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Jogos de tudo ou nada (por Leonardo Barreto)

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Jogos de tudo ou nada (por Leonardo Barreto)

Nesta semana inicia o evento político mais importante do ano. O resultado do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro é previsível.

Seu andamento e efeitos políticos não. Mas dá para dizer que ele inaugura uma sequência de jogos de tudo ou nada que levará a um aumento exponencial de impasses institucionais ou alinhamentos forçados.

O STF estará sob forte pressão em razão da polarização do caso, da atuação controversa do ministro Alexandre de Moraes e da possibilidade de mais sanções do governo norte-americano contra ministros e precisará ser apoiado pelo governo.

Por mais que o presidente Lula tenha trabalhado para transmitir a imagem de que não estar envolvido com julgamento, terá que sair ao socorro de ministros eventualmente sancionados, colocando o governo na trincheira.

Provavelmente essa situação levará o Planalto a retaliar os EUA, tendo como opções movimentos diplomáticos e/ou econômicos.

Acompanhando as medidas, o governo irá reforçar o mote da soberania, que já estreou nas redes sociais como fortíssima linguagem eleitoral. O roteiro é previsível: “depois de ser derrotado por eleitores, Bolsonaro recorreu a um governo estrangeiro para retornar ao poder e Lula terá que se pintar para a guerra de novo como a última linha de defesa da independência.”

Essa é uma estratégia que traz como bônus a manutenção de Bolsonaro na disputa eleitoral mesmo que ele esteja preso.

É difícil dizer como o ex-presidente reagirá ao encarceramento porque a natureza desse evento, o cerceamento da liberdade, é algo que foge da racionalidade política, sendo impossível dizer que a contingência o levará a fazer A ou B.

Os atores políticos interessados, no entanto, sabem que da posição de Bolsonaro pode depender as chances reais de cada um.

Os pretendentes ao espólio de Bolsonaro já tratam do assunto sem o corpo tenha ainda esfriado.

Gente qualificada leu na declaração recente de Tarcísio de Freitas, de que concederia o perdão como seu primeiro ato caso fosse eleito para o Planalto, como a sua primeira promessa de campanha.

O Congresso também será arrastado para a festa. Considerando que as sanções exigirão do governo uma resposta, parte das medidas adotadas podem ter que ser aprovadas pelos parlamentares.

Remando no sentido contrário, o PL e segmentos de outros partidos do centrão provavelmente denunciarão o STF por suposta parcialidade e articularão a votação de um projeto de anistia.

Davi Alcolumbre e Hugo Motta cerrarão fileiras com o STF e o presidente Lula? Escolherão esse caminho em contraposição a uma maioria do Congresso que tende a não ter uma boa avaliação da corte e que não quer arriscar-se a também ser sancionada? Ao defenderem a soberania, entrarão de carona na narrativa governamental/eleitoral desenvolvida pelo marqueteiro Sidônio Palmeira?

Esse julgamento tem capacidade de levar as instituições a uma situação de stress significativo com baixa chance de chegar a uma saída consensuada. Pelo contrário, o que está no horizonte são impasses que levarão a uma paralisia ou a uma decisão de posicionamento forçado que envolverá a todos.

Mal comparando, o que está diante de nós é o início de um conflito semelhante aos das guerras continentais que tragam os países para dentro de si de forma irresistível e que só terminam com um lado completamente derrotado.

 

Leonardo Barreto, doutro em Ciência Política pela UnB. 

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