Faz poucos dias o calendário das grandes (e muitas) tristezas brasileiras viu passar quase silenciosamente os 49 anos da morte de Juscelino Kubitschek, completados no último 22 de agosto. O fundador de Brasília morreu num acidente de carro na Via Dutra em circunstâncias nunca totalmente esclarecidas. Seu motorista (e amigo) Geraldo Ribeiro também morreu na colisão do Opala que dirigia com uma carreta na altura do antigo km 165, hoje km 328.
A morte abrupta de Juscelino, o inimigo número um da ditadura, consternou o Brasil, e em especial Brasília, numa das manifestações mais memoráveis e por certo a mais comovente da história candanga. Entre 60 mil e 100 mil brasilienses, as estimativas variam, tiraram o corpo de Juscelino do carro do Corpo de Bombeiros e o levaram num cortejo cantante e choroso desde próximo a Catedral até o Campo da Esperança. Ouvia-se ao longe, em toda a W-3 Sul, os ecos do Peixe Vivo.
Como Brasília poderia viver sem a companhia de Juscelino? Quatro horas de uma procissão que de algum modo antecipou a luta da sociedade civil brasileira pelo fim da ditadura instalada em 1964.
Seis dias depois do sepultamento de JK, os jornais cariocas amanheceram com vários convites para a missa de sétimo dia na Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro. Um desses anúncios é muito mais do que um triste chamado, é uma manifestação coletiva e simbólica de admiráveis brasileiros das mais diversas áreas de atuação.
O convite é assinado por, entre outros, Chico Buarque de Holanda, Fernando Henrique Cardoso, Oscar Niemeyer, Antônio Callado, Celso Furtado e Di Cavalcanti. São 61 nomes entre atores, músicos, juristas, atores, arquitetos, poetas, políticos, dramaturgos, intelectuais, economistas, cineastas, jornalistas.
Do gesto desses brasileiros da mais alta linhagem brotou, é possível supor, uma inesperada e inequívoca frente ampla de defensores da democracia. Vale dizer que àquela altura assinar um convite de missa pela alma de Juscelino era um manifesto de bravura.
A lista de quem assinou o convite para a missa na Candelária é um retrato brasileiro para se colocar na parede. Aqui está ela, em ordem alfabética, tal como foi publicada:
- Alceu Amoroso Lima, Alberto Dines
- Alberto Reis, Antonio Callado
- Antonio Carlos Jobim
- Argemiro Ferreira
- Albino Pinheiro
- Barbosa Lima Sobrinho
- Bené Nunes
- Bibi Ferreira
- Carlos Alberto Prates
- Carlos Chagas
- Carlos Diegues
- Celso Furtado
- Cícero Sandroni
- Chico Buarque de Holanda
- Darcy Ribeiro
- Dias Gomes
- Egberto Gismonti
- Emiliano Di Cavalcanti
- Enio Silveira
- Eurico Amado
- Evaristo de Moraes Filho
- Fernando Henrique Cardoso
- Fernando Gasparian
- Flávio Rangel
- Francisco de Assis Barbosa
- Geraldo Carneiro
- Gualberto Reis
- Helio Fernandes
- Janete Clair
- Joaquim Pedro de Andrade
- Joel Silveira
- José Honório Rodrigues
- José Zanini
- Juca de Oliveira
- Julio Cesar Leite
- Lucio Costa
- Luis Carlos Barreto
- Max da Costa Santos
- Maria Vitória de Mesquita Benevides
- Millor Fernandes
- Moacyr Werneck de Castro
- Nara Leão
- Niomar Moniz Sodré Bittencourt
- Nelson Pereira dos Santos
- Oscar Niemeyer
- Olga Savary
- Paulo Autran
- Paulo Francis
- Paulo Mendes Campos
- Paulo Pontes
- Renato Archer
- Raul Riff
- Sérgio Jaguaribe (Jaguar)
- Sobral Pinto
- Vinicius de Moraes
- Vitor Nunes Leal
- Waldyr Pires
- Zelito Viana
- Zuenir Ventura.
* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.