O deputado estadual Tiego Raimundo dos Santos Silva (foto em destaque), conhecido como TH Jóias (MDB), nomeou a esposa de Gabriel Dias de Oliveira, o “Índio do Lixão”, um dos chefes do Comando Vermelho (CV), para um cargo na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A informação foi revelada no âmbito das operação Bandeirante e Zargun, deflagradas nesta quarta-feira (3/9) pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco-RJ).
Segundo a investigação, a manobra fazia parte de um esquema mais amplo de cooperação direta entre o parlamentar e a facção. O grupo utilizava o mandato de TH Jóias para facilitar negociações de drogas, fuzis e equipamentos antidrones destinados ao Complexo do Alemão, além de abrir espaço político e institucional para familiares e aliados de narcotraficantes.
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Índio do Lixão é considerado um dos principais articuladores do tráfico no Rio. De acordo com a polícia, sua esposa foi lotada na Alerj por indicação de TH Jóias, numa estratégia de dar respaldo institucional à família do criminoso e reforçar laços com a cúpula do Comando Vermelho.
Além dela, outro homem próximo ao grupo, Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, o “Dudu”, também ocupava cargo no gabinete do deputado. Ambos figuram entre os alvos da operação, que cumpriu mandados de busca e apreensão e de prisão preventiva contra integrantes da facção.
Dinheiro e política
As investigações ainda apontaram movimentações financeiras suspeitas envolvendo empresas ligadas a TH Jóias, com alertas emitidos por instituições bancárias que reforçam a suspeita de lavagem de dinheiro.
De acordo com os investigadores, o deputado teria se tornado um verdadeiro intermediário político do CV, atuando para expandir os interesses da facção dentro e fora das comunidades dominadas pelo tráfico.
O secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, destacou que o caso expõe de forma clara a infiltração da facção no parlamento fluminense. “Estamos diante de uma investigação que comprova a infiltração direta do crime organizado dentro da Alerj. O deputado, eleito para representar a sociedade, colocou seu mandato a serviço da maior facção criminosa do Rio. Não haverá blindagem política para criminosos: seja traficante armado na favela ou de terno na Assembleia, a resposta do Estado será a mesma.”
Operação
Na ação, os policiais cumprem 18 mandados de prisão preventiva e 22 mandados de busca e apreensão, expedidos pela Justiça Federal e Estadual. O Tribunal Regional Federal da 2ª Região também determinou o sequestro de bens e valores dos investigados, totalizando R$ 40 milhões, além do afastamento de agentes públicos, suspensão de atividades de empresas utilizadas para lavagem de dinheiro e transferência emergencial de lideranças da facção para presídios federais de segurança máxima.
As investigações identificaram um esquema de corrupção envolvendo a liderança da facção no Complexo do Alemão e agentes políticos e públicos, incluindo um delegado da PF, policiais militares, ex-secretário municipal e estadual e um deputado estadual empossado em 2024.
A operação mobilizou policiais federais, civis e membros do Ministério Público para cumprir dezenas de mandados. Entre os principais alvos estão, além do próprio deputado:
• Gabriel Dias de Oliveira (Índio do Lixão)
• Luciano Martiniano da Silva (Pezão)
• Edgar Alves de Andrade (Doca)
• Manoel Cinquine Pereira (Paulista)