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    Esquema que prendeu policial abasteceu máfia chinesa e clube de tiro

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    O esquema criminoso que resultou na terceira prisão do policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior, nesse domingo (14/9), abasteceu a máfia chinesa, que atua em São Paulo, com milhões de reais.

    Parte do montante foi direcionado a um clube de tiro, com o objetivo de lavar o dinheiro e adquirir armas de fogo e munições de forma ilegal, como o Metrópoles mostrou no início deste ano no especial Tentáculos da Máfia Chinesa.

    No especial, a reportagem também demonstrou que criminosos recrutavam laranjas para colher dados pessoais e, com as informações, abrir contas em nome de pessoas físicas em fintechs, como a Stone. Essas contas eram usadas em fraudes bancárias, como golpes via Pix. O esquema chegou a faturar R$ 4 milhões entre abril e junho de 2022.

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    O montante era lavado em contas jurídicas de fachada, geralmente associadas a lojas do Brás, na região central de São Paulo, que é reduto do arranjo criminoso. Além das lojas, a empresa Uzi Comércio de Armas e Clube de Tiro também foi usada para lavagem do dinheiro proveniente do esquema.

    No caso de Cyllas, a principal empresa usada para lavar dinheiro foi a RMD Administração Empresarial LTDA, que movimentou R$ 480 milhões em um ano e meio.

    Policial dono de fintech é preso pela 3ª vez

    • Policial civil, e fundador e CEO da fintech 2GO Bank, Cyllas foi preso temporariamente nesse domingo pela Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo.
    • Ele é suspeito de atuar em um esquema de golpes financeiros contra moradores do Jardim Pantanal, bairro na zona leste da capital que sofreu com fortes enchentes no início do ano.
    • Cyllas já era investigado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) e pela Polícia Federal (PF), e foi preso duas vezes antes do último domingo.
    • Em fevereiro, ele chegou a ser preso no âmbito de uma investigação que mira a atuação das fintechs 2GO Bank e Invbank, iniciada a partir da delação de Vinícius Gritzbach, jurado de morte pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) e executado a tiros de fuzil em novembro de 2024 no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.
    • Ele também já havia sido preso em 26 de novembro do ano passado, durante a Operação Tai-Pan, da PF, contra crimes financeiros que movimentaram R$ 6 bilhões nos últimos cinco anos.
    • O policial foi solto em janeiro após decisão da Justiça Federal, mas estava afastado das funções e responde a um procedimento na Corregedoria da Polícia Civil.

    Criminosos movimentavam milhões

    Segundo as investigações, o grupo criminoso – composto por brasileiros e chineses – movimentou milhões de reais através de um complexo esquema de lavagem de dinheiro, principalmente entre 2020 e 2023. Eles utilizavam as contas abertas no nome dos laranjas para aplicar fraudes eletrônicas, como falsas promessas de emprego.

    As vítimas eram incentivadas, geralmente por meio virtual, a fazer transferências Pix para as contas Stone, com a premissa de que ganhariam um trabalho remunerado após o pagamento. Somente entre abril e junho de 2022, a organização criminosa recebeu R$ 4 milhões dessa forma.

    O dinheiro era lavado por meio de empresas de fachada, que recebiam transferências das contas dos laranjas. Além disso, o grupo mantinha fábricas e depósitos de produtos falsificados, como perfumes e cosméticos, na região do Brás.

    Eles também utilizavam a empresa Uzi Comércio de Armas e Clube de Tiro para lavar dinheiro e adquirir armas de fogo e munições de forma ilegal, como o Metrópoles mostrou no início do ano na reportagem sobre a máfia chinesa.

    Na época, a reportagem apontou que golpes envolvendo o Pix e o uso de laranjas na região do Brás ligavam um arsenal de armas à máfia chinesa.