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    “Estou traumatizada”, diz mulher baleada durante ataque a ex-delegado

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    Samantha Gonçalves Carvalho (foto de destaque), baleada durante o ataque a tiros contra o ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes, ocorrido na noite de segunda-feira (15/9) em Praia Grande, no litoral paulista, diz estar traumatizada pelo episódio. A mulher, de 33 anos, foi atingida na perna, passou por uma cirurgia e teve alta nesta terça-feira (16/9). Um sobrinho de Samantha, de 20 anos, também foi baleado, e segue internado.

    A casa das vítimas fica a poucos metros de onde Ruy Ferraz começou a ser perseguido pelos criminosos. Os dois estavam em frente ao portão quando foram surpreendidos pelo som dos disparos. Inicialmente, diz Samanta, ela pensou que eram fogos de artifício.

    “Tô traumatizada pelo que aconteceu, certo? Nós estávamos ali na frente, no portão. Todo mundo ali conversando, cheio de criança. Do nada vem um carro atirando. Eu pensei que era rojão. Pensei: ‘Que legal’. Minha irmã que passou e viu que era tiro. Foi tiro para tudo quanto é lado. Nós corremos”, disse ela ao Metrópoles.

    “Eu só entendi [que eram tiros] quando eu comecei a ver minha perna sangrando. E meu sobrinho também. Eu não sabia se ele tinha [sido baleado]. A bala ficou alojada. Tiraram. Mas tá aberta ainda [a ferida]”, acrescentou.

    Confundidos com suspeitos

    Samantha afirma que, inicialmente, os primeiros policiais militares acionados para a ocorrência acharam que ela e o sobrinho pudessem ser suspeitos. Os PMs questionavam o motivo pelo qual os dois feridos foram levados para dentro da casa, em vez de esperar pelo socorro.

    “A gente está assustado”, disse Ágata, irmã de Samantha. “A gente não tem relação nenhuma [com o crime] e está sendo atacado, tendo que dar a nossa versão do que está acontecendo. A gente mora aqui há 10 anos. A gente tem que dar resposta sobre por que estava na calçada da minha mãe”, afirmou.

    A mulher relatou que os moradores da Vila Mirim e de comunidades da Praia Grande temem ações violentas da Polícia Militar na região, como represália ao ataque a Ruy Ferraz. “O certo é primeiro ir atrás do suspeito, e depois ver se tem relação. Tem crianças na rua. A população é só uma. São várias pessoas diferentes.”

    Como foi o atentado ao ex-delegado-geral

    Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado-geral de São Paulo, foi alvo do atentado logo após sair da Prefeitura de Praia Grande, onde trabalhava como secretário de Administração.

    8 imagensRuy Ferraz foi executado em Praia Grande Delegado Ruy Ferraz FontesRuy Ferraz Fontes, ex-delegado da Polícia Civil de São PauloRuy Ferraz Fontes, ex-delegado da Polícia Civil de São PauloRuy Ferraz Fontes, ex-delegado da Polícia Civil de São PauloFechar modal.1 de 8

    Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado-geral da Polícia Civil de SP

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    Ruy Ferraz foi executado em Praia Grande

    Reprodução/ Vídeo cedido/ Divulgação/ Prefeitura de Praia Grande3 de 8

    Delegado Ruy Ferraz Fontes

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    Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado da Polícia Civil de São Paulo

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    Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado da Polícia Civil de São Paulo

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    Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado da Polícia Civil de São Paulo

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    Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado da Polícia Civil de São Paulo

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    Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado da Polícia Civil de São Paulo

    Divulgação/Alesp

    Um vídeo obtido pelo Metrópoles mostra o momento em que os criminosos deram início à emboscada que resultou na morte do ex-delegado. Eles estacionaram um carro em uma rua próxima da prefeitura, às 18h02.

    Veja o vídeo:

    Após 14 minutos, o veículo de Ruy Fontes aparece na gravação, passa ao lado dos criminosos e é alvo de tiros. Ruy tenta fugir, mas é perseguido, bate o carro em um ônibus após cerca de 2,5 km e é executado. Mais de 20 tiros de fuzil são disparados.

    Os assassinos fogem na sequência e abandonam os carros usados no crime.

    Ruy Ferraz foi o primeiro delegado a investigar a atuação do PCC no estado, enquanto chefiava a Delegacia de Roubo a Bancos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), no início dos anos 2000. Uma das hipóteses da polícia é justamente o envolvimento de integrantes da facção no crime.

    Suspeitos identificados

    Os primeiros suspeitos foram identificados menos de 24 horas após o crime. Na manhã desta terça-feira, o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP), falou sobre o primeiro suspeito em coletiva de imprensa.

    “O que eu posso falar é que já temos a identificação e a qualificação. O pedido de prisão vai ser feito agora, ainda hoje (16/9)”, disse.

    Derrite não confirmou se o suspeito é  integrante do crime organizado e tampouco divulgou seu nome.

    “Ele está, obviamente, nesse momento, tentando fugir. Esse primeiro indivíduo identificado e qualificado, para nós, é fundamental que consigamos realizar a prisão dele para que, a partir de então, consigamos capturar todos os envolvidos”, explicou.

    Segundo Derrite, o homem identificado já foi preso diversas vezes, inclusive quando era adolescente. No entanto, ele não seria um dos atiradores. A polícia ainda apura qual foi a participação dele no crime.

    Por volta de 14h30, Derrite divultou, pela rede social X, que um segundo envolvido foi identificado após o trabalho de perícia no local do assassinato (veja abaixo).

    Já identificamos um 2º indivíduo que participou do assassinato do Dr. Ruy Ferraz Fontes, após um trabalho de perícia no local. Vamos solicitar a prisão temporária dos dois já identificados. Seguimos com todas as polícias empenhadas nesse caso, para que os culpados sejam punidos.

    — Guilherme Derrite (@DerriteSP) September 16, 2025

    De acordo com o secretário de Segurança, a polícia está mobilizada para que “todos os culpados sejam punidos”.

    Segundo fontes da polícia, um dos suspeitos de envolvimento na morte do ex-delegado-geral teve passagem por um presídio controlado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC).

    Nenhuma linha de investigação foi descartada

    Autoridades da SSP não descartam a participação de agentes públicos na execução de Ruy Ferraz. Além de ter sido inimigo número 1 do PCC quando atuava como delegado, o delegado tinha inimizades dentro da própria polícia e trabalhava como secretário de Administração em Praia Grande, onde pode ter contrariado interesses locais. Oficialmente, nenhuma hipótese é descartada pela cúpula da SSP.

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    A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz Fontes

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    O velório do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz Fontes

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    O velório do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz Fontes

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    O velório do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz Fontes

    Valentina Moreira/Metrópoles

    A suspeita sobre a possibilidade de envolvimento de agentes públicos no crime surgiu após análise dos vídeos que flagraram o atentado. As imagens mostram uma ação coordenada dos quatro executores, com sinais de conhecimento operacional.

    Na gravação captada por uma câmera de segurança na Avenida Roberto de Almeida Vinhas, na Vila Mirim, o ex-delegado aparece sendo perseguido, até bater seu carro contra um ônibus e capotar. Nesse momento, três criminosos encapuzados desembarcam do carro de trás. Dois começam a atirar enquanto o terceiro faz uma espécie de contenção. Na sequência, eles retornam ao veículo e deixam o local.

    Veja:

    Possível vingança

    Entre as linhas de investigação sobre o mando do crime, a força-tarefa acredita em uma possível vingança do PCC. Ruy Ferraz foi o primeiro delegado a investigar a facção no estado, no começo dos anos 2000, e atuou na transferência de algumas das principais lideranças para presídios federais de segurança máxima, como Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.

    Além disso, também é considerada a hipótese de que o crime esteja relacionado com a atual função de Ruy Ferraz, que ocupava o cargo de Secretário de Administração de Praia Grande. Nesse caso, o envolvimento de agentes públicos e do PCC também não é descartado.

    Quem era Ruy Ferraz

    • Ruy Ferraz Fontes atuou por mais mais de 40 anos Polícia Civil de São Paulo era especialista na facção criminosa PCC.
    • Ele iniciou a carreira como delegado de polícia titular da Delegacia de Polícia do Município de Taguaí, do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior (Deinter) 7.
    • Durante a vida profissional, foi delegado de Polícia Assistente da Equipe da Divisão de Homicídios do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).
    • Também atuou como delegado de Polícia Titular da 1ª Delegacia de Polícia da Divisão de Investigações Sobre Entorpecentes do Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc).
    • Além disso, Ferraz foi delegado de Polícia Titular da 5ª Delegacia de Polícia de Investigações Sobre Furtos e Roubos a Bancos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e comandou outras delegacias e divisões na Capital.
    • O secretário de Administração de Praia Grande também esteve à frente da Delegacia Geral de Polícia do Estado de São Paulo e foi Diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (DECAP).
    • Ele ainda foi professor assistente de Criminologia e Direito Processual Penal da Universidade Anhanguera e atou como Professor de Investigação Policial pela Academia da Polícia Civil do Estado de São Paulo (Acadepol).
    • Ruy assumiu a Secretaria de Administração de Praia Grande em janeiro de 2023, permanecendo na gestão que se iniciou em 2025, até ser morto nessa segunda-feira.
    • O policial também foi o primeiro delegado a investigar a atuação do PCC no estado, enquanto chefiava a Delegacia de Roubo a Bancos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), no início dos anos 2000.
    • Ele foi jurado de morte por Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder máximo do PCC, em 2019, após o criminoso ser transferido para o sistema penitenciário federal.

    O ex-delegado foi enterrado na tarde desta terça-feira no Cemitério da Paz, no Morumbi. Além de diversas autoridades de segurança pública, o funeral contou com helicópteros da Polícia Civil cercando o espaço aéreo.