No dia 19 de setembro de 2024, o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes acordou e ficou enfurecido. Pela segunda vez, o Metrópoles publicou uma reportagem a respeito de sua atuação como lobista de associações da farra dos descontos indevidos sobre aposentados pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
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Ele desceu escoltado de uma viatura da PF e foi levado diretamente para o setor de custódia
BRENO ESAKI/METRÓPOLES @BrenoEsakiFoto2 de 3
Lobista Antonio Antunes, o Careca do INSS
Reprodução/TV Senado3 de 3
Carros de luxo apreendidos com o Careca do INSS
Polícia Federal
As matérias mostravam carrões, uma mansão e procurações de laranjas para que ele atuasse junto ao órgão em nome de entidades suspeitas. Naquele dia, uma delas revelava um pagamento de R$ 1 milhão para esta finalidade. Mas o ponto que lhe tirou a calma era outro. Ele não gostava, mesmo, de ser chamado de “Careca do INSS“.
A alcunha lhe fora atribuída a quem conhecia sua atuação de dentro das entidades. As pessoas lhe atribuíam o apelido por considerar que era tão próximo de dirigentes do órgão que tinha sido até servidor dele — o que não era verdade.
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Motivo de orgulho nos bastidores, a alcunha era indesejada no noticiário. Tratou de fazer um périplo por Brasília em busca de advogados criminalistas dispostos a processar quem evocasse o “careca” no noticiário. Em reuniões, espalhou até uma notícia de jornal, que considerava ser um precedente a seu favor no Judiciário.
O problema é que a decisão usada como trunfo pelo lobista não era brasileira. Era de um Tribunal do Trabalho Inglês. Ele mostrou a advogados uma notícia segundo a qual juízes britânicos haviam decidido que um empregador deveria ser condenado por chamar um funcionário de “careca babaca”.
Os magistrados consideraram que a ofensa configurava também assédio sexual. Compararam o caso a outro sobre uma mulher alvo de comentários de um gerente da empresa para a qual trabalhava em razão do tamanho de seus seios.
Quem leu o texto respondeu que não parecia fácil usar o precedente inglês nas cortes brasileiras. A estratégia de processar mencionando a alcunha como ofensa não deu certo. Recentemente, Antunes moveu uma ação nesses termos contra um jornalista e perdeu.
E o apelido pegou, não só para o público e jornalistas. A Polícia Federal (PF) também passou a chamar Antonio Carlos Camilo Antunes de “Careca do INSS”, ao investigá-lo pelo pagamento de propinas a ex-diretores do INSS, em nome das entidades.
De boné, ele foi preso nesta sexta-feira (12/9) em uma investigação sobre suposto embaraço às investigações da Operação Sem Desconto, que investiga a farra dos descontos indevidos sobre aposentados pelo INSS.