Construir confiança é tarefa de longo prazo. Essa foi uma das premissas que marcou o II Encontro de Integridade e Transparência, promovido pelo Senac-DF, nos dias 16 e 17 de setembro. O evento reuniu autoridades, empresários e especialistas em quatro painéis que discutiram eficiência administrativa, inovação fomentada por políticas públicas, práticas regionais e os desafios do compliance.
“Nós estamos aqui com representantes de 27 departamentos regionais; quatro puderam apresentar suas práticas. É um momento de troca, de rede, mas também de trazer para perto órgãos de controle como a Controladoria-Geral da União e o Conselho Fiscal Nacional. É transparência em ação, não só em discurso”, afirmou Vitor Corrêa, diretor-regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial Integrado ao Sistema Fecomércio DF (Senac/DF).
Segundo Corrêa, a governança só se concretiza quando se transforma em impacto para empresas e pessoas. “Não existe desenvolvimento empresarial sem pessoas. Uma empresa só abre uma nova filial se puder contar com colaboradores preparados. O Senac existe exatamente para isso: apoiar a qualificação, a requalificação e até as contratações obrigatórias, como o jovem aprendiz ou a pessoa com deficiência.”
O diretor reforçou que o Senac não apenas oferece cursos, mas se coloca como um braço estratégico do desenvolvimento empresarial. A cada formação, há impacto direto no setor produtivo: empresas mais eficientes, trabalhadores mais qualificados e uma economia mais robusta.
“Nosso papel é retroalimentar o setor. A empresa se fortalece, gera mais empregos, arrecada mais, e isso retorna em mais capacidade para o Senac ampliar sua atuação. É um ciclo virtuoso que mostra, na prática, o que integridade significa: compromisso com resultado e impacto social.”
Vitor Corrêa, diretor-regional do Senac/DF
Vitor Corrêa, diretor-regional do Senac/DF: “Não existe desenvolvimento empresarial sem pessoas”
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“É um encontro de integridade e transparência, mas é num sentido amplo de governança. Trazemos boas práticas de gestão de regionais, troca de informações, soluções sistêmicas. É um exemplo prático e direto que demonstra transparência e eficiência”, afirmou Vitor Corrêa.
Essa prática se soma a dados robustos sobre a entrada de pessoas em busca de qualificação. Segundo o Relatório Geral de 2023 do Senac, foram mais de 2 milhões de atendimentos e 1,45 milhão de matrículas, sendo 1,2 milhão de pessoas atendidas gratuitamente. A taxa de inserção de egressos no mercado de trabalho chegou a 70,1%.
Eficiência e previsibilidade: o impacto do SEI
Patrícia Valentina, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), ponderou em um dos painéis que processos internos bem organizados também têm rosto humano. Ela citou o Sistema Eletrônico de Informações (SEI), criado para reduzir burocracia e aumentar a transparência.
“Achávamos que estávamos fazendo algo para nós, mas vimos que servia para todos. Antes, um processo se perdia em pilhas de papel; agora, é possível acompanhar onde ele está, quem é o responsável, quanto tempo demora.”
Patrícia Valentina, uma das criadoras do SEI
Segundo ela, o SEI tornou visíveis documentos e decisões, exceto em casos de sigilo legal, permitindo que qualquer pessoa acompanhe de forma simples. Essa previsibilidade, antes rara no serviço público, se tornou parte de uma nova cultura administrativa.
Inovação que nasce da lei
No segundo painel da tarde, Rubens Caetano Barbosa (CGID) lembrou que a Lei de Informática, em vigor desde 1991, ainda impulsiona o presente. Por meio dela e do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), empresas podem inovar em áreas como inteligência artificial, saúde digital e agricultura de precisão.
Somente em 2024, foram aprovados R$ 12,7 bilhões em programas estruturantes, com execução completa. Desde 2023, o fundo já contratou R$ 26,3 bilhões em investimentos — mais que o dobro do triênio anterior.
Barbosa destacou que não é só sobre volume, mas sobre impacto.
“Temos universidades, startups, centros de pesquisa que produzem soluções de ponta. O desafio é integrá-las ao comércio, ao serviço e ao dia a dia da população”, defendeu.
Do discurso à prática
Em conjunto com Hermann Dantas, diretor do Senac/PE, Vitor Corrêa ressaltou que os avanços de compliance não são fáceis, mas cada etapa vencida prepara o caminho para conquistas maiores.
“A cada ano de resultado, construímos um degrau. Vai ficando mais difícil de alcançar, mas também mais fácil de acreditar nas pessoas e no desenvolvimento. Nós evoluímos, e a cada etapa a consciência coletiva cresce”, frisou.
Hermann complementou com exemplos práticos de Pernambuco. Ele lembrou que havia resistência de alguns setores, como o de Saúde, que chegaram a cogitar criar estruturas próprias de capacitação. Mas, ao ver a efetividade do Senac, esses grupos mudaram de posição.
“Nos aproximamos, mostramos resultados, e hoje o sindicato que antes pensava em ter seu próprio sistema é parceiro do Senac. Isso mostra que precisamos estar sempre perto do setor produtivo, oferecendo cursos e soluções que façam sentido para a vida real das pessoas.”
Hermann Dantas, diretor do Senac/PE
O diretor ressaltou ainda que o impacto da educação profissional não pode ser medido apenas em números de matrículas. “O desemprego não pode ser visto como estatística. É uma tragédia social. Quando o Senac prepara um aluno para sair daqui e conseguir um emprego, está cumprindo sua missão de forma concreta. É isso que dá credibilidade e faz a sociedade defender nossa atuação.”
Compliance: do papel à cultura
O painel mais esperado foi o último do evento, com Célia Negrão, autora de “Compliance – Controles internos e riscos”; Daniel Catelli, procurador federal e vice-presidente da Associação Nacional de Complianc; e Inácio Alecastro, diretor de Integridade da OAB/DF.
Eles discutiram desafios atuais como normas anticorrupção já não bastam, é preciso política de integridade que incorpore responsabilidade social, direitos humanos, ética nas contratações, canal de denúncias efetivo, combate ao assédio moral e sexual e transparência real na execução orçamentária.
O diálogo foi intenso, com perguntas sobre indicadores de eficácia, formas de monitoramento e exigências de responsabilidade para empresas e órgãos públicos.
Célia destacou que compliance não pode ser “marca de fachada”, algo que existe no papel apenas.
“Compliance precisa se traduzir em práticas concretas, como canal de denúncia acessível, investigações sérias, políticas claras de diversidade e inclusão.”
Célia Negrão, advogada, especialista em governança e compliance, escritora e mentora
Alecastro acrescentou que empresas que ignoram isso arriscam reputação, contratos, clientes, “o consumidor espera valores, ética, transparência; não basta dizer que cumpre, precisa mostrar no atendimento, no RH, na gestão”.
Já Daniel Catelli reforçou que integridade institucional também depende de que órgãos públicos e privados façam prestação de contas visível, auditoria interna, controle de risco etc.
Muito além de um encontro
O II Encontro de Integridade e Transparência não foi apenas palco de reflexões, mas vitrine de práticas que já estão em andamento.
Mais do que um debate, o evento deixou uma mensagem: integridade não é palavra de gabinete. É prática viva — e está acontecendo agora.
Promovido pelo núcleo Norte e Centro-Oeste do Senac e realizado pelo Senac-DF, o II Encontro de Integridade e Transparência foi fechado para convidados, mas o Metrópoles fez a cobertura dos principais painéis no Portal e nas redes sociais.