A Polícia Federal (PF) prendeu, na manhã desta sexta-feira (12/9), em São Paulo, o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS. Ele é suspeito de envolvimento no escândalo revelado pelo Metrópoles e que ficou conhecido como a Farra do INSS, em que um esquema envolvendo diversas entidades associativas fazia descontos indevidos em benefícios de aposentados.
Ele seria ouvido pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) na próxima segunda-feira (15/9). Além de representar entidades, o lobista é dono de call centers que prestam serviços na captação de associados das entidades da farra dos descontos indevidos sobre aposentados e, por força de contrato, ganhava 27,5% sobre cada desconto sobre novos filiados.
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Antunes é suspeito de corromper ex-diretores e o ex-procurador-geral do INSS com pagamentos a empresas e até mesmo transferência de carrões de luxo a parentes deles. A Polícia Federal também investiga suposta lavagem de dinheiro em movimentações milionárias do lobista no Brasil e no exterior. Sua atuação foi revelada pelo Metrópoles. Hoje, ele é visto como o principal operador do esquema, com procuração de pelo menos oito entidades para atuar em seus nomes.
Para que pudessem efetuar os descontos diretamente na folha de seus filiados, as associações precisavam obter acordos de cooperação técnica com o INSS. Esses documentos eram assinados pelos diretores de Benefícios do órgão. É aí que entrava o poder de influência do careca: ele garantia a assinatura e a manutenção dos acordos caso começassem a ser questionados em auditorias do Instituto.
Somente a Polícia Federal identificou que o lobista recebeu R$ 30 milhões de associações ligadas à farra do INSS. Entre elas, estão a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), o Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap) e União Nacional dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (Unsbras ou Unabrasil), que, juntas, faturaram R$ 852 milhões em descontos sobre aposentadorias.
Essas três entidades têm em suas diretorias funcionários e parentes do empresário Maurício Camisotti, apontado como controlador delas e dono de empresas de seguros e planos de saúde que receberam milhões de reais das associações. Nas quebras de sigilo bancário, consta que a Ambec transferiu R$ 11,9 milhões ao Careca do INSS. A Cebap enviou R$ 12,6 milhões.
Nos autos da Operação Sem Desconto, não constam pagamentos à Unsbras, mas o lobista também recebeu procuração da associação, como mostram documentos do processo que levou o INSS a a firmar acordo com a associação. Outras duas associações ligadas a Camisotti, a Onap e a Urap, que não chegaram a firmar acordo com o INSS, também deram procuração a Antunes.
A Confederação Nacional da Pesca e Aquicultura (CBPA), que faturou R$ 123 milhoes com descontos, também deu procuração a Antunes. A associação é comandada por um ex-dirigente do Republicanos. Segundo a PF, pagou R$ 4,6 milhões a Antunes. Foi em um evento da associação com a presença do ex-presidente do INSS Guilherme Serrano, que a entidade decidiu firmar o acordo com o INSS. Ele, depois, seria signatário do acordo da associação com o INSS, segundo a PF.
Dono de 15 empresas
Ex-superintendente de marketing de uma gigante do ramo de planos de saúde, Antônio Carlos Camilo Antunes, 60 anos, tem procurações para atuar em nome de entidades que cobram mensalidades associativas de aposentados e ganha dinheiro por meio de contratos de “consultoria” e até de serviços relacionados a redes sociais.
Ao público em geral, ele se apresenta como “representante” da indústria farmacêutica nos mercados de “saúde complementar e público” e afirma ter ficado dois anos à frente de um laboratório que fornecia medicamentos ao Ministério da Saúde.
Hoje, Antunes atua mesmo com suas empresas. São 15 ao todo, entre firmas de consultoria, construtoras e incorporadoras. Ainda há empresas em nome de parentes das quais ele também tem participação. É por meio de consultoria que ele presta serviços a entidades que querem ou mantém acordos com o INSS para efetuar descontos sobre aposentados, boa parte deles questionados na Justiça por terem sido feitos sem o consentimento do segurado.