Longe dos presídios de segurança máxima e das operações policiais, um homem leva uma vida de luxo e aparente tranquilidade. Ele frequenta restaurantes caros, mora em mansões avaliadas em milhões de reais e participa de festas com amigos e familiares. Seu nome é Sérgio Luiz de Freitas Filho (foto em destaque), mas no universo do crime é conhecido por apelidos como: “Mijão”, “Xixi” ou “2X”.
Aos 46 anos, é considerado pelas autoridades brasileiras como o traficante mais procurado do país e a principal liderança do Primeiro Comando da Capital (PCC) em liberdade.
Enquanto Marco Willians Herbas Camacho, o “Marcola”, segue lembrado como o nome mais famoso da facção, mesmo isolado em um presídio federal em Brasília, é “Mijão” quem dita as regras nas ruas.
Leia também
-
“Mijão”, que mandou matar promotor, lidera “ala da morte” do PCC
-
Quem é “Mijão”, líder do PCC que ordenou morte de promotor em SP
-
Guerra na Bolívia: a missão fracassada do “Embaixador da morte”
-
PCC: mortes brutais revelam nova fase da guerra da cocaína na Bolívia
A partir de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, ele é apontado como responsável por coordenar um esquema internacional de drogas que movimenta bilhões de reais e se estende por vários continentes, mantendo-se há mais de uma década fora do alcance da Justiça.
Ascensão dentro da facção
A trajetória de Sérgio Luiz de Freitas Filho se confunde com a expansão do PCC para além das fronteiras brasileiras. Nascido em Campinas (SP), sua juventude não indicava que chegaria ao topo do crime organizado. Trabalhou em uma metalúrgica aos 14 anos e, mais tarde, tornou-se sócio de uma pequena empresa de usinagem.
No entanto, já no início da década de 2010, seu nome passou a aparecer em investigações sobre tráfico internacional. O ponto de virada ocorreu em 2013, quando a agência antidrogas dos Estados Unidos (DEA) emitiu alerta sobre uma quadrilha que atuava na tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Bolívia. “Mijão” já integrava o grupo.
Sua missão, determinada por Gilberto Aparecido dos Santos, o “Fuminho”, então um dos principais líderes da facção, era estabelecer a base de operações na Bolívia e garantir o fluxo de pasta-base de cocaína para o Brasil.
Com a prisão de Fuminho em 2020, em Moçambique, e a morte de outros líderes como Gegê do Mangue e Paca em 2018, ele consolidou espaço para crescer. Não apenas cumpriu a função designada, como expandiu a estrutura, estabelecendo raízes sólidas para o PCC em Santa Cruz de la Sierra. O Ministério Público de São Paulo aponta que ele ocupa hoje a “Sintonia Final”, instância máxima da facção responsável pelas decisões estratégicas.
Refúgio boliviano
Santa Cruz de la Sierra, cidade mais próspera da Bolívia, tornou-se um refúgio para líderes da organização criminosa. A localização estratégica, a economia dolarizada e a fragilidade institucional contribuem para que criminosos encontrem terreno fértil para permanecerem em liberdade.
Sob a identidade falsa de “Sérgio Noronha Filho”, “Mijão” construiu uma rotina de luxo. Investigações apontam que ele vive em mansões. Registros mostram sua presença em restaurantes e festas, sempre cercado por seguranças.
Embora autoridades bolivianas afirmem que, quando identificados, criminosos são presos e extraditados, investigações apontam que muitas ordens de captura permanecem sem execução efetiva.
O Paraguai e a Bolívia funcionam como bases centrais para a produção e escoamento da cocaína. Estimativas apontam que o núcleo liderado por “Mijão” tenha movimentado mais de R$ 1 bilhão entre 2018 e 2019.