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    Cabo da PM preso é apontado como braço armado e logístico do CV em SP

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    O policial militar (PM) José Casemiro de Lima Júnior (foto em destaque), conhecido como “Bigode” ou “Bigodeira”, foi preso no início do mês, suspeito de supostamente atuar como membro ativo de uma milícia no interior paulista, que presta serviços à facção Comando Vermelho, do Rio de Janeiro.

    As investigações da Polícia Civil de São Paulo, no âmbito da Operação Hitman, mostraram indícios robustos de que o cabo Casemiro não apenas mantinha laços pessoais, mas também operacionais com Carlos Alexandre dos Santos, o Bicho — apontado como um dos líderes do grupo –, preso desde fevereiro e apontado como o “principal executor e articulador” da milícia composta por PMs e guardas civis paulistas.

    A profundidade do envolvimento de Casemiro com o crime organizado é destacada na investigação, que segue em sigilo. Segundo ela, o cabo mantinha um vínculo estreito com Bicho, chegando a frequentar o condomínio do líder da milícia e, inclusive, prestando “apoio emocional” durante a prisão em flagrante do parceiro, permanecendo na delegacia especializada durante toda a formalização.

    3 imagensCabo José Casimiro durante audiência de custódiaPM da ativa foi preso suspeito de envolvimento com o crime organizadoFechar modal.1 de 3

    Carlos Alexandre dos Santos, o Bicho (esq) e cabo José Casimiro (dir)

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    Cabo José Casimiro durante audiência de custódia

    Reprodução/TJSP3 de 3

    PM da ativa foi preso suspeito de envolvimento com o crime organizado

    Reprodução/Instagram

    O Metrópoles revelou que Bicho foi preso quando estava na ativa da PM. Antes disso, coordenava as ações criminosas em benefício do CV em São Paulo. Ele e Casemiro estão atualmente encarcerados no Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte da capital paulista. A defesa de ambos não foi encontrada. O espaço segue aberto para manifestações.

    Carros dublês do PM

    Um dos elementos centrais da investigação, obtida pela reportagem, é o uso recorrente de Casemiro de um  Nissan Kicks dublê. A clonagem do carro foi comprovada por leituras simultâneas de placas em locais geograficamente incompatíveis — o carro verdadeiro estando em Recife (PE) e o usado pelo cabo em Paulínia, interior paulista.

    O verdadeiro dono do veículo, residente em Pernambuco, confirmou que jamais esteve em São Paulo, além de relatar multas não reconhecidas em seu nome, reforçando a tese de clonagem. Adicionalmente, Casemiro tentou obstruir uma investigação de acidente de trânsito ao fornecer dados falsos do veículo que conduzia, divergindo da descrição da vítima.

    A atuação de “Bigodeira” ia além do uso de veículos clonados, como pontua a investiação da Polícia Civil, a qual identificou sua participação na logística de crimes violentos, como a tentativa de homicídio contra uma mulher de 31 anos.

    Minutos após o crime, o cabo Casemiro foi flagrado por uma câmera conduzindo um carro dublê, com o qual adentrou no condomínio onde Bicho tem um imóvel. Como mostra a investigação, a estratégia da milícia, após homicídios, era o abandono do veículo utilizado na ação e a fuga dos executores em outro automóvel, conduzido por um terceiro.

    Ajudando traficante de drogas

    As conversas extraídas do celular de Carlos Alexandre dos Santos revelaram que Casemiro recebia propina de um traficante conhecido como Machado dos Prédios.

    Essa vantagem indevida era uma contrapartida pela omissão das funções do policial e um provável favorecimento às atividades ilícitas de Machado, o qual também pagava propina a outros membros da milícia como Bicho. Tal prática, evidenciada na investigação, demonstra o suposto conluio entre agentes públicos e o braço do CV em São Paulo para assegurar a continuidade do tráfico de drogas, sem interferência policial.

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    Além da propina, a investigação também identificou uma transferência bancária direta de Bicho para Bigodeira, configurando uma “relação econômica suspeita” entre ambos. Os valores não são especificados no documento obtido pelo Metrópoles, no qual destaca-se que as transações contribuíram para justificar o pedido de afastamento do sigilo bancário do cabo Casemiro — com o intuito de rastrear e identificar outros envolvidos na rede criminosa.

    Diante das provas colhidas pela Polícai Civil, Bigodeira foi indiciado e preso por associação criminosa, adulteração de sinais identificadores de veículo, falsidade ideológica, prevaricação, e possível participação em crimes violentos, incluindo homicídio tentado e apoio logístico a execuções.

    A gravidade dos crimes a ele atribuidos resultou no pedido de expedição de mandados de prisão temporária, busca e apreensão, além da quebra do sigilo bancário.