A Ilha Kangaroo, no sul da Austrália, é vista como um paraíso para os coalas, abrigando uma população numerosa e quase livre de doenças. Mas um novo estudo da Universidade Flinders, publicado na revista Molecular Ecology em 13 de setembro, mostra que essa aparente história de sucesso esconde um problema sério que pode colocar os animais em risco.
Os cientistas analisaram o genoma completo dos coalas da ilha e o compararam com populações do continente, em Victoria e Queensland, na Austrália. O resultado mostrou que os animais isolados apresentam muito mais endogamia e menor variedade genética do que os coalas continentais.
A condição aumenta a chance de problemas de fertilidade, anormalidades de desenvolvimento e maior vulnerabilidade a surtos de doenças no futuro.
Refúgio que pode se tornar armadilha
A explicação está na origem da colônia. Nos anos 1920, menos de duas dezenas de coalas foram levados de Victoria para a Ilha Kangaroo, em uma tentativa de salvar a espécie da extinção após a caça e a perda de habitat. Os animais, no entanto, já vinham de um grupo pequeno e geneticamente limitado.
“Em termos de tamanho populacional, os coalas da Ilha Kangaroo representam uma história de conservação bem-sucedida. Mas a saúde genética conta uma história diferente. A baixa diversidade pode comprometer a adaptação a doenças ou às mudanças climáticas”, afirma a pesquisadora Katie Gates, principal autora do estudo, em comunicado.
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Os pesquisadores identificaram trechos idênticos de DNA herdados de ambos os pais, chamados sequências de homozigose, uma característica típica da endogamia. Variantes genéticas potencialmente prejudiciais também aparecem com mais frequência em dose dupla, aumentando os riscos para as novas gerações.
Apesar disso, a população da ilha até agora resistiu a infecções comuns em coalas, como clamídia e retrovírus. Ainda assim, os cientistas defendem medidas de manejo para evitar que esse aparente refúgio se torne uma armadilha.
Entre as recomendações está o chamado “resgate genético”, que consiste em introduzir cuidadosamente animais vindos de outras regiões, ampliando a diversidade.
“A Ilha Kangaroo pode continuar sendo um refúgio importante mas, sem manejo genético, corre o risco de se tornar uma armadilha. O monitoramento constante é essencial”, reforça o professor Luciano Beheregaray, autor sênior do estudo.
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