Postos de combustível sob o comando de integrantes de uma organização criminosa investigada pela Polícia Federal (PF) por lavagem de dinheiro tiveram um aumento de 66% no faturamento depois da entrada de nomes supostamente ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) nos quadros societários.
A afirmação é da PF em relatório da operação Tank, uma das três operações deflagradas na última quinta-feira (28/8) para combater a lavagem de dinheiro por grupos sub suspeita de ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Segundo a PF, uma rede de 28 postos de combustíveis no Paraná passou a ser contralada pelo empresário Rafael Gineste, seus sócios e familiares, a partir de 2021, quando houve o crescimento no faturamento.
A PF elenca informações na operação Tank no sentido de que Gineste possui relação com integrantes do PCC e que faria parte de um esquema maior de fraudes e lavagem de dinheiro em postos de combustíveis comandado pelos empresários Mohamad Mourad, o “primo”, e por Roberto Lemes, o “Beto Louco”.
Gineste e os postos de gasolina teriam relação também com Daniel Dias Lopes, apontado como ligado ao PCC.
Segundo a corporação, o faturamento dos postos sob o controle dos grupos investigados registrou um “aumento considerável”, descolando do faturamento de outros postos. O aumento, diz a PF, foi após a aproximação de Gineste com pessoas ligadas ao PCC, como Daniel Lopes, Beto Louco e Primo.
Com base na análise de créditos efetivos por posto, a PF identificou que o faturamento médio mensal dos estabelecimentos antes da incorporação pelo grupo investigado era de aproximadamente R$ 466 mil. Depois, o montante saltou para uma média de R$ 775 mil mensais.
“De modo a reforçar este cenário, no gráfico a seguir, onde se tem a evolução de faturamento dos postos no período examinado, é possível observar que até fevereiro de 2021 as médias mensais de faturamento eram relativamente próximas. Entretanto, após essa data, o faturamento dos postos sob o controle dos grupos investigados registrou um aumento considerável, descolando do faturamento do grupo de postos fora do controle do grupo”, afirma, em referência ao gráfico abaixo.
Depósitos fracionados
Embora o faturamento dos postos tenha sido um sinal de alerta para os investigadores, como mostrou a coluna, o ponto central das suspeitas da PF da relação entre o grupo investigado e o PCC foi a quantidade “colossal” de recebimento de depósitos fracionados em espécie que os postos passaram a registrar logo após serem adquiridos pelo grupo.
Segundo a PF, enquanto os postos fora do controle do grupo tiveram uma média mensal de depósitos no valor de R$ 95,6 mil por posto, aqueles sob controle dos investigados perfizeram o valor médio de R$ 276,3 mil -uma média 187% maior.
Operação Tank
A Operação Tank é uma das três operações deflagradas pelas autoridades na última quinta-feira (28/8). Duas delas foram realizadas pela PF, e outra, a Carbono Oculto, é do Ministério Público de São Paulo (MPSP). As três, no entanto, miram esquemas de lavagem de dinheiro e fraude em combustíveis e a ligação com o crime organizado.
Parte dos alvos da Operação Tank também foram investigados no âmbito da Carbono Oculto, do MPSP – a exemplo de Mohamad Hussein Mourad, empresário apontado como central nos esquemas apurados.
O grupo de Mohamad, segundo os investigadores, atua em toda a cadeia produtiva do setor de combustíveis, desde usinas sucroalcooleiras até distribuidoras, transportadoras, fabricação e refino, armazenagem, rede de postos de combustíveis e conveniências.
Essa capilaridade se deu, segundo as investigações, a partir da compra da formuladora Copape e da distribuidora Aster. Ele também se apresenta como dono da G8 Log, uma empresa de transportes, mas que, conforme a apuração, é uma empresa de fachada usada para “ocultar e blindar a frota de veículos e para a lavagem de capitais”.
A investigação também mostra que ele teria um “vasto patrimônio mobiliário e imobiliário ocultado em empresas de fachada, as denominadas shell companies, bem como em estruturas financeiras mais complexas, com os fundos de investimento”.
A tática dos depósitos fracionados era usada pelo grupo criminoso para lavar o dinheiro e despistar suas origens ilícitas. A investigação também cita, para isso, o uso de “laranjas”, transações cruzadas, repasses sem lastro fiscal e simulação de aquisição de bens e serviços.
Segundo a PF, a Operação Tank tem como foco o desmantelamento de uma das maiores redes de lavagem de dinheiro já identificadas no estado do Paraná.
O grupo atuava desde 2019 e é suspeito de ter lavado ao menos R$ 600 milhões, movimentando cerca de R$ 23 bilhões por meio de centenas de empresas, incluindo postos de gasolina, instituições de pagamento, entre outras.
Defesas
Em nota, a defesa de Gineste disse que ele “sempre esteve à disposição das autoridades e seguirá contribuindo com todas as investigações, com a mesma transparência que pauta sua vida pessoal e profissional.”
Segundo o advogado Maurício Moscardi, o empresário é “reconhecido e respeitado” e jamais “se envolveu em adulterações de combustíveis ou qualquer atividade ilícita.”
“Vinculá-lo a práticas criminosas é precipitado e injusto”, diz a defesa.
O advogada também nega a relação de Gineste com o crime organizado e afirma que ele “nunca manteve qualquer vínculo com organizações criminosas, como o PCC ou qualquer outra facção.”
“Qualquer tentativa de associar seu nome a esse tipo de prática é falsa e sem qualquer base probatória”, diz o advogado.