Em 2025, o Brasil fez história ao conquistar seu primeiro Oscar com Ainda Estou Aqui. Agora, a expectativa se renova com O Agente Secreto, novo longa de Kleber Mendonça Filho, escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para disputar uma vaga em Melhor Filme Internacional.
A produção estreia em 6 de novembro, mas já chega cercada de prestígio: Wagner Moura venceu como Melhor Ator e Mendonça levou o prêmio de Melhor Diretor em Cannes. A revista americana Variety chegou a prever que o filme pode superar o feito de Ainda Estou Aqui na corrida pelo Oscar.
O entusiasmo acompanha um crescimento real do mercado. Entre maio de 2024 e maio de 2025, a venda de ingressos para produções nacionais cresceu 197%, segundo levantamento da Ingresso.com divulgado pela Exame. Títulos como Homem com H, Baby e O Último Azul ampliaram o alcance das obras brasileiras tanto nos cinemas quanto nas plataformas de streaming.
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Dados oficiais reforçam o cenário. O Relatório Focus 2025 mostra que o país registrou o segundo maior crescimento de público nas salas de cinema em 2024, recuperando 70% do patamar pré-pandemia. Já a Ancine aponta que a exibição de obras nacionais subiu 23% no primeiro semestre de 2025. Nesse contexto, O Agente Secreto chega não apenas como candidato ao Oscar, mas como símbolo de uma nova fase de vitalidade do cinema brasileiro.
Cena do filme O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho
Divulgação
Maria Fernanda Candido em O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho
Cinema Scopio/Divulgação
O Agente Secreto
Divulgação
Wagner Moura no filme O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho
Victor Juca/Divulgação
Esse novo fôlego vem depois de anos de restrições orçamentárias. Em 2020, durante o governo Jair Bolsonaro, o Fundo Setorial do Audiovisual sofreu um corte de quase 43%, ficando em R$ 415,3 milhões. Cinco anos depois, o orçamento previsto mais que dobrou, chegando a R$ 892 milhões em 2025. A paralisação de quatro meses dos atores em Hollywood também ajudou a ampliar a visibilidade do cinema brasileiro no mercado internacional.
“Só temos a comemorar, porque o cinema brasileiro, de vez em quando, morre, mas ele renasce. Quando renasce, vem com essa força, é uma fênix”, declarou Fernanda Torres nas redes sociais.
Clima de Copa do Mundo
A torcida que tomou conta da internet durante a indicação de Fernanda Torres e de Ainda Estou Aqui ao Oscar se repete com O Agente Secreto. Antes mesmo de ser escolhido como representante do Brasil, o longa já mobilizava as redes sociais.
Seis filmes disputavam a indicação da Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais. O Agente Secreto era apontado como favorito, mas Manas, de Marianna Brennand Fortes, ganhou fôlego na disputa com o apoio do produtor Sean Penn e da atriz Julia Roberts.
O filme acompanha a trajetória de Tielle, uma adolescente da Ilha do Marajó (PA) que enfrenta pobreza e insegurança alimentar. Para sustentar a família, ela vende açaí em balsas, mas acaba exposta à exploração sexual — um retrato das violências que já sofria dentro da própria casa.
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A cineasta Cibele Amaral, que integrou a comissão do Oscar, define o atual momento do cinema brasileiro como “paradoxal”.
“Temos um filme que está incrível, mas estamos com uma crise na distribuição e na difusão das obras. Não temos um mercado verdadeiro, saudável e intenso para as obras brasileiras. A gente disputa com obras internacionais de grande valor de publicidade, então é difícil pra gente”, explica.
Cibele Amaral, cineasta
“O mercado tem fome do cinema nacional”
O atual cenário do cinema nacional é celebrado pelo público brasileiro e por especialistas da dramaturgia. O diretor Pedro Leitão classifica o momento como “revigorante”. “O público parece interessado no cinema nacional e resta entender o quão sustentável isso vai ser a médio e longo prazo. Mostra que o mercado tem fome do cinema nacional e que a gente tem talento para exportar”, declara.
William Alves, organizador do Festival Taguá de Cinema, endossa a visão de Pedro. Para ele, o sucesso de filmes como Ainda Estou Aqui, O Agente Secreto e O Último Azul é fruto da identificação do público com as histórias. Por outro lado, o especialista ressalta que muitas pessoas ainda não possuem acesso ao cinema — seja por falta de tempo ou por condições financeiras.
“A gente vive uma condição de exclusão muito grande ainda. Os trabalhadores estão sem tempo e sem energia para irem ao cinema. Eles vão ver YouTube ou, no máximo, um programa de televisão. O fato do público estar acessando mais o cinema nacional não quer dizer que esteja indo mais ao cinema, porque tem outros fatores que são de ordem econômica que influenciam na saída do público ao cinema.”
William Alves, organizador do Festival Taguá de Cinema
Como atriz, diretora e produtora, Catarina Accioly reflete sobre os desafios enfrentados na dramaturgia brasileira. Apesar de considerar que o bom momento do cinema nacional está rendendo mais oportunidades, ela reflete que muitas vezes ainda se sente silenciada.
“Os financiamentos não têm uma regularidade de cronograma, isso faz com que a gente não consiga fazer um planejamento. Os últimos editais têm tido uns processos avaliatórios extremamente parciais e eu, como mulher roteirista, diretora e produtora, que tenho filmes com temáticas mais contundentes a respeito de não silenciamentos, me sinto bastante silenciada nos editais públicos”, conta.
O Agente Secreto
Em O Agente Secreto, Wagner Moura dá vida a Marcelo, um homem de aproximadamente 40 anos que se mudou para Recife em 1977 para fugir de um passado violento.
Ao chegar na capital pernambucana em plena semana de Carnaval, Marcelo percebe que atraiu para si todo o caos do qual ele sempre tentou fugir. Para piorar, ele ainda começa a ser espionado pelos vizinhos.