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Áudio. Pastora sócia de “clínica do horror” no DF: “Não vai fechar”

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Áudio. Pastora sócia de “clínica do horror” no DF: “Não vai fechar”

Mesmo após as denúncias de maus-tratos, cárcere privado, tortura e violência sexual, a unidade do Lago Oeste do Instituto Terapêutico Liberte-se continuava em plena atividade até a tarde dessa quarta-feira (17/9), quando a Justiça determinou o encerramento de todas as atividades no local. A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) prendeu, na terça-feira (16/9), três pessoas responsáveis pelo centro de reabilitação. Após a operação policial, uma pastora sócia da entidade, casada com um dos responsáveis também pastor, enviou áudio aos familiares dos internos negando o fechamento da clínica.

Segundo a mensagem, enviada para parentes de acolhidos, a 35ª Delegacia de Polícia (Sobradinho II) vai ouvir as famílias dos internos, mas não tem elementos suficientes para lacrar o instituto. “A princípio, a gente não vai fechar. Não tem documentação nenhuma para fechar”, afirmou. “Para Glória de Deus, o delegado não tem a princípio para fechar nada”, reforçou.

Ouça:

Após a denúncia, diversas famílias foram à clínica para retirar parentes. “Vi algumas mãezinhas falando que vinham buscar. Mas aí, é por conta em risco”, disse a pastora. “Vamos orar, interceder para que eles possam continuar firmes em recuperação. O que acho bem complicado, porque a doença é muito maldita”, disse.

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Internos detalharam uma rotina de horror e trabalhos forçados na instituição. Segundo os pacientes, quem não cumprisse as ordens ficava sem contato com a família. “Se ele falar para você: tem que comer aí. Se você não fizer, pronto. Ele fala na cara: ‘você vai ficar sem ver a sua mãe por seis meses”, contou um acolhido.

Veja:

De acordo com as denúncias, muitos acolhidos ficavam dopados por dias, sob efeito de medicamentos de uso controlado, como Neozine, Rivotril e Depakene.

“Aqui é assim: o banheiro é sujo para caramba. O caboclo que toma muito remédio, o mijo fica amarelo no chão. Quando chegam, dizem: ‘se você não lavar o banheiro, vai ficar sem visita”, contou.

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Segundo os internos, o local tinha, ainda, fios elétricos expostos o que provocava medo de incêndio. “Se pegar fogo… Não tem para onde correr. Fica tudo trancado à noite”, alertou um acolhido.

Nessa terça-feira (16/9), o instituto foi alvo de uma diligência de uma força-tarefa com participação do deputado distrital Fábio Felix (Psol) e a deputada federal Érika Kokay (PT), com parceira de entidades defensoras dos direitos humanos, como Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura.

Na sequência, a PCDF realizou uma operação no local e prendeu três sócios da casa pela acusação de cárcere privado.

Horror

Os acolhidos denunciam, ainda, trabalho forçado e não remunerado, tortura, maus-tratos, violência sexual, cobranças abusivas e falta de assistência médica adequada. Aproximadamente 100 internos viviam na clínica. A filial é diferente da localizada no Núcleo Rural Boqueirão, no Paranoá, que pegou fogo e matou cinco internos, em 31 de agosto último.

Os internos disseram, por exemplo, que sofrem abusos sexuais constantemente, sobretudo aqueles com transtornos mentais. Há, também, denúncias de episódios de pessoas enforcadas, amarradas com cordas e trancadas em quartos superlotados.

Custos por fora

A unidade do Lago Oeste também não oferecia assistência médica adequada. Alguns pacientes usavam psicotrópicos como quetiapina e rivotril sem prescrição clara, além de não contarem com a presença de psicólogos e psiquiatras na clínica. Quem quisesse se consultar, tinha que desembolsar até R$ 300 para uma sessão on-line. E quem administra os medicamentos são monitores sem qualquer formação na área da saúde.

As famílias dos acolhidos já pagam entre R$ 1.600 e R$ 1.800 de mensalidade pela internação e, ainda assim, precisam bancar com os custos da alimentação por fora. Também têm que arcar com gastos como taxa de deslocamento. Se o paciente com algum problema de saúde solicita uma ida ao médico, por exemplo, é cobrado dele um valor entre R$ 150 e R$ 200.

 

Cinco mortos e 12 feridos

Metrópoles tentou contato com o Instituto novamente, para ouvir a entidade a respeito dos apontamentos da Comissão de Direitos Humanos. O órgão, no entanto, não havia dado retorno até a última atualização desta reportagem. O espaço segue aberto.

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