O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB) escreveu um novo capítulo na história dos 60 anos do evento nessa sexta-feira (12/9). A 58ª edição da mostra lotou a sala Vladimir Carvalho, no Cine Brasília, para a estreia local de O Agente Secreto em uma noite de homenagens e tímidas manifestações políticas.
No palco do evento, o diretor do longa estrelado por Wagner Moura, Kleber Mendonça Filho, destacou que o FBCB é uma linha do tempo da história do Brasil contada por meio do cinema. “Muita coisa importante foi discutida, foi mostrada e representada neste festival”, pontuou.
O Agente Secreto abre o 58º Festival de Brasília
KEBEC NOGUEIRA/METROPOLES
Maria Fernanda Cândido
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Kleber Mendonça Filho no 58º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
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A produção, que esgotou ingressos tanto para a sexta quanto a exibição extra que será realizada neste sábado (13/9), conta a história de Marcelo (Wagner Moura) enquanto acompanha vivências semelhantes e ligadas a ele. A trama, que se passa em plena ditadura militar, arrancou aplausos de uma plateia empolgada após brilhar na telona por 2 horas e 40 minutos.
Manifestações políticas
Kleber também aproveitou o discurso antes da sessão para compartilhar que começou a escrever O Agente Secreto pensando que estava escrevendo um filme de época, mas entendeu que ele representa “o Brasil dos últimos 10 anos”.
“Felizmente, a gente está em um momento muito melhor agora, principalmente com o que aconteceu esta semana”, acrescentou, fazendo referência à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ele ainda aproveitou para contar que amigos que moram nos Estados Unidos veem o momento político e judiciário do país como algo positivo. “Dizem que o Brasil hoje é um exemplo. Um exemplo de como as coisas podem funcionar do ponto de vista da Justiça”, detalhou.
A tímida manifestação não ficou sozinha no palco. Representando o Ministério da Cultura, a secretária de audiovisual, Joelma Gonzaga, celebrou a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia. “Foi um voto que garantiu a condenação daquele que não vou citar o nome”, ressaltou.
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Ela ainda aproveitou o espaço para lembrar que os 80 filmes que serão exibidos até 20 de setembro no Festival de Brasília são frutos de políticas públicas.
Memória, homenagens e lágrimas
Nome importante do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Vladimir Carvalho também foi lembrado na noite de abertura. Joelma Gonzaga começou o discurso falando sobre a emoção de ver o nome do cineasta na porta da sala do cinema. Ela então relembrou uma conversa entre eles na qual o diretor de Conterrâneos Velhos de Guerra revelou que andava acompanhado de três senhoras nos 50 anos que se dedicou à cultura brasileira: a memória, a história e a democracia.
“Ele estava muito preocupado que os outros estão muito alienados dessas três senhoras que nos constituem e nos custam muito caro. Queria lembrar dele hoje, porque ele certamente estaria aqui entre a gente”, completou.
O nome de Vladimir também foi lembrado pelo secretário de cultura e economia criativa do Distrito Federal, Cláudio Abrantes. “Tenho certeza de que ele está nos assistindo e olhando para cá esta noite, porque ele amava esse festival”, garantiu.
A noite ainda teve uma pequena homenagem à Fernanda Montenegro, que não compareceu à cerimônia, mas foi celebrada por um vídeo que reuniu momentos e falas marcantes da carreira. Outra pessoa celebrada na noite foi o ator Chico Sant’Anna, que subiu ao palco para receber o Troféu ABCV, da Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo.
“Eu comecei essa história em 1994 não parei mais. Esse ano foram cinco longas-metragens, e é tanta coisa maravilhosa acontecendo. E para combinar com tudo isso, eu recebo esse prêmio e fico me perguntando: ‘será que eu mereço tanto?’”, refletiu emocionado.