Os bares, com palcos abertos e programações musicais diárias, sempre foram uma porta de entrada para que artistas pudessem mostrar talento e progredir na carreira. Agora, os sertanejos transformaram a experiência tradicional e trouxeram uma nova forma de engajar e ascender musicalmente.
Para além dos shows nos palcos, os cantores sertanejos resolveram apostar em pequenas e informais apresentações em mesas comuns dos bares, com o objetivo de atrair um novo público e até mesmo viralizar nas redes sociais, como conta a artista Bruna Lipiani.
“É uma surpresa. Eu não combino e nem recebo nada do dono do bar. Chego, peço autorização para o responsável presente e canto. Costumo fazer um circuito de bares no dia da gravação e faço os vídeos bem rápido. Depois, dou uma canja para os presentes”, explica.
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Com dois milhões de seguidores no Instagram, a cantora produz conteúdo musical para a internet há 10 anos, mas viu o sucesso chegar com os vídeos virais cantando em bares de Belo Horizonte (MG).
“Foi a coisa mais importante e fundamental da minha carreira. Eu me dedicava e fazia vários tipos de conteúdos mais tradicionais cantando na internet, mas nada tinha rendido da mesma forma que esses pequenos vídeos. Tenho mais de 100 milhões de visualizações em conteúdos assim. Transformou a minha vida em poucos meses.”
Fim dos show raiz nos bares?
A tendência se tornou um meio de conquistar o público tanto presencialmente quanto digitalmente e está sendo explorada por diversos artistas. Os sertanejos Felipe Santana (vídeo) e Edu Strada (vídeo) também publicam conteúdos cantando em bares e costumam receber elogios dos presentes no estabelecimento e dos internautas nas redes sociais.
Felipe Santana cantando em um bar
Reprodução/Instagram
Bruna Lipiani cantando em um bar
Reprodução/Instagram
Sertanejo Edu Strada cantando em um bar
Reprodução/Instagram
A empresária e especialista em marketing musical Giovanna Sernaglia analisa o movimento como positivo para os artistas e destaca a importância do conteúdo ser real, mesmo que planejado previamente.
“O artista cria um momento real, inesperado e emocionante, que faz as pessoas registrarem e compartilharem aquele momento especial de prontidão. É autêntico, gera conexão e acaba se espalhando nas redes de forma muito mais orgânica do que uma divulgação tradicional. Hoje em dia quanto mais real for o conteúdo, maior a chance dele viralizar. Além do baixo custo, com um rendimento de alcance muito grande”, pontua.
Apesar disso, Giovanna acredita que ainda existem espaços para que os sertanejos promovam a carreira em locais mais tradicionais, com um show raiz no palco aberto.
“Hoje temos diversos talentos procurando espaço, o que dificulta a expansão de um artista local e faz com que eles busquem destaque digital. Em contrapartida, nada substitui a rua. Ninguém para um artista abraçado pelo público. Então, no meu ponto de vista, rua e digital são dependentes, e se destaca quem sabe trabalhar os dois”, destaca.
Em alguns estados em que a música sertaneja tem maior destaque, existem festivais que impulsionam os shows em bares e restaurantes locais de forma gratuita.
Em Goiânia (GO), a Capital do Sertanejo, o Festival Rota Sertaneja leva, de setembro a novembro, shows sertanejos para os estabelecimentos com o apoio da prefeitura, cultuando os palcos tradicionais, como destaca o presidente do Sindibares, Newton Pereira.
“Daqui saíram ícones da música sertaneja e não tenho dúvidas de que os bares e restaurantes foram um cenário propício para que eles iniciassem as suas carreiras cantando nos palcos de inúmeros desses locais pela cidade”, afirma.