Um vídeo publicado pela atletas olímpicas e influenciadoras Bia e Branca Feres viralizou nas redes sociais ao sugerir, por meio de uma teoria, que é possível escolher o sexo do bebê apenas controlando o dia da relação sexual em relação à ovulação. Na legenda da publicação, as gêmeas afirmaram com entusiasmo: “E foi assim que escolhemos o meninão da Branca. Não é maluquice não hahahah isso funciona!” Assista ao vídeo.
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A teoria por trás da fala vem sendo propagada desde os anos 1960 e ficou conhecida como “método Shettles”. Mas segundo as médicas ouvidas pelo Metrópoles, a ideia não tem comprovação cientifica e pode acabar gerando expectativas irreais em casais que sonham com um sexo específico para seus filhos.
A origem da teoria: o que diz o método Shettles?
Segundo as especialistas, o chamado método Shettles propõe que haveria diferenças significativas entre os espermatozoides que carregam o cromossomo X (que originaria uma menina) e os que carregam o cromossomo Y (associado a um menino). A teoria é baseada em três premissas:
- Espermatozoides Y: mais rápidos, mas menos resistentes;
- Espermatozoides X: mais lentos, mas mais resistentes;
- Relação no dia exato da ovulação aumentaria as chances de menino;
- Relação alguns dias antes da ovulação aumentaria as chances de menina.
Apesar de parecer lógico, esse raciocínio não se sustenta diante do conhecimento atual sobre fertilidade e reprodução humana.
Teoria negada por especialistas: o dia da ovulação não define o sexo do bebê
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O que diz a ciência?
Para a ginecologista Laís de Albuquerque, do Instituto Evollution, em São Paulo, a ideia de controlar o sexo do bebê com base no ciclo menstrual é mais um mito alimentado pelo desejo humano de controlar o futuro.
“Desde sempre tentamos planejar a vida e imaginar como será a nossa família. Não é surpresa que um vídeo no Instagram prometa uma solução simples. Mas a biologia é mais complexa que isso”, afirma a médica.
Laís explica que fecundação ocorre em um curto intervalo de tempo após a ovulação. Enquanto o óvulo tem viabilidade de apenas 12 a 24 horas, os espermatozoides podem sobreviver até cinco dias dentro do corpo feminino. Ou seja, o espermatozoide que fecunda o óvulo pode ter sido depositado dias antes da ovulação, o que dificulta qualquer tentativa de “programação” precisa.
“Mesmo que existam pequenas diferenças entre os espermatozoides X e Y, estudo clínicos sérios mostram que a proporção de meninos e meninas continua próxima de 50/50, independentemente do timing da relação”, afirma Albuquerque.
A ginecologista Tatianna Ribeiro, da clínica Rehgio, reforça que, embora o método tenha ganhado força décadas atrás, pesquisas mais recentes e controladas não conseguiram confirmar nenhuma eficácia.
“É verdade que espermatozoide X tem um pouco mais de DNA, porque o cromossomo é maior. Isso levou à ideia de que ele seria mais lento e resistente, enquanto o Y seria mais rápido e frágil. Mas nenhum experimento — nem in vitro, nem in vivo — conseguiu comprovar que isso influencia na determinação do sexo”, afirma.
Reprodução assistida: o único caminho eficaz
A ginecologista e obstetra Helga Marquesini, do Hospital Sírio-Libanês, é categórica: a única maneira cientificamente eficaz para escolher o sexo do bebê é por meio da reprodução assistida, como no caso do diagnóstico genético pré-implantacional (PGD), usado em clínicas de fertilidade.
“Mesmo nesses casos, a escolha só é indicada em situações médicas específicas, como prevenção de doenças ligadas ao sexo da criança. Não é uma técnica liberada para preferências pessoais”, explica.
Por que desmentir é importante?
Segundo as médicas ginecologistas, além de ser cientificamente infundada, a crença de que é possível escolher o sexo naturalmente pode ter consequências emocionais negativas para os pais, como frustação, sentimento de culpa ou expectativas irreais em relação ao bebê.
“Mais importante do que tentar escolher o sexo, é preparar o coração e a família para receber o bebê que vier”, afirma Laís Albuquerque.
O desejo de planejar todos os detalhes da chegada de um filho é compreensível. Mas quando se trata de biologia, nem tudo está sob nosso controle. O vídeo de Bia e Branca Feres reacende uma teoria antiga, mas que não tem respaldo na ciência moderna. Escolher o sexo do bebê pelo dia da ovulação continua sendo, até hoje, apenas um mito e não um método.