A Justiça libertou condicionalmente Maria Fernanda Antunes Martins, a Gordinha, presa sob a suspeita de ser “pombo-correio” de um chefão do Primeiro Comando da Capital (PCC), para o qual levava recados e dele remetia respostas fora dos muros da Penitenciária de Segurança Máxima de Presidente Venceslau, no interior paulista.
Em decisão assinada na segunda-feira (8/9), anexada ao processo — que segue em sigilo –, o juiz Rudi Hiroshi Shinen seguiu manifestação favorável do Ministério Público de São Paulo (MPSP) para a soltura da ré. Na argumentação, o magistrado destaca que Maria Fernanda conta com “bons antecedentes”, além de ser ré primária.
Para a soltura, ele determinou para que ela compareça bimestralmente à Justiça e permaneça em casa no período noturno. Ela estava atrás das grandes desde outubro do ano passado.
Arte/Metrópoles
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Veja quem é o “Tiquinho”, membro do PCC, que assediou ministro do STF
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O Metrópoles revelou que Maria Fernanda se valia da condição de esposa para realizar visitas a Tiquinho, nas quais dava retornos sobre os negócios do marido — principalmente o tráfico de drogas — e dele recebia demandas e recados, posteriormente compartilhados com os parceiros do companheiro, que estavam em liberdade.
Documentos do MPSP e da Polícia Civil, obtidos pela reportagem, mostram ainda que seu envolvimento ia além de uma simples portadora de recados. Maria Fernanda é descrita como ativa na associação criminosa, sintetizando operações de contabilidade do tráfico, controlando valores de drogas — de acordo com sua origem e qualidade — e gerindo o dinheiro disponível em conta.
Anotações em seu bloco de notas do celular confirmaram a movimentação expressiva de valores, chegando a R$ 919.200,00 em conta, além de R$ 20.000,00 e U$ 100.000,00 em mãos, com créditos pendentes.
O serviço de “pombo correio”
Maria Fernanda recebia cartas de Tiquinho — contendo instruções detalhadas sobre operações do narcotráfico, pagamentos e distribuição de drogas — repassadas aos demais integrantes da organização. Suas visitas frequentes ao marido na prisão, desde 2019, eram cruciais para a continuidade das operações do tráfico.
Sua relação com Willian Ali Srour, conhecido pelos vulgos “Gordo”, “W” ou “WG”, também é descrita como de grande intimidade e confiança na execução e gestão das ordens recebidas do marido.
Gordo era o responsável pela contabilidade financeira de Tiquinho, realizando cobranças e gerenciando pendências e créditos junto a outros criminosos no narcotráfico. As conversas diárias entre Maria Fernanda, Gordo e Alex Araújo Claudino, o Frango, garantiam que Tiquinho fosse mantido a par de toda a movimentação financeira e do tráfico. A mulher também interpretava e sintetizava informações sobre a compra e a venda de drogas.
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Frango, o “testa-de-ferro” do chefão
Outro membro chave em sua rede era Frango, único dos suspeitos mencionados nesta reportagem ainda foragido. Ele, como mostram conversas interceptadas, era um interlocutor constante de Maria Fernanda no celular.
Frango é o parceiro e braço direito de Tiquinho há anos, responsável pela logística de coleta e entrega de dinheiro e drogas. Ele coordena as ações do grupo e chegou a administrar as despesas de viagem de Maria Fernanda.
Em diversas ocasiões, a esposa de Tiquinho — solta desde o início desta semana — retransmitia a Frango as cartas com as ordens do marido e solicitava pagamentos via Pix, evidenciando, segundo as investigações, a interdependência e a natureza financeira da associação criminosa.
Condenado por tráfico de drogas, associação criminosa, além de contar com antecedentes por falsificação de dinheiro e lesão corporal, Frango também contribui na lavagem de dinheiro movimentado pelo PCC.
Ele ainda participa do controle financeira da célula da facção chefiada por Tiquinho, recebendo e realizando depósitos, muitos deles via Pix, incluindo na contratação de advogados para que defendam comparsas criminosos.
A defesa dos réus mencionados nesta reportagem não foi encontrada. O espaço segue aberto para manifestações.