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Incêndio clínica

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Incêndio clínica

“Uma madrugada de horrores”, foi assim que Rafael Souza, 38, vizinho da casa de reabilitação que pegou fogo e matou cinco pessoas, definiu a tragédia ocorrida. Ele conta que estava dormindo quando aconteceu o incêndio e acordou com os barulhos de grito de socorro e do fogo alto estralando. “Parecia barulho de tiro [os estampidos] de tão alto que era”.

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Herbert Maciel, 36, é um outro vizinho próximo do terreno onde ocorreu o incêndio. Ele conta também que acordou assustado com os barulhos do fogo. “Eu não sabia o que tava acontecendo. Eu olhei pela janela e só vi a fumaça forte saindo do terreno. Eu acordei com os estalos alto do fogo”, conta.

O morador explica, ainda, que ele nem sabia da funcionalidade da clínica no terreno. O Instituto Liberte-se funcionava há 5 meses no local, sem alvará. “Pra ser sincero eu nem sabia que era clínica. Sempre achei que fosse a construção de um condomínio, porque a gente sempre via eles reformando”, acrescenta.

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O Instituto Terapêutico Liberte-se, casa de reabilitação de dependentes químicos no Paranoá (DF), pegou fogo na madrugada deste domingo (31/8), por volta das 3h.

Hugo Barreto/Metrópoles
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Darley Fernandes de Carvalho, José Augusto, Lindemberg Nunes Pinho, Daniel Antunes e João Pedro Santos morreram no local.

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Atualmente, a clínica contava com mais de 20 internos

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As causas do início do fogo são desconhecidas. A 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) investiga o caso

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O Corpo de Bombeiros conteve as chamas e levou as vítimas aos hospitais regionais de Sobradinho (HRS) e da Região Leste, no Paranoá (HRL)

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Cinco pessoas morreram no trágico incêndio no Instituto Terapêutico Liberte-se, na madrugada de domingo (31/8). Além dos cinco óbitos, houve 11 pessoas socorridas e levadas para hospitais, com sinais de intoxicação, ferimentos e queimaduras. Segundo a Secretaria de Saúde, na manhã desta segunda-feira (1º/9), duas vítimas seguiam internadas no Hospital da Região Leste (HRL) e sete no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN). Duas receberam alta.

As vítimas são:

Imagens aéreas feitas pelo Metrópoles mostram a destruição provocada pelo incêndio. Visto de cima, é possível perceber o quanto o local foi tomado pelo fogo, que acabou destruindo grande parte do telhado da residência. Na clínica, residiam 46 dependentes químicos em recuperação.

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A clínica de reabilitação para dependentes químicos localizada no Núcleo Rural Desembargador Colombo Cerqueira, no Paranoá, pegou fogo por volta das 3h do último domingo. Cerca de 20 pessoas estavam trancadas dentro do local onde as chamas se alastraram. As outras 26 estavam na parte externa da casa, em outra edificação.

Veja as imagens do local:

O que se sabe sobre o caso

O Corpo de Bombeiros conteve as chamas e levou os sobreviventes aos hospitais regionais de Sobradinho (HRS) e da Região Leste, no Paranoá (HRL).

Os feridos têm entre 21 e 55 anos. Somente as iniciais e a idade foram divulgadas. Veja:

D.S., 24 anos;
L.G., 21 anos;
L.S., 21 anos;
M.D., 28 anos;
J.G.S.J., 30 anos;
R.S., 44 anos;
M.S., 24 anos;
E.G.S., 33 anos;
R.F.M., 33 anos;
G.S.D.S.Q., 34 anos; e
R.Q., 55 anos.

Trancados

Além de a unidade estar trancada no momento do incêndio, as janelas da clínica têm grades de ferro, o que impediu a fuga das vítimas. Esses dois fatores dificultaram, ainda, o salvamento delas, segundo testemunhas.

Um dos internos que conseguiu se salvar narra momentos de terror vividos durante a tragédia. Daniel Fernandes, 24 anos, contou ao Metrópoles que estava dormindo quando internos de outro quarto pediram ajuda.

“Levantamos desesperados e fomos. Quando eu vi a sala, percebi que o fogo havia se alastrado enquanto todo mundo gritava por socorro, pedindo para não deixar que eles morressem”, lembrou Daniel.

Nesse momento, Daniel, outros internos e um coordenador do instituto saíram em busca de objetos para quebrar as grades das janelas.

“Vi um rapaz sendo queimado e um se arrastando enquanto o corpo dele pegava fogo. Outro interno estava quase desmaiando por causa da fumaça, quando o fogo alastrou e começou a cair por cima dele”, lembrou. “Fiquei em estado de choque, muito triste.”

Outro paciente, Luís Araújo do Nascimento, 57, contou à reportagem que o incidente era tragédia anunciada. “Não foi por falta de aviso. “[O local] estava fechado, sem porta de incêndio, sem extintor, sem precaução alguma. E nenhum deles [os internos] foi treinado para trabalhar com combate a incêndio”, afirmou.

Assista ao depoimento:

Clínica clandestina

O proprietário e diretor da clínica, Douglas Costa de Oliveira Ramos, 33 anos, confessou, em depoimento à PCDF, que solicitou o alvará de funcionamento do local, mas a autorização não foi expedida ainda. O instituto também não obteve aprovação de licenciamento do Corpo de Bombeiros, que nem sequer fez a vistoria nas construções.

A clínica clandestina funcionava no local havia cinco meses, segundo Douglas. O tratamento oferecido consistia na internação de dependentes químicos por seis meses, com visitas mensais e ligações semanais aos familiares. Em 12 de julho do ano passado, a clínica teve uma das filiais interditada pela Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal).

Ainda no depoimento, o dono do local disse que dormia em um quarto do lado de fora da clínica, quando foi acordado pelos internos, e acionou o Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) assim que percebeu o incêndio.

Ramos confirmou que a única porta de entrada e saída da clínica estava trancada com cadeado, segundo ele, em razão de furtos anteriores sofridos.

Sergio Rodrigo Gomes, 38 anos, voluntário que trabalha na Liberte-se, também estava na clínica na madrugada desse domingo (31/8). Foi ele quem recebeu a chave de um interno chamado Ronaldo e conseguiu destrancar o cadeado da porta de entrada e saída, segundo depoimento, após muita dificuldade. Ele contou que ajudou a quebrar janelas e grades para salvar as vítimas e que chegou a se queimar, porque o fogo se alastrou rapidamente.

Manifestação da Administração

O Instituto Terapêutico Liberte-se havia solicitado à Administração autorização para atuar no local, e o órgão havia concedido a chamada licença de localização na quinta-feira (28/8). No entanto, esse documento não é suficiente para que a clínica opere. Mesmo assim, o Instituto Liberte-se recebia pacientes há, pelo menos, cinco meses.

Para atuar legalmente, a clínica deve solicitar a aprovação de diversos órgãos locais, como reitera a Administração Regional do Paranoá.

“O alvará de funcionamento somente é expedido após a análise e manifestação de diversos órgãos do GDF, conforme a natureza da atividade exercida. Entre eles destacam-se o Corpo de Bombeiros Militar do DF, responsável por vistoriar as instalações e atestar as condições de segurança contra incêndio e pânico; a Vigilância Sanitária, encarregada de avaliar as condições de higiene, salubridade e segurança sanitária; e outros órgãos fiscalizadores específicos, a depender das particularidades da atividade econômica”, pontuou.

Clínica se pronuncia

Após o incêndio, o Instituto Terapêutico Liberte-se divulgou uma nota na qual lamentou o caso e informou que está “em contato com as autoridades competentes”.

“Colocamo-nos inteiramente à disposição para colaborar com as investigações, fornecendo todas as informações necessárias para esclarecer as circunstâncias do ocorrido. Reiteramos nosso compromisso com a transparência e com a apuração rigorosa dos fatos”, afirmou.

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