Pesquisadores da University College London e do Imperial College London, no Reino Unido, conseguiram registrar pela primeira vez como um tipo de antibiótico chamado polimixina perfura a armadura que protege bactérias resistentes. As imagens detalhadas ajudam a entender por que o medicamento, usado como último recurso, funciona apenas quando as células estão ativas.
As polimixinas são usadas há mais de 80 anos contra microrganismos conhecidos como bactérias Gram-negativas, que têm uma camada externa resistente e dificultam a ação de muitos remédios.
No novo estudo, publicado nesta segunda-feira (29/9) na revista Nature Microbiology, a equipe observou que a polimixina B provoca inchaços e deformações na superfície da célula bacteriana, levando à destruição da couraça.
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As mudanças aparecem em poucos minutos. À medida que a bactéria tenta produzir novas camadas de proteção, acaba perdendo as antigas em ritmo acelerado, criando falhas que permitem a entrada do antibiótico e levam à morte celular.
Mas o efeito só acontece quando a célula está ativa. Quando as bactérias entram em dormência — um estado em que suspendem suas funções para economizar energia — o medicamento perde a eficácia.
Dormência protege contra tratamento
Essa capacidade de hibernação permite que as bactérias sobrevivam por longos períodos em condições desfavoráveis, como falta de alimento, e voltem a causar infecções quando despertam. Por isso, infecções recorrentes podem acontecer mesmo após o uso de antibióticos potentes.
“Por muito tempo acreditamos que as polimixinas matavam as bactérias em qualquer estado, mas agora sabemos que elas dependem da atividade da célula”, explicou o professor Andrew Edwards, do Imperial College, em comunicado.
Os pesquisadores observaram que, ao oferecer uma fonte de energia como o açúcar, as bactérias dormentes despertam, retomam a produção da armadura e voltam a ficar vulneráveis ao antibiótico.
Novas estratégias de tratamento
Com base nas descobertas, os cientistas sugerem que, no futuro, terapias combinadas podem aumentar a eficácia das polimixinas. A ideia seria associar o antibiótico a compostos que estimulem a produção da camada protetora ou despertem bactérias inativas.
Para Bart Hoogenboom, da University College London, entender como a polimixina age é essencial diante do avanço das infecções resistentes a medicamentos. “Precisamos levar em conta o estado das bactérias ao avaliar a eficácia dos tratamentos”, afirmou.
O estudo foi financiado por instituições britânicas de pesquisa e usou técnicas de microscopia de força atômica para capturar imagens inéditas do processo, revelando em detalhes como a armadura bacteriana é destruída.
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