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    Dólar sobe e Bolsa cai com temor de menor queda dos juros nos EUA

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    Os mercados de câmbio e ações operaram sob tensão nesta quinta-feira (25/9) no Brasil. Esse estresse teve como principal fonte dados que mostraram um aquecimento da economia americana maior do que o esperado. Com isso, o dólar registrou alta de 0,69% frente ao real, cotado a R$ 5,36%. Já o Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira (B3), fechou em queda de 0,81%, aos 145.306 pontos.

    O principal vetor desses desempenhos foi definido pela divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos. O Escritório de Análise Econômica do Departamento de Comércio americano informou nesta quinta-feira que o PIB do país avançou 3,8% no segundo trimestre, segundo uma revisão da taxa. O dado anterior apontava para uma elevação de 3,3%. O mercado não esperava um aumento da estimativa.

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    Os pedidos iniciais de auxílio-desemprego nos EUA também caíram em 14 mil, para 218 mil na semana encerrada em 20 de setembro. A informação também foi divulgadas nesta quinta-feira pelo Departamento do Trabalho americano.

    Em suma, tanto os dados sobre o PIB como a respeito do mercado de trabalho indicam uma atividade forte da economia. Para os analistas, esses sinais podem comprometer o ritmo de cortes de juros dos EUA, cujo ciclo foi iniciado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) há duas semanas, com a redução da taxa em 0,25 ponto percentual, passando para o intervalo entre 4,00% e 4,25% ao ano.

    Inflação “benigna”

    Já no cenário interno, os especialistas definiram como “benignos” os números do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado uma prévia da inflação oficial, apresentados pelo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O IPCA-15 subiu 0,48% em setembro, depois de retração de 0,14% em agosto.

    Embora tenha registrado alta, o número veio abaixo da expectativa do mercado, que projetava uma elevação de 0,52%. Os núcleos do indicador, que eliminam os preços mais voláteis do cálculo da inflação, também foram inferiores ao esperado. A projeção era de 0,24%, mas o resultado ficou em 0,19%.

    Alta global

    Na avaliação de André Valério, economista-sênior do Banco Inter, o real depreciou em linha com o movimento global do dólar, que foi de valorização da moeda americana. Ele observa que a taxa de câmbio iniciou a sessão em queda depois da divulgação de um IPCA-15 “mais benigno do que o esperado”.

    “Entretanto, esse movimento foi totalmente revertido depois da divulgação de dados da economia americana, com desempenho melhor que o previsto”, diz. “O PIB do 2º trimestre foi atualizado com crescimento saltando de 3,3% para 3,8%. Além disso, os dados da balança comercial americana e dos pedidos de seguro-desemprego também vieram melhores do que as previsões iniciais.”

    Cortes comprometidos

    Valério observa que esses dados “contradizem a expectativa de que o Fed possa entregar os cortes na taxa de juros como se espera”. “Eles sugerem que a economia americana talvez esteja em melhores condições”, afirma. “Consequentemente, vimos as taxas de juros da ponta longa avançarem na sessão de hoje, o que levou a um movimento de apreciação global do dólar, com o real depreciando ao lado de seus pares emergentes.”

    O economista estima que o Fed não deve “entregar todos os cortes de juros que planeja” (a expectativa do mercado é que ocorressem mais dois deles, em outubro e dezembro), voltando a reduzir juros apenas na reunião de dezembro”. “Não há sinais claros de desaceleração da economia e vemos como provável uma retomada na criação de empregos”, diz. “Nesse contexto, podemos ver o dólar recuperando parte das perdas das últimas semanas, pressionando moedas mundo afora.”

    Cautela do Fed

    Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, também aponta que o dólar manteve trajetória firme de alta nesta quinta-feira, impulsionado pela combinação de indicadores americanos mais fortes, mas também por sinais de cautela dados por integrantes do Federal Reserve.

    “A leitura final do PIB reforçou a ideia de que a economia dos Estados Unidos segue resiliente, reduzindo as apostas em cortes adicionais de juros no curto prazo”, diz. “Além disso, o tom moderado, porém vigilante, em declarações dos dirigentes Austan Goolsbee e Jeffrey Schmid, do Fed, reforçou a visão de que a política monetária atual permanece adequada, enquanto vozes mais inclinadas ao afrouxamento, como Stephen Miran e Michelle Bowman, encontraram menos eco no mercado.”

    Shahini destaca que a percepção de que o Fed deve manter os juros em patamar elevado sustentou os rendimentos dos Treasuries (os títulos da dívida dos EUA), com as taxas de 2, 10 e 30 anos em alta, e provocou queda nos principais índices de Wall Street. “No câmbio, o fortalecimento global do dólar foi evidente: o índice DXY subiu, a moeda americana ganhou terreno sobre euro, libra e iene, e se valorizou frente ao franco suíço”, afirma.

    Aprovação de Lula

    Além desses fatores, os investidores também acompanharam no Brasil a divulgação de uma pesquisa Pulso Brasil/Ipespe, que mostrou um crescimento da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com o levantamento, a taxa de aprovação de Lula atingiu 50%. Com o avanço, o índice superou o nível de reprovação do governo federal, que ficou em 48%.