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Nenhum dos PMs da Rota que matou mecânico negro usava bodycam

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Nenhum dos PMs da Rota que matou mecânico negro usava bodycam

Nenhum dos policiais militares (PMs) das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota) que participaram da ocorrência que resultou na morte do mecânico negro Alex dos Santos Silva, de 29 anos, usava bodycam (câmeras corporais) no momento dos disparos, efetuados em uma rua escura e vazia no extremo sul de São Paulo, no último dia 24.

Sem as imagens, a única versão oficial sobre o caso foi dada pela Polícia Militar no boletim de ocorrência (B.O.) que registrou o caso. Os detalhes sobre o ocorrido, no entanto, foram fornecidos por um agente que não participou da ocorrência, mas que trabalha no mesmo batalhão dos autores dos disparos que tiraram a vida do mecânico: Mário de Cicco Filho, Luis Fernando Santos Correia e Ezequiel Scaffman Mota.

Outro PM que também estava na ação, Fernando Felix, que aparece no BO como investigado. Alex e os agentes aparecem como autor/vítima. Nenhum dos quatro policiais usava bodycam no momento da ocorrência, conforme aponta o registro policial.

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Avenida Paulo Guilguer Reimberg, na zona sul de São Paulo, onde o mecânico Alex dos Santos Silva foi morto por PMs da Rota, na noite de um domingo. Agentes não usavam bodycam

Reprodução/Google Maps2 de 5

Alex dos Santos Silva foi morto pela Rota aos 29 anos de idade, enquanto saia do trabalho, na zona sul de São Paulo

Arquivo pessoal3 de 5

Alex, Eliana e o filho do casal, de quatro anos de idade

Arquivo pessoal4 de 5

PMs alegam que mecânico portava revólver e mochila com drogas, mas esposa nega

Arquivo pessoal5 de 5

Homem é morto pela polícia e família cobra investigação

Reprodução/Redes Sociais

O que diz o BO

Versão da PM

De acordo com a versão dos policiais, o mecânico portava um revólver calibre .38 com numeração suprimida e cinco cartuchos intactos. Não há registro de que ele tenha efetuado qualquer disparo.

Em vistoria no interior do veículo, os PMs dizem ter encontrado uma mochila com substância entorpecente, “aparentemente maconha”. Segundo o BO, não foi possível determinar a quantidade, e nem mesmo se eram tijolos ou porções fracionadas. Também não há registro de que foi encontrado dinheiro na bolsa ou no carro.

O carro, que não estava no nome de Alex e não possuía seguro, não tinha queixa de furto ou de roubo. O veículo foi apreendido, assim como um relógio, duas correntes douradas e um celular — que não foram atribuídos ao mecânico no registro oficial.

Segundo o registro, Alex chegou com vida ao hospital, mas não resistiu. A unidade hospitalar em que ele foi atendido, no entanto, não é informada no BO.

A perícia da cena do crime foi feita por agentes do 101º Distrito Policial (Jardim das Imbuias), onde a ocorrência foi inicialmente registrada. Agora o caso é investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil de São Paulo.

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Esposa diz que PMs plantaram arma

Segundo Eliana, não é verdade que Alex portava uma arma ou drogas no momento em que foi morto pela polícia.

“Isso é o que eles falam, que estava com uma arma e uma mochila com drogas, eles sempre falam isso. É claro que não, ele não tem arma, não usa isso, a polícia plantou essa arma lá”, disse ao Metrópoles.

A jovem, de 26 anos, questiona ainda a versão de que o mecânico teria mencionado a intenção de trocar tiros com a Rota sozinho, de dentro de um carro. “Eles fazem sempre isso, sempre falam isso. Eles são muito burros. Querem fazer as coisas tão feitas, só que sempre deixam uma brecha. E mais burro ainda é quem acredita nisso”, afirmou.

Para Eliana, o registro policial é uma tentativa de tirar a responsabilidade dos agentes e colocar a culpa da ocorrência em Alex. “Até quando eles vão ficar fazendo isso com pessoas inocentes e fica caluniando com isso sempre difamando a dignidade das pessoas assim?”, questionou a viúva. Ela diz que vai até o fim para mostrar que o marido é inocente.

Resolução do STF fala sobre obrigatoriedade das câmeras

Por mais que a presença do equipamento garantisse a compreensão da dinâmica da ocorrência, os agentes não eram obrigados a estar com as bodycams em seus uniformes.

Uma resolução do Supremo Tribunal Federal (STF) determina que é obrigatório o uso da câmera corporal por PMs em São Paulo no caso de regiões com equipamentos disponíveis e “em operações de grande porte ou que incluam incursões em comunidades vulneráveis, quando se destinarem à restauração da ordem pública”.

A Corte também determinou o uso obrigatório das boydcams em operações deflagradas para responder a ataques contra policiais militares. Caso seja necessário o deslocamento de tropas, policiais que usem o equipamento deverão ser priorizados. Se isso não for possível, é preciso apresentar razões técnicas, operacionais e/ou administrativas que justifiquem a medida, definiu o tribunal.

Dor do luto

Não é apenas Eliana quem sofre com a morte de Alex. Segundo a jovem, a mãe do mecânico está “arrasada”. A família ainda não consegue acreditar que o caso, de fato, aconteceu.

O casal tem juntos um filho de quatro anos, que também está sofrendo com a perda do pai. “A vida dos dois era um pelo outro, sabe? Era um amor surreal. Ele não largava o pai de jeito nenhum, só vivia chorando, querendo o pai. E assim como o Alex também, não deixava ele. Tudo era por ele, tudo fazia por ele. E era assim. Eram muito muito grudado”, finalizou a viúva.

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