O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) negou existir evidências que apontem a possibilidade de participação da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) nos casos de adulteração de bebidas alcóolicas por metanol em São Paulo. A fala foi feita durante coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes, nesta terça-feira (30/9).
Nessa segunda-feira (29/9), a Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) havia relacionado os casos de intoxicação ao metanol importado ilegalmente pelo grupo criminoso para batizar combustíveis.
Nesta terça-feira (30/9), a Polícia Civil apreendeu mais de 17,7 mil produtos durante uma operação para combater a falsificação de bebidas alcoólicas em Americana, no interior de São Paulo. O estado enfrenta uma série de casos de intoxicação por bebidas adulteradas com metanol, que já deixou ao menos três mortos.
Policiais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) cumpriram mandados em três endereços, entre eles uma chácara na zona sul da cidade. No imóvel, eram produzidos uísque, gim e vodca e foram encontradas garrafas vazias e bombas com líquidos. A substância metanol, no entanto, não apareceu entre o material apreendido, segundo o Deic.
Mortes por metanol
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) confirmou a terceira morte em decorrência da ingestão de bebida alcoólica contendo metanol em São Paulo. O caso aconteceu em São Bernardo do Campo, na região metropolitana, no último domingo (28/9). A vítima é um homem de 45 anos.
Em 18 de setembro, outro homem, de 48 anos, morreu no município, também após ingerir bebida contendo metanol. A vítima, que morava em Itu, foi socorrida para um hospital de São Bernardo do Campo, onde faleceu.
Três dias antes, em 15 de setembro, um homem de 54 anos morreu na capital paulista. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), ele apresentou sintomas no dia 9 deste mês e foi atendido pela rede privada, mas não resistiu.
A SMS identificou outros 13 casos suspeitos de intoxicação pela substância, dos quais cinco estão em investigação, cinco receberam alta e três pacientes permanecem internados. Já o CVS, órgão ligado ao governo estadual, confirmou seis casos e investiga, ao todo, 10 casos no estado de São Paulo.
“A recomendação é que bares, empresas e demais estabelecimentos redobrem a atenção quanto à procedência dos produtos oferecidos, e que a população adquira apenas bebidas de fabricantes legalizados, com rótulo, lacre de segurança e selo fiscal, evitando opções de origem duvidosa e prevenindo casos de intoxicação que podem colocar a vida em risco”, disse o CVS, em nota.
Alguns casos, inclusive da morte na capital, foram encaminhados ao Ministério da Justiça e Segurança Pública por meio do Sistema de Alerta Rápido (SAR). Além do óbito, outros oito registros no estado de São Paulo foram reportados ao governo federal em um período de 25 dias. As ocorrências haviam sido feitas anteriormente pelo Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox), de Campinas, no interior paulista.
Ministério alerta para surto epidêmico
Diferentemente de outras contaminações por metanol, desta vez a intoxicação se deu em “cenas sociais de consumo alcoólico”, segundo a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad). O Ciatox já havia registrado, nos últimos dois anos, casos de intoxicação da substância pelo uso deliberado de combustível por moradores de rua. Agora, trata-se de consumo de bebida adulterada.
“A ingestão acidental ou intencional de metanol leva a intoxicações graves e potencialmente fatais. O cenário de adulteração é particularmente relevante do ponto de vista de saúde pública, pois episódios dessa natureza frequentemente resultam em surtos epidêmicos com múltiplos casos graves e elevada taxa de letalidade, afetando grupos populacionais vulneráveis e exigindo resposta rápida das autoridades sanitárias. Nesse sentido, requer alerta à população, considerando, inclusive, o início do fim de semana, quando há maior frequência a bares e consumo de bebidas alcoólicas”, diz nota da Secretaria, ligada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Polícia investiga adulteração com metanol
Duas delegacias da Polícia Civil investigam casos de consumo de bebida adulterada. O 2º Distrito Policial de São Bernardo do Campo investiga a morte que ocorreu no município. Já o 48º Distrito Policial, de Cidade Dutra, na zona sul da capital paulista, instaurou um inquérito para investigar outro caso suspeito de “intoxicação provocada pela ingestão de bebida alcoólica adulterada”. Nesse caso, segundo a SSP, não houve morte.
“A autoridade policial realiza diligências e está empenhada na coleta de depoimentos de testemunhas, vítimas e demais envolvidos. Também foram requisitados exames periciais para auxiliar no esclarecimento dos fatos”, diz a SSP, em nota.
Recomendações da Senacon
A nota técnica com recomendações urgentes aos estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas em São Paulo tem como objetivo “orientar o setor privado e desencorajar a ação criminosa de falsificadores e distribuidores irregulares”.
A medida é dirigida a bares, restaurantes, casas noturnas, hotéis, mercados, atacarejos, distribuidores, plataformas de e-commerce e aplicativos de entrega, mas também orienta consumidores sobre sinais de alerta para suspeita de adulteração.
São recomendados aos estabelecimentos:
- Aquisição exclusiva de bebidas por meio de fornecedores formais com CNPJ ativo e regularidade no segmento;
- Compra acompanhada de nota fiscal e conferência da chave de segurança nos canais da Receita Federal;
- Não recebimento de garrafas com lacre e rolha violados, rótulos desalinhados ou de baixa qualidade, ausência de identificação do fabricante e importador, sem a identificação dos lotes, com numeração repetida ou ilegível; e
- Realização de medidas de rastreabilidade como dupla checagem.
- A prática de preços muito abaixo do mercado, odor incompatível com o da bebida, ou relato de sintomas indesejados, como visão turva, dor de cabeça intensa, náusea, tontura ou rebaixamento do nível de consciência, são alertas para suspeita de adulteração.
- “Nessas situações, não realizem ‘testes caseiros’ (cheirar, provar, acender): tais práticas não são seguras nem conclusivas”, reforça a nota técnica.
