Conhecido por ser um dos locais mais importantes e sagrados da Índia, sendo essencial para cerca de 600 milhões de pessoas no país, o rio Ganges está sofrendo a pior seca em 1,3 mil anos devido à ação humana. A descoberta foi realizada por pesquisadores locais e norte-americanos.
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Utilizando dados históricos, registros paleoclimáticos e modelos hidrológicos, pesquisadores do Instituto Indiano de Tecnologia Gandhinagar e da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, detectaram a seca mais severa da história do rio. Os resultados foram publicados na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences na segunda-feira (22/9).
Também foi identificado que grande parte dos modelos climáticos atuais não conseguiu perceber a tendência severa de seca na região.
“A seca recente está muito além da abrangência da variabilidade climática do último milênio, e a maioria dos modelos climáticos globais não consegue captá-la. Nossas descobertas ressaltam a necessidade urgente de examinar as interações entre os fatores que controlam a precipitação das monções de verão, incluindo a variabilidade climática em larga escala e as forças antropogênicas”, escreveram os autores no artigo.
Tecnologia e dados
Inicialmente, a equipe de pesquisa reconstruiu o fluxo do rio nos últimos 1,3 mil anos (de 700 a 2012 d.C.) por meio da análise de dados de anéis de árvores, compilado pelo Monsoon Asia Drought Atlas (Mada), projeto sobre secas e pluviosidade na Ásia. Os números sobre essa camada da planta revelam a história ambiental, identificando períodos de seca, abundância de água e mudanças climáticas.
Em seguida, foram utilizados programas de computador para combinar os dados dos anéis de árvores com registros modernos, criando uma linha do tempo do fluxo do rio Ganges. Comparações com secas e o períodos de fome documentados garantiram a precisão do modelo.
O rio Ganges é considerado um local sagrado pelos indianos
A investigação confirmou que a seca mais recente, de 1991 a 2020, é 76% mais grave do que a pior registrada anteriormente, no século 16. Atualmente, o rio Ganges está mais seco em geral. e os períodos de estiagem ocorrem com mais frequência e por mais tempo.
De acordo com os pesquisadores, a ação humana é a principal responsável pelo declínio hídrico do Ganges. Mesmo alguns padrões climáticos naturais também contribuindo para isso, o enfraquecimento das monções de verão — chuvas de verão que “alimentam” o rio — é um fator mais determinante.
A poluição do ar e o aquecimento do Oceano Índico provocados pela atividades humana afetam as monções, que, consequentemente, diminui o volume de água no rio.
O que fazer para salvar o rio Ganges
Salvar o rio Ganges é essencial, e os cientistas defendem a adoção de duas linhas de ação prioritárias: a melhoria de modelos climáticos, para que levem em conta os impactos da atividade humana na região, e a criação de técnicas de gestão de água para evitar crises de abastecimento.
“O rio Ganges tem profundo significado religioso, cultural e econômico para milhões de pessoas que vivem na Índia, Nepal e Bangladesh. É importante implementar estratégias adaptativas de gestão de água para garantir a disponibilidade de água doce da bacia do Ganges em um clima em mudança”, finalizaram os autores.
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