Promotores de Justiça do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MPSP) denunciaram, nesta segunda-feira (15), a presidente da Associação da Favela do Moinho, Alessandra Moja Cunha. Na denúncia, o Gaeco também acusa Alessandra e outras pessoas de atuarem em favor da facção Primeiro Comando da Capital (PCC).
Ela é acusada dos crimes de formação de quadrilha, associação para o tráfico, extorsão majorada, receptação qualificada, lavagem de dinheiro e exercício de atividade sem licença ambiental. Já Yasmin Moja foi denunciada pelos três primeiros crimes.
Segundo a denúncia, Alessandra e os demais “constituíram e integraram, pessoalmente, organização criminosa responsável pelo tráfico de drogas e delitos dele derivados, além de extorsões na região central de São Paulo, e promoveram a organização criminosa denominada PRIMEIRO COMANDO DA CAPITAL – PCC”.
De acordo com o MPSP, ela continuou comandando as atividades criminosas lideradas por seu irmão, Leonardo Moja, o “Léo do Moinho”, após a prisão dele em agosto passado. Léo é apontado pelo MPSP como o principal líder do PCC na região central de São Paulo.
Como mostrou a coluna, a ONG liderada por Alessandra se reuniu com o ministro Márcio Macedo, da Secretaria-Geral da Presidência da República, para acertar os detalhes de uma visita do presidente Lula (PT) e da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, à favela.
Na ocasião, no fim de junho, Lula formalizou um acordo para auxiliar os moradores no processo de desocupação do local. Alessandra estava no palco ao lado do presidente e cumprimentou-o.
Na peça, Alessandra Moja Cunha é denunciada junto com outras dez pessoas, inclusive sua filha, Yasmin Moja Cunha. Yasmin participou de várias reuniões com representantes do governo federal para tratar do processo de desocupação da favela, onde o governo do Estado de São Paulo pretende construir um parque. A área pertence à União.
Na semana passada, Alessandra foi alvo da operação Sharpe, deflagrada pelo Gaeco e pelas polícias Civil e Militar de São Paulo. Na casa onde ela estava, a polícia encontrou seis aparelhos celulares, 259 porções de cocaína, 630 de crack e 314 de maconha.
Ainda de acordo com a denúncia, Alessandra Moja e outros integrantes da organização criminosa extorquiram os moradores da favela em valores que podiam chegar a até R$ 100 mil.
Usando de “grave ameaça”, eles buscaram obter “vantagem econômica consistente em R$ 100.000,00 (cem mil reais)”, obrigando os moradores “a devolver parte do valor que receberiam de programa habitacional, consoante relatório elaborado pelo CDHU”.
Como mostrou a coluna Tácio Lorran, Alessandra Moja já foi condenada por homicídio e cumpriu pena em regime fechado.
Durante a operação Sharpe, moradores disseram ter sofrido tortura, coação, ameaças e violação de direitos. Alessandra Moja afirmou ter sido espancada e ameaçada. A PM nega e diz que todas as ações foram conduzidas com “absoluto respeito aos direitos humanos”.
Favela do Moinho era “quartel-general” do PCC, diz Gaeco
Segundo o Gaeco, a favela funcionava como uma espécie de “base” da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) no centro da cidade.
A favela “funcionava como um verdadeiro ‘quartel-general’ de todo o ecossistema criminoso existente na Cracolândia, cuja efetividade pressupunha a vigilância e o monitoramento a partir da captação de sinais de rádios transmissores das forças policiais, bem como a ‘manutenção da ordem’ exercida por meio dos ‘Tribunais do Crime’ e da atividade de traficância”, diz um trecho da denúncia.
“O controle do local é exercido pela família Moja, liderada por Leonardo Monteiro Moja (vulgo ‘Léo do Moinho’), maior liderança do PRIMEIRO COMANDO DA CAPITAL – PCC na região central de São Paulo e responsável por edificar uma verdadeira ‘empresa do crime’ no local, com divisão de tarefas, planejamento de lucro ilícito, domínio territorial, violência, intimidação, imposição da ‘disciplina’ da facção criminosa, além de envolver a corrupção de agentes e a lavagem de capitais”, afirma o Gaeco.
Associação nega acusações
A Associação da Comunidade do Moinho nega as acusações e diz que os moradores do local não têm relação com o PCC. No começo deste mês, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo enviou um ofício à coluna pedindo direito de resposta à primeira reportagem sobre o assunto, publicada em julho.
Segundo a defensoria, a ONG e os moradores “não possuem qualquer vínculo com organizações criminosas e se dedicam a lutar pelo direito à moradia, à integridade pessoal e à segurança pública de todas as famílias residentes da favela durante e após o processo de cessão do terreno”.
Ao longo das últimas semanas, a reportagem tentou contato com a associação diversas vezes, tanto por email quanto por mensagens em redes sociais. Não houve resposta, mas o espaço segue aberto.