MAIS

    Aviões atribuídos a Rueda valem R$ 60 milhões e têm “dono” contador

    Por

    Os jatinhos que teriam como verdadeiro dono o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, valem pelo menos R$ 60,4 milhões, segundo documentos da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

    Como revelou a coluna nesta quinta-feira (18/9), Rueda está sendo investigado pela Polícia Federal no rastro da Operação Carbono Oculto, que apura a infiltração da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) nos setores de combustíveis e financeiro.

    Formalmente, as apurações sobre Rueda fazem parte da Operação Tank, deflagrada pela Polícia Federal em conjunto com a Carbono Oculto, e são conduzidas em Brasília (leia mais abaixo).

    Os registros da Anac mostram as transferências de propriedade mais recentes das quatro aeronaves que seriam de Rueda. Duas delas estão relacionadas a uma mesma pessoa: o contador Bruno Ferreira Vicente de Queiroz, 37 anos, natural de Fortaleza (CE) e atualmente residente em São Paulo.

    Essas duas aeronaves são: o Cessna 560 XL, de matrícula PR-LPG, avaliado em R$ 12,5 milhões; e o Gulfstream PS-MRL, vendido pela última vez em junho deste ano por US$ 4 milhões — o equivalente a R$ 21,2 milhões.

    Documentos da Anac mostram que o Cessna PR-LPG foi transferido em março deste ano para a empresa Magic Aviation, presidida pelo contador Bruno Ferreira Vicente de Queiroz.

    Bruno também é presidente e representante legal da empresa Bariloche Participações S.A., sediada no Itaim Bibi, em São Paulo (SP), e com capital social de R$ 110 milhões.

    Entre os sócios da Bariloche Participações estão empresas ligadas a dois empresários do ramo de mineração: Haroldo Augusto Filho e Valdoir Slapak.

    Em novembro do ano passado, os dois foram alvo de mandados de busca e apreensão da Polícia Federal na Operação Sisamnes, que investiga a venda de sentenças no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

    Ao todo, Bruno figura como diretor, presidente ou sócio de 15 empresas nos registros da Receita Federal.

    Outra empresa da qual ele é diretor é a Rovaniemi Participações S.A., sediada em Fortaleza. Com capital social de R$ 1 milhão, é a atual proprietária do Gulfstream de matrícula PS-MRL.

    Além da ligação com Bruno Ferreira Vicente de Queiroz, as aeronaves atribuídas a Rueda têm em comum o fato de serem operadas pela mesma empresa de táxi aéreo, a Transportes Aéreos Piracicaba (TAP).

    A TAP também foi utilizada dezenas de vezes por Roberto Augusto Leme, o Beto Louco, um dos donos da refinaria Copape. Alvo da Carbono Oculto, Beto Louco já foi preso por tráfico e teria vínculos com o PCC.

    A reportagem do Metrópoles procurou Bruno para comentários, mas ainda não obteve resposta. O espaço segue aberto.

    Já Antônio Rueda negou categoricamente ser o dono das aeronaves ou ter qualquer relação com os fatos investigados nas operações Carbono Oculto e Tank.

    Segundo ele, seu nome “foi suscitado em um contexto absolutamente infundado”. E ressaltou que “tomará todas as medidas cabíveis para proteger sua reputação”.

    PF não descarta abrir nova investigação sobre Rueda

    Por enquanto, a única menção ao nome de Antônio Rueda nas investigações da Operação Tank é o depoimento do piloto Mauro Caputti Mattosinho, que trabalhou na TAP.

    Em declaração à PF, ele afirmou que seu ex-chefe, o piloto e empresário Epaminondas Chenu, dono da TAP, mencionava Rueda como chefe de um grupo que “tinha muito dinheiro e precisava gastar” com a compra das aeronaves.

    “Havia um clima de ‘boom’ de crescimento na empresa. E isso foi justificado como sendo um grupo muito forte, encabeçado pelo Rueda, que vinha com muito dinheiro que precisava gastar. Então, a aquisição de várias aeronaves foi financiada”, disse Mattosinho em entrevista aos portais UOL e ICL Notícias.

    Na noite desta quinta-feira, o portal Poder360 revelou que o piloto é filiado ao PSOL, partido de esquerda, desde janeiro deste ano.

    O depoimento de Mattosinho é a primeira menção a Rueda nas investigações. Porém, outros fatos relacionados à atuação do dirigente partidário estão sendo levantados, e a corporação não descarta abrir uma investigação específica sobre ele, caso surjam novos indícios que a justifiquem.

    Saiba mais sobre cada uma das aeronaves atribuídas a Rueda

    Raytheon R390 (PR-JRR)

    Segundo registros da ANAC, pertence à empresa Fenix Participações, que tem entre seus sócios o advogado Caio Vieira Rocha, filho do ex-ministro do STJ César Asfor Rocha; o ex-senador e presidente do Republicanos no Ceará, Chiquinho Feitosa; e um empresário do setor automotivo em Pernambuco.

    A aeronave foi comprada do empresário do ramo imobiliário José Ricardo Rezek por cerca de R$ 13 milhões em outubro passado. Segundo Mattosinho, Rueda seria sócio desse avião.

    Cessna 560 XL (PR-LPG)

    Com 12 lugares, foi vendido em junho de 2022 por R$ 12,5 milhões por um empresário de Minas Gerais ao dono de uma rede de farmácias em Fortaleza, Francisco Willame Santiago, e ao empresário de Manaus, Alessandro Bronze Toniza.

    Pouco depois, foi cedido de forma onerosa à Rico Táxi Aéreo, também de Manaus.

    Finalmente, em março deste ano, foi adquirido pela Magic Aviation, presidida por Bruno Ferreira Vicente de Queiroz.

    Cessna Citation J2 (PT-FTC)

    Vendido em setembro de 2023 a uma empresa localizada na periferia de Imperatriz (MA), a Serveg Serviços LTDA, por R$ 13,72 milhões. A empresa tem como dona Antônia Viana Silva Soares, que negou conhecer tanto a firma quanto a aeronave em entrevista ao UOL.

    Antes da Serveg, o avião pertencia ao empresário Edison Tamascia, fundador da associação de drogarias Farmarcas.

    Gulfstream G200 (PS-MRL)

    Vendido em abril de 2025 pelo dono do plano de saúde Samel, de Manaus, à empresa Rovaniemi Participações S.A., em Fortaleza, pelo valor de US$ 4 milhões (R$ 21,2 milhões).

    Aberta em junho de 2021, a Rovaniemi tem capital social de apenas R$ 100. O diretor é o mesmo Bruno Ferreira Vicente de Queiroz, também presidente da Magic Aviation. A sede da empresa é uma casa no bairro Papicu, em Fortaleza.