MAIS

    App da Unesp promove autonomia em pessoas com deficiência visual em SP

    Por

    Um aplicativo desenvolvido pelo projeto de extensão Biblioteca Falada, da Unesp, em Bauru, no interior de São Paulo, está ajudando no desenvolvimento da autonomia de pessoas com deficiências visuais na cidade e nos municípios vizinhos.

    O projeto, chamado Siga Cidades, foi desenvolvido em 2019, na Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design da Unesp e oferece descrições em áudio de espaços públicos como pontos turísticos, prédios oficiais, comércios, locais religiosos e unidade de lazer, saúde e educação, incluindo instalações da própria universidade.

    O aplicativo está disponível em celulares e computadores e busca dar mais independência para que pessoas com deficiências visuais possam conhecer novos espaços da cidade.

    Leia também

    Suely Maciel, coordenadora do Biblioteca Falada e docente da Faculdade responsável pelo aplicativo, explica que a ideia do projeto surgiu após uma visita guiada à Rádio Unesp com alunos do Lar Escola Santa Luzia, instituto que atende pessoas cegas em Bauru.

    “Fizemos a audiodescrição do local para auxiliar a visita e uma aluna me disse que gostaria que o mesmo fosse feito com uma das ruas principais da cidade”, revelou.

    A partir desse momento, a equipe iniciou o novo plano e, contando com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, levou a audiodescrição para 79 locais de Bauru. Posteriormente, a Pró-Reitoria de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade entrou com apoio e o projeto se expandiu para as cidades de Botucatu, com 22 locais descritos, e de Marília, com 20 locais. A ideia é que a próxima cidade a receber as audiodescrições seja Araraquara.

    Em Bauru, os colaboradores incluíram o Lar Escola Santa Luzia, a APAE e a Secretaria Municipal de Educação. Em Botucatu, o apoio veio de pesquisadores da área e, em Marília, a parceria principal foi com a Associação de Deficientes Visuais de Marília.

    Além das descrições dos espaços, a equipe por trás do projeto também produz áudios histórico-informativos que contextualizam os ambientes em termos de cultura e arquitetura.

    “Se estamos falando da Prefeitura de Araraquara, a pessoa precisa entender de onde ela veio, como foi construída, se foram feitas reformas e qual o seu tamanho. Esse contexto facilita a compreensão das informações que estarão na audiodescrição”, conta Marcela Evangelista, graduanda em jornalismo e assessora especial do Biblioteca Falada.

    Como é feita a descrição por áudio

    Guilherme Ferreira, doutorando em Comunicação e integrante do projeto de 2018 a 2024, explica que o roteiro de audiodescrição de ambientes tem algumas particularidades e pontos de atenção. As informações costumam ser divididas em blocos, mas devem se conectar para compor uma imagem completa. No caso de uma igreja, por exemplo, descreve-se primeiro a fachada, depois o pátio e, por fim, os fundos, criando uma sequência lógica.

    “Fizemos cursos de audiodescrição e reforçamos os métodos de roteiro e locução. Foi um período voltado para nossa formação e, principalmente, para entender como audiodescrever ambientes e paisagens”, conta.

    Ele também explica que a coleta de informações precisa ser correta. A equipe faz uma análise prévia do local pelo Google Maps e faz visitas presenciais para pegar detalhes que não são possível pela internet, como cores, texturas, desníveis e pontos cegos.

    A locução também exige cuidados específicos: deve ser pausada, clara e neutra, variando o tom conforme o contexto. É preciso que a fala seja neutra e que siga o ritmo das conversações cotidianas, evitando que os áudios sejam maçantes de ouvir. O tom pode variar de acordo com a temática do local: uma voz mais amena para espaços com históricos complicados e outra mais empostada e alegre para ambientes culturais e de lazer.

    Voluntários com deficiência visual

    Para validar o roteiro, consultores com deficiência visual voluntários ajudam no projeto. É o caso de Ednilson Sacramento, que participa há dois anos.

    Ele ressalta ressalta que a ampliação da equipe de consultores enriqueceu os roteiros, acrescentando informações arquitetônicas e culturais de relevância, e reforça o caráter turístico voltado às pessoas com deficiência visual.

    “O usuário, além de saber que estamos falando de uma catedral, de uma igreja ou de um shopping center, passa a conhecer muito sobre a arquitetura, a localização e os aspectos culturais. Essa configuração constrói uma nova roupagem para a informação que é passada”, comenta Sacramento. A consultoria é uma etapa fundamental na elaboração de roteiros. Até hoje, todas as produções passam primeiro por um consultor antes de serem gravadas.

    Suely Maciel acredita que o projeto também ajuda na formação especializada para estudantes: “Existem dois diferenciais importantes: conhecimento sobre acessibilidade midiática e sobre audiodescrição. Isso proporciona uma formação diferenciada”, diz.

    Ela completa dizendo que espera que o projeto continue avançando para outras cidade do interior de São Paulo.

    Setembro Verde

    • Desde 2015 existe a campanha Setembro Verde, que busca reforçar e ampliar o debate sobre a acessibilidade da pessoa com deficiências a direitos fundamentais a existência.
    • Em 1982, movimentos sociais criaram o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. A data é celebrada no dia 21 de setembro e foi oficializada em 2005, pelo Governo Federal.
    • A data destaca a busca por maior acessibilidade em áreas como emprego, educação, lazer, entre outras.