O dólar desabou nesta sexta-feira, registrando recuo de 0,71% frente ao real, cotado a R$ 5,35, o menor valor desde o início de junho de 2024 – há 15 meses, portanto. Já o Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira (B3), fechou em queda de 0,61%, aos 142.271, afastando-se do recorde de 143.150 pontos, obtido na véspera.
Na avaliação da economista Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, o dólar está numa tendência de queda global. E o recuo da moeda americana tem sido puxado pela convicção de que os juros vão começarão a cair nos Estados Unidos, a partir da próxima quarta-feira (17/10), quando ocorre a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
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Desde meados de agosto, a discussão entre analistas já não é se os juros serão reduzidos nos EUA. Mas, sim, quanto e quantas vezes a taxa atual, fixada no intervalo entre 4,25% e 4,50%, será abatida ainda neste ano. Paula Zogbi observa que tal certeza é resultado do acúmulo de dados que corroboram o enfraquecimento da economia americana.
Na quinta-feira (11/9), por exemplo, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que os pedidos iniciais de seguro-desemprego somaram 263 mil na semana encerrada no dia 6 de setembro. Esse foi o maior número de solicitações desde 23 de outubro de 2021. “Além disso, houve deflação nos preços ao produtor e o dado de inflação ao consumidor mostrou alta, mas dentro da expectativa do mercado”, diz a economista.
Barbada
Por isso, as apostas na redução dos juros americanos viraram barbada. Segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group (dados das 16h50), 94,4% do mercado – ou seja, trata-se de uma unanimidade – acredita em um corte de 0,25 ponto percentual (p.p.) dos juros na próxima quarta-feira. Outros 5,6% creem numa queda maior, de 0,50 p.p.. Depois disso, viriam mais duas reduções, uma em outubro e outra em dezembro, nos encontros seguintes do Fomc.
Diferencial de juros
Com a previsão de queda da taxa nos EUA, o diferencial de juros entre o Brasil e os EUA tende a aumentar ainda mais. Isso favorece a atração de dólar para o mercado brasileiro, com investidores em busca de rendimentos mais atrativos. Além disso, nesta sexta-feira, o Banco Central do Brasil (BC) realizou dois leilões de linha simultâneos, com oferta total de US$ 1 bilhão ao mercado.
Represália de Trump
O Ibovespa, contudo, não refletiu a empolgação do mercado de câmbio. Para Zogby, os investidores podem ter desmontado suas posições em ações brasileiros antes do fim de semana. Isso porque estão de olho em possíveis retaliações dos EUA contra o Brasil, depois da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, no julgamento realizado no Supremo Tribunal Federal (STF).
Na primeira reação ao julgamento de Bolsonaro, o presidente dos EUA, Donald Trump, classificou a condenação como “terrível” e “muito ruim” para o Brasil. Aliados do ex-presidente, falam em novas sanções contra integrantes do STF, como a aplicação da Lei Magnitsky, que já atingiu o ministro Alexandre de Moraes.
Ainda de acordo com essas especulações, poderia haver uma revisão de algumas das exceções dadas pelo governo americano à tarifa de 50%, imposta contra produtos brasileiros exportados para os EUA.