Os incêndios florestais na Amazônia, no Canadá e na Sibéria liberam uma “mistura tóxica” de poluentes que podem acabar deteriorando a qualidade do ar a milhares de quilômetros de distância. O alerta foi feito nesta sexta-feira (5/9) pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), em seu quinto boletim anual sobre qualidade do ar e clima.
“As mudanças climáticas e a poluição do ar não respeitam fronteiras nacionais, como demonstram o calor e a seca intensos que alimentam os incêndios florestais e degradam a qualidade do ar de milhões de pessoas”, declarou Ko Barrett, secretária-geral adjunta da organização.
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“A temporada de incêndios florestais tende a ser mais grave e mais longa a cada ano devido às mudanças climáticas”, completou Lorenzo Labrador, cientista-chefe da Organização Meteorológica Mundial e editor do boletim.
A OMM analisou a interação entre qualidade do ar e o clima, com ênfase no papel das partículas microscópicas conhecidas como aerossóis nesses incêndios, na formação de nevoeiros de inverno, nas emissões do transporte marítimo e na poluição urbana.
As partículas com diâmetro inferior a 2,5 micrômetros (PM 2,5) são consideradas mais nocivas, já que penetram profundamente nos pulmões ou no sistema cardiovascular. Os incêndios florestais de 2024 provocaram níveis de PM 2,5 acima da média no Canadá, na Sibéria e na África Central, segundo a OMM.
Mas o maior aumento foi registrado na bacia amazônica. As partículas viajaram longas distâncias, afetando a qualidade do ar em cidades como São Paulo, Santiago (Chile) e até regiões do Equador.
Consequências em outros continentes
Os incêndios florestais no Canadá acabaram provocando poluição atmosférica na Europa. “Foi o caso no ano passado e neste ano. Há uma degradação da qualidade do ar entre continentes quando as condições meteorológicas se alinham”, destacou Labrador em uma coletiva de imprensa.
“Esses incêndios produziram essencialmente uma mistura tóxica de componentes que poluem o ar”, resumiu. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição do ar ambiente é responsável por mais de 4,5 milhões de mortes prematuras por ano em todo o mundo, com custos ambientais e econômicos significativos.
A OMM pediu melhorias no monitoramento e políticas mais eficazes para proteger a saúde humana e ambiental, além de reduzir perdas agrícolas e econômicas em geral.
O boletim também destaca pontos críticos de poluição no norte da Índia. A planície indo-gangética, que abriga mais de 900 milhões de pessoas, apresentou um aumento acentuado na poluição do ar, causado principalmente pela queima de biomassa agrícola, o que levou ao aumento do número e da duração dos episódios de nevoeiro de inverno.
“A persistência do nevoeiro não é mais apenas um evento meteorológico sazonal: é um sintoma do impacto crescente das atividades humanas sobre o meio ambiente”, segundo a Organização Meteorológica Mundial.
Melhorias na China
Quando os países agem para combater a má qualidade do ar, a melhoria é claramente visível nos dados meteorológicos, avaliou Paulo Laj, responsável pela atmosfera global na organização. “Veja a Europa, Xangai, Pequim, cidades nos Estados Unidos. Muitas cidades tomaram medidas e observa-se, a longo prazo, uma forte redução” da poluição do ar registrada, declarou.
Os níveis de PM 2,5 continuaram a diminuir no leste da China no ano passado, o que a OMM atribui a políticas consistentes. “Em um período de 10 anos, as cidades chinesas melhoraram consideravelmente sua qualidade do ar. O que elas conseguiram é realmente impressionante”, observou.
Segundo ele, não existem medidas universais que possam provocar uma mudança radical, como a adoção de carros elétricos, “mas, quando medidas são tomadas, elas funcionam”.
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