, incluindo o Brasil, e mostrou que a confiança na marca depende diretamente da experiência oferecida.

    Entre os brasileiros, 90% afirmam que a proteção de dados pessoais é um dos fatores mais importantes para manter esse vínculo. Esses números reforçam que o futuro pertence às empresas que entenderem que o cliente agradece não pela abundância de canais, mas pela eficácia de poucos.

    João Paulo Ribeiro é CEO Program.