O cheiro pode ser uma sensação bastante atrativa entre os seres humanos. Afinal, quem nunca teve vontade de comer um pão quentinho apenas pelo odor? No mundo animal, não é diferente. Um pesquisador japonês descobriu que Vincetoxicum nakaianum, uma planta nativa do Japão, imita o cheio de formigas mortas ou feridas por aranhas para atrair moscas polinizadoras.
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É o primeiro caso descrito de plantas imitando cheiro de formigas para confundir um indivíduo de outra espécie (mimetismo floral). O estudo foi realizado pelo pesquisador Ko Mochizuki, da Universidade de Tóquio, no Japão, e publicado na revista científica Current Biology nessa quarta-feira (24/9).
Descoberta acidental
Mochizuki conta que a descoberta do mecanismo foi acidental e ocorreu enquanto ele estava se dedicando a outro projeto. “Originalmente, coletei esta espécie apenas como ‘referência’ para comparação. Por acaso, notei moscas cloróides se reunindo em torno de suas flores no viveiro do Jardim Botânico de Koishikawa e imediatamente percebi que as flores poderiam estar imitando insetos mortos”, diz o autor, em comunicado.
Pesquisas anteriores já haviam descrito plantas imitando odores e sendo polinizadas por moscas, porém os cheiros não eram relacionados a formigas.
Intrigado, o pesquisador passou a observar metodicamente os visitantes da V. nakaianum e comparou os odores liberados pela flor a outros dispensados por diversos tipos de insetos. Assim, ele concluiu que o cheiro de formigas atacadas por aranhas era o que mais se aproximava.
Falta de evidências e confirmação
Haviam poucas evidências no mundo científico de que moscas eram atraídas por cheiro de formigas mortas ou feridas por outros animais. Por isso, Mochizuki procurou provas em um lugar nada convencional: as redes sociais. Por lá, encontrou vários naturalistas amadores documentando moscas cleptoparasitas sendo atraídas por formigas atacadas por aranhas, dando confiança à sua tese.
“Aquele momento, quando vi as moscas nas flores, foi realmente inspirador. Uma hipótese que de repente tomou forma. Essa experiência me ensinou que descobertas inesperadas muitas vezes surgem de uma combinação de preparação e acaso”, destaca o pesquisador.
Agora, o autor pretende entender qual o contexto evolutivo que relaciona o mimetismo e os sistemas de polinização. Além disso, novas espécies de plantas serão investigadas para detectar outros mecanismos de mimetismo floral.
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