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    Frutas e vegetais gigantes: por que acontecem e como cultivar

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    Não é raro encontrar frutas e vegetais gigantes, mas eles despertam curiosidade, atraem olhares em feiras e competições e até inspiram produtores a tentar repetir o feito em hortas caseiras. Mas afinal de contas, o que faz algumas plantas atingirem proporções tão impressionantes?

    Segundo o engenheiro agrônomo Raphael Augusto de Castro, fitotecnista e pesquisador da Embrapa Hortaliças, o tamanho acima do padrão depende de uma combinação de fatores fisiológicos e de manejo.

    “Entre os elementos que influenciam os processos fisiológicos das plantas e a ambiência de estruturas como estufas e túneis, destacam-se a radiação solar, a temperatura e a concentração de dióxido de carbono (CO 2)”, explica.

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    Por que o gigantismo vegetal acontece

    O biólogo e botânico Guilherme Bordignon Ceolin, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), explica que uma das causas do gigantismo se dá pela divisão e expansão das células.

    “Se você tem uma planta que por algum motivo genético acaba aumentando o ritmo de divisão celular ou as células que já existem acabam se expandindo mais do que a média, e isso for repetido sistematicamente ao longo de várias gerações, você tem potencial para que algumas plantas se tornem gigantes”, explica.

    Foto colorida de morango gigante - Frutas e vegetais gigantes: por que acontecem e como cultivarO cultivo de vegetais gigantes é uma prática séria, que envolve competições e busca por recordes

    O gigantismo vegetal surge ainda da combinação com a influência do ambiente e técnicas humanas de cultivo. Por trás de cada exemplar gigante existe um planejamento cuidadoso do espaço, da nutrição e da iluminação.

    Isso significa que algumas plantas atingem tamanhos extraordinários porque precisam competir por luz e outros recursos essenciais à sobrevivência. Quanto maior a planta, mais eficiente ela se torna na captação de luz e no desenvolvimento.

    Os produtores, então, identificam essas plantas com potencial natural e aplicam técnicas de cultivo — como manejo de espaço, irrigação e nutrição — para reforçar esse crescimento.

    Como cultivar frutas e vegetais gigantes

    Produzir um vegetal gigante envolve principalmente a arquitetura correta da planta. Augusto detalha que o espaçamento entre plantas, a forma como os galhos ou ramos são conduzidos e o controle das partes que competem por recursos fazem diferença direta no tamanho final dos frutos e raízes.

    “Para produzir raízes ou bulbos gigantes, a produção é realizada de forma individualizada — com apenas uma planta por área — eliminando a competição por espaço, luz, água e nutrientes. Para modificar a arquitetura da planta e favorecer o desenvolvimento de órgãos vegetativos de interesse, são adotados tratos culturais como podas e desbrotas, que removem partes que competiriam com os frutos ou estruturas desejadas”, detalha Augusto.

    Por isso, nos frutos, o raleio é uma técnica fundamental para o desenvolvimento dos exemplares gigantes. A prática consiste em remover parte dos frutos da planta, mantendo apenas um ou poucos, de modo que eles recebam mais espaço, nutrientes e energia para crescer.

    Sem o raleio, a planta precisaria dividir seus recursos entre muitos frutos, o que limita o tamanho final de cada um. Além disso, o uso de mantas, redes e suportes protege os frutos do contato direto com o solo, prevenindo doenças e danos físicos, e garantindo que cresçam íntegros e saudáveis.

    Limites e consequências do gigantismo vegetal

    Mesmo com manejo cuidadoso, o crescimento das plantas tem limites naturais. Recursos como água, nutrientes e espaço não são infinitos, e quanto maior a planta ou o fruto, mais exigentes se tornam suas necessidades para se manter saudável.

    O aumento do tamanho também pode alterar características importantes, como sabor e textura. Frutas muito grandes podem ficar visualmente impressionantes, mas nem sempre mantêm a qualidade esperada. Pêssegos e melões, por exemplo, podem apresentar aparência excelente, mas sabor mais fraco e textura esponjosa.

    “Em algumas vezes, os frutos gigantes têm mais água e menor concentração relativa de nutrientes por unidade de peso. Assim, geralmente ficam menos doces ou menos intensos no sabor, pois os açúcares e compostos aromáticos ficam mais diluídos”, esclarece Denise Schmidt, engenheira agrônoma e docente da UFSM.

    Por isso, é fundamental observar a relação entre tamanho, qualidade e viabilidade de consumo, especialmente quando o objetivo do cultivo vai além da estética ou de competições. Garantir que o fruto seja grande e saboroso é um desafio que exige planejamento e atenção em todas as etapas do cultivo.

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