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    CPMI do INSS quer “superpoderes” contra “fujões” de depoimentos

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    A série de habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que estabeleceu o direito a depoentes ficarem calados ou até mesmo não comparecerem às sessões da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS gerou uma reação da cúpula do colegiado. Os parlamentares votam nesta quinta-feira (25/9) uma minuta de projeto de lei que confere à comissão “superpoderes”, o que inclui aplicação de multa e até mesmo condução coercitiva para que a pessoa preste depoimento a qualquer comissão parlamentar de inquérito.

    A minuta, caso seja aprovada, não terá efeito imediato. Isso significa que ela vai se tornar um projeto de lei e seguirá o rito de tramitação de matérias no Congresso Nacional. A proposição é uma resposta da CPMI do INSS a ministros do STF que tem concedido habeas corpus a testemunhas e investigados, desobrigando essas pessoas a comparecerem às oitivas do colegiado. Em vários casos, os depoentes ganharam o benefício de ficarem calados diante de perguntas que podem lhe incriminar.

    Com isso, algumas ausências e silêncios frustraram parlamentares. O caso mais emblemático, até o momento, é do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, que comunicou que não compareceria à CPMI em 15 de setembro, após uma decisão monocrática do ministro do STF André Mendonça, que repercutiu mal entre os parlamentares. Uma nova sessão está marcada para ouvi-lo nesta quinta-feira (25/9).

    6 imagensAdvogado Nelson Wilians prestou  depoimento na CPMI do INSS e obteve habeas corpus do STF para ficar caladoApontado como "homem da mala" do Careca do INSS, Rubens Oliveira, prestou depoimento à CPMI do INSS nesta semana e também teve habeas corpus do STF para ficar calado Empresário Milton Salvador de Almeida Junior, da Prospect Consultoria Empresarial, foi elogiado por integrantes da CPMI do INSS por não acionar o STF e prestar depoimento de boa-féAntônio Carlos Camilo Viana e CPMI do INSSLobista Antonio Antunes, o Careca do INSSFechar modal.1 de 6

    Antonio Antunes, o Careca do INSS, sentado em uma poltrona de uma aeronave

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    Advogado Nelson Wilians prestou depoimento na CPMI do INSS e obteve habeas corpus do STF para ficar calado

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    Apontado como “homem da mala” do Careca do INSS, Rubens Oliveira, prestou depoimento à CPMI do INSS nesta semana e também teve habeas corpus do STF para ficar calado

    VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto4 de 6

    Empresário Milton Salvador de Almeida Junior, da Prospect Consultoria Empresarial, foi elogiado por integrantes da CPMI do INSS por não acionar o STF e prestar depoimento de boa-fé

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    Antônio Carlos Camilo Viana e CPMI do INSS

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    Lobista Antonio Antunes, o Careca do INSS

    Reprodução/TV Senado

    Na minuta do projeto de lei, o presidente da CPMI do INSS, senador Carlos Viana (Podemos-MG), obriga o comparecimento de investigados e de testemunhas à CPMI. Também defende que apenas uma decisão do colegiado do STF, e não de um só ministro, poderia desobrigar o comparecimento. Os presidentes de comissões passariam a poder, inclusive, questioná-las na Justiça:

    “Ao prever que somente decisão de órgão colegiado do STF poderá desobrigar o comparecimento, o projeto busca equilibrar a necessidade de preservar os direitos fundamentais dos convocados, evitando abusos e garantir que as CPIs tenham condições de cumprir sua missão constitucional de investigar, fiscalizar e propor medidas de responsabilização, além de reequilibrar o sistema de freios e contrapesos e endossar a independência e harmonia que devem nortear as relações entre os Poderes da União”, escreveu Viana.

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    O presidente da CPMI sustentou, ainda, que habeas corpus podem “esvaziar o poder de investigação” de uma comissão. Além disso, disse que o direito ao silêncio dos investigados segue mantido, mas apenas em casos de perguntas que podem levar à autoincriminação:

    “O investigado, convocado para depor perante CPI, pode permanecer em silêncio, evitando a autoincriminação, além de lhe ser assegurado o direito de ser assistido por advogado e de comunicar-se com este durante a sua inquirição. Entretanto, não é razoável que tais comissões sejam ignoradas, sem qualquer fundamento, por investigados ou testemunhas que tenham receio de ser investigadas após o avanço das investigações”, ponderou o senador que comanda os trabalhos relativos à fraude bilionária no INSS.

    Viana também quer que a CPMI possa solicitar amparo policial para buscar os “faltosos”. Atualmente, a lei estabelece que a medida só é possível depois de ser analisada e aprovada por um juiz criminal.

    “Se, regularmente intimado, o depoente deixar de comparecer sem justo motivo, a Comissão Parlamentar de Inquérito poderá requisitar diretamente à autoridade policial ou ao órgão de polícia legislativa sua condução coercitiva”, diz o projeto de lei.

    Também caberá à CPMI definir quem depõe como investigado e como testemunha. A falta pode ensejar multa de 1 a 10 salários-mínimos, que pode ser multiplicada em até 10 vezes a depender do poderio econômico do depoente.

    Farra do INSS

    O escândalo do INSS foi revelado pelo Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de dezembro de 2023. Três meses depois, o portal mostrou que a arrecadação das entidades com descontos de mensalidade de aposentados havia disparado, chegando a R$ 2 bilhões em um ano, enquanto as associações respondiam a milhares de processos por fraude nas filiações de segurados.

    As reportagens do Metrópoles levaram à abertura de inquérito pela PF e abasteceram as apurações da Controladoria-Geral da União (CGU). Ao todo, 38 matérias do portal foram listadas pela corporação na representação que deu origem à Operação Sem Desconto, deflagrada no dia 23 de abril e que culminou nas demissões do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi.