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    Câmara e Senado entram em guerra fria que fragiliza Motta

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    O Congresso vive uma guerra fria, e há consenso de que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), saiu fragilizado na medição de forças com o Senado. A liderança do parlamentar passou a ser questionada por parte dos deputados, que, pelos corredores, alardeiam, mesmo de maneira reconhecidamente precoce, o risco de não apoiarem a reeleição do atual chefe.

    Na PEC da Blindagem, que dificulta investigações e processos contra congressistas, a Câmara iniciou a discussão numa espécie de consórcio entre bolsonarismo e Centrão. O Senado, porém, enterrou o texto com alarde na última quarta (24/9), deixando deputados sozinhos com a pauta considerada tóxica. No mesmo dia, senadores aprovaram um projeto alternativo à isenção do Imposto de Renda, acusando os colegas de morosidade com propostas que de fato beneficiam a população.

    Na guerra fria, há promessas de reação. Uma ala dos deputados ameaça fazer alarde com relação ao sigilo imposto pelo Senado sobre o registro de entrada e imagens de circulação de Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”. O advogado é um dos suspeitos de articular o esquema de desvios no Instituto Nacional do Seguro Social. Dizem que, se os senadores são tão moralistas assim, deveriam liberar as imagens.

    4 imagensDavi Alcolumbre e Hugo MottaDavi Alcolumbre e Hugo MottaHugo Motta, Lula e David Alcolumbre no PlanaltoFechar modal.1 de 4

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    Davi Alcolumbre e Hugo Motta

    Vinícius Schmidt/Metrópoles @vinicius.foto3 de 4

    Davi Alcolumbre e Hugo Motta

    KEBEC NOGUEIRA/METRÓPOLES @kebecfotografo4 de 4

    Hugo Motta, Lula e David Alcolumbre no Planalto

    VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto

    Os líderes mais insatisfeitos cobram uma correção de rumos após o que consideram um naufrágio da Câmara perante a opinião pública diante da PEC da Blindagem, e alertam que este foi apenas um erro de Motta na sua relação com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). A reclamação é que o presidente da Casa recorreu ao vizinho no Congresso quando precisava ouvir os próprios deputados, e enclausurou-se quando deveria ter afinado sua ação com o senador.

    Citam que Motta começou sua gestão muito alinhado com Alcolumbre, e isso o desconectou dos líderes da Câmara. Há reclamações de que ele procurou o presidente do Senado, ao invés dos próprios liderados, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vetou o aumento do número de deputados e venceu a disputa sobre o Congresso com relação ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

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    Nesse sentido, consideram que Motta bancou a PEC da Blindagem sozinho como recado de que não dependeria de Alcolumbre para tocar suas pautas, mas considera que o cálculo foi errado. O temor é que o mesmo ocorra com o PL da Dosimetria, outra pauta sem apelo popular que não tem garantias de prosperar caso chegue no Senado.

    E os senadores ouvidos pelo Metrópoles estão confiantes que a Câmara não tem o mesmo poder de organização para qualquer revide. Sinal disso é que os deputados, que antes vinculavam a aprovação da isenção do IR à votação da dosimetria, já aceitam votar o alívio tributário sem o benefício aos condenados por tentativa de golpe.

    Ainda de acordo com os líderes, a atual guerra fria difere da tensa relação entre Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Na avaliação dos congressistas, os respectivos ex-presidentes da Câmara e do Senado viviam uma disputa por poder, como os embates sobre o rito das Medidas Provisórias e a partilha das emendas parlamentares, mas nunca deixaram o clima de guerra fria se instaurar de fato.

    Deputados se dizem traídos e derrotados pela postura dos senadores diante da PEC da Blindagem. Entendem que Alcolumbre não deu o comando, mas deixou correr a campanha dos pares, que acusaram a Câmara de irresponsabilidade ao promover tamanho privilégio.

    Planalto quer distância

    O governo assiste o duelo de camarote, pois considera que suas pautas prioritárias estão protegidas. Mais que isso, avalia que as armas à disposição de Motta para dar uma resposta podem ser benéficas para o presidente Lula.

    A principal é a isenção do Imposto de Renda. Motta anunciou na última terça-feira (23/9) que a proposta seria votada na próxima quarta-feira (1/10), e tem indicado que não há chances de adiamento.

    A avaliação no Congresso é que foi uma resposta ao fato de o Senado ter marcado a votação de um projeto semelhante na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), e também uma forma de redimir a Casa diante da pressão popular.