A família do marceneiro Guilherme Dias Santos, morto com um tiro na cabeça enquanto corria para pegar um ônibus em Parelheiros, zona sul de São Paulo, pede que o policial militar autor do disparo, Fábio Anderson Pereira de Almeida, seja preso novamente diante do suposto risco de que ele intimide a única testemunha do caso.
O policial ficou detido por menos de duas semanas no fim de agosto, mas obteve liberdade provisória em decisão do desembargador Marco de Lorenzi, da 14ª Câmara de Direito Criminal. O magistrado afirmou que os argumentos que deram origem à prisão preventiva não estavam bem fundamentados.
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No novo pedido de prisão, apresentado nessa terça-feira (23/9), os advogados da família de Guilherme afirmam que a testemunha em questão, um colega de trabalho do marceneiro, teria ficado em silêncio no primeiro depoimento “porque estava se sentindo coagido pelos policiais militares” e que acabou assinando “um papel que tinha que assinar para ser liberado”.
Só no segundo depoimento a testemunha contrariou a versão do PM e disse que não houve nenhum roubo na região e que não viu nenhuma movimentação estranha até Guilherme ser baleado na cabeça. Segundo o colega de trabalho, os dois caminhavam juntos no momento em que ouviu o disparo e viu a vítima cair. Segundo ele, foi aí que o policial teria se aproximado perguntando onde estava a arma.
Guilherme Dias Santos Ferreira, 26 anos, foi morto pela PM após ser confundido com ladrão
Reprodução/Globo
O PM diz ter reagido a uma tentativa de roubo e confundido o jovem com um dos assaltantes
Reprodução
Guilherme Dias Santos Ferreira, 26 anos, foi morto pela PM após ser confundido com ladrão
Reprodução/Globo
Os advogados afirmam que, com medo de sofrer represálias, a testemunha teria sido demitida por justa causa e mudado de endereço.
“Há existência concreta de fatos novos e contemporâneos que justifiquem a segregação cautelar, pois a testemunha já se viu compelida a mudar de endereço e foi dispensada de seu emprego por justa causa, em razão de abandono, após a soltura do acusado, fato que comprova de maneira inequívoca, que a permanência do réu em liberdade compromete a colheita da prova testemunhal e enseja risco concreto à apuração da verdade real”, afirmam.
Na denúncia, apresentada em 14 de agosto, o promotor de Justiça Everton Luiz Zanella afirmou que Fabio Anderson Pereira de Almeida não agiu em acordo com a função pública e matou o trabalhador que corria para pegar um ônibus. Zanella ainda argumenta que o PM atirou três vezes contra o marceneiro e ainda atingiu outra vítima, colocando em risco as pessoas que caminhavam em uma via pública.
“A conduta é completamente inaceitável e caracterizada pela existência de recurso que impediu a reação do ofendido Guilherme, que morreu após um dia de intenso trabalho, num momento em que apenas queria voltar para sua casa e sua família e não poderia — jamais — imaginar que seria alvejado por um disparo”, acrescentou.
Relembre o caso do PM que matou marceneiro
- O crime aconteceu na noite do dia 4 de julho, na Estrada Turística de Parelheiros, zona sul de São Paulo.
- O marceneiro Guilherme Dias Santos, de 26 anos, foi morto com um tiro na cabeça disparado pelo policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida.
- Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), o PM reagiu a uma tentativa de roubo praticada por um grupo de motociclistas e atirou contra os suspeitos. Em seguida, ainda no local, viu um homem se aproximando e disparou novamente.
- O rapaz, no entanto, era Guilherme, que estava caminhando em direção a um ponto de ônibus e não tinha relação com a ocorrência.
- Após matar o marceneiro, Almeida chegou a ser preso em flagrante por homicídio culposo (não intencional). No entanto, foi liberado no mesmo dia, após pagar fiança de R$ 6,5 mil.
- Os investigadores da Polícia Civil apontaram contradições no depoimento do policial.
- Em 14 de agosto, o Ministério Público de São Paulo apresentou denúncia contra o PM, solicitando prisão preventiva e anulação da fiança.
Vídeo mostra jovem saindo do trabalho
Vídeos de câmeras de segurança mostram o momento exato em que o trabalhador Guilherme Dias Santos Ferreira, de 26 anos, bateu o ponto em seu trabalho, às 22h23, apenas alguns minutos antes de ser morto pelo policial militar.
Veja: