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Caso Ruy Ferraz: delegada deixou cargo no litoral após sofrer ameaças

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Caso Ruy Ferraz: delegada deixou cargo no litoral após sofrer ameaças

Cerca de cinco meses antes do ex-delegado-geral da Polícia Civil paulista Ruy Ferraz Fontes ser executado em um atentado, em Praia Grande, no litoral de São Paulo, enquanto ocupava o cargo de secretário da Administração do município, a delegada Raquel Gallinati pediu exoneração da Secretaria da Segurança Pública de Santos, também na Baixada Santista. Ela deixou o cargo após receber ameaças de morte.

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Delegada Raquel Gallinati em exercício

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Delegada Raquel Gallinati em exercício

Material cedido ao Metrópoles

Ex-delegado morto

Exposição de rotina e ameaças levaram a pedido de demissão

Gallinati, que atualmente é diretora da Associação dos Delegados de Polícia (Adepol) do Brasil, assumiu a pasta da Segurança Pública de Santos em junho do ano passado e ficou 11 meses à frente do cargo.

Enquanto delegada da Polícia Civil, ela já foi ameaçada de morte. Um stalker chegou a encaminhar mais de três mil mensagens, a ameaçando de estupro, homicídio e esquartejamento.

As intimidações não cessaram quando a agente assumiu a função na prefeitura. Em setembro do último ano, a delegada foi ameaçada especificamente sobre seu trabalho enquanto secretária.

“As ameaças foram no sentido real e institucional, relacionadas à minha atuação como secretária de Segurança Pública na cidade”, disse ao Metrópoles.

A segurança de Gallinati ficou ainda mais vulnerável quando um vereador de Santos divulgou, nas redes sociais, dados sigilosos que revelavam os trajetos feitos pela então secretária, e até mesmo o endereço residencial dela.

O parlamentar usou de um sistema exclusivo da Polícia Militar (PM) para monitorar Gallinati por um período de — pelo menos — seis meses. “É como se ele me colocasse nua em rede social”, afirmou.

As publicações foram feitas em abril deste ano. No mês seguinte, ela pediu exoneração do cargo na prefeitura por medo de permanecer em Santos, reforçando a gravidade das intimidações que recebeu meses antes.

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Sensação de insegurança

Segundo Gallinati, a administração municipal forneceu aparato o suficiente para que ela andasse com escolta, mas a prefeitura não possuía, por exemplo, um carro blindado, o que a delegada adquiriu por conta própria. “Dentro das estruturas disponíveis, do que estava disponível pela prefeitura, eu bolei a minha estratégia de segurança”, explicou.

Apesar disso, os dispositivos não se mostraram suficientes para que ela permanecesse no cargo executivo em segurança, principalmente após a divulgação dos dados sigilosos — o que aumentou os riscos sobre sua rotina.

“[A divulgação] colocou em risco não só os guardas civis municipais [que fazem minha escolta], mas as pessoas que estão no meu entorno, os servidores municipais da prefeitura, os meus amigos, os meus familiares. Todo mundo fica em risco quando tem essa exposição”, destacou.

Autoridades na mira do crime

Assim como a delegada ocupou um cargo executivo em um município da Baixada Santista, Ruy Ferraz era secretário da Administração quando foi executado. Dias antes de ser morto, ele chegou a comentar, em uma entrevista à imprensa, que estava “sozinho no meio deles”, se referindo à forte presença do crime organizado no local.

O ex-delegado, licenciado da Polícia Civil, não possuía escolta ou qualquer outro tipo de segurança. Segundo o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), a autoridade que deseja proteção policial deve formalizar um pedido ao estado – o que não teria sido feito no caso de Ruy.

Conforme Tarcísio, a execução de Ruy Ferraz despertou uma reflexão sobre a necessidade de proteger autoridades policiais, judiciárias e políticas envolvidas com o combate ao crime organizado.

“Não existe isso hoje no nosso regramento, não existe isso na nossa legislação, mas é algo que a gente tem que parar pra pensar. Autoridades, pessoas que se dedicam ao combate ao crime organizado… Depois elas saem [do cargo], mas a memória do crime fica. Então, a gente tem que proteger essas pessoas”, afirmou.

Para Gallinati, “preservar a segurança daquele que integra a segurança pública não é um favor”, mas deveria ser “um dever do estado”.

“Não se pode aceitar que uma parcela dos policiais tenha como efeito colateral da sua carreira a morte. É como se a gente tivesse um contato tácito com a morte quando a gente veste um distintivo ou uma farda”, disse a delegada.

Segundo ela, os ataques à autoridades policiais são uma “demonstração de força” por parte de criminosos. “Com a criminalidade cada vez mais violenta, o policial é um alvo altamente estratégico para o crime. Então os ataques são justamente para impedir a execução da função do policial”, destacou.

Para além das forças policiais, outros agentes que combatem o crime organizado carregam um alvo nas costas, como o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que também é jurado de morte pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Em entrevista ao programa Acorda, Metrópoles, na última quarta-feira (17/9), ele afirmou que cogita pedir asilo político quando se aposentar.

Apesar de todos os riscos, Gallinati, que está à frente da Adepol e atua ainda como vice-presidente da da Federação Nacional dos Delegados de Polícia (Fendepol), disse que não anda com medo.

Com carro blindado e armada 24 horas por dia, Gallinati afirma que não consegue andar nas ruas sem estar atenta à sua volta. “Não ando com medo, mas ando sempre alerta, sempre na angústia do alerta, não tenho a possibilidade de andar relaxada”, afirmou a delegada.

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