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O poder das trends nas estratégias de negócio

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O poder das trends nas estratégias de negócio

Usuários de redes sociais têm acompanhado o surgimento espontâneo de diversas tendências que rapidamente ganham popularidade.

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Entre os exemplos mais recentes estão o Labubu, boneco colecionável que virou febre; o Morango do Amor, uma releitura contemporânea da tradicional maçã do amor; e os cadernos de colorir da marca Bobbie Goods, que conquistaram o público com apelo nostálgico e estético.

Em um cenário onde esses fenômenos podem gerar milhões em faturamento da noite para o dia, surge um questionamento para os empreendedores: as trends das redes sociais representam oportunidades de ouro ou armadilhas perigosas para os negócios?

Uma pesquisa da Rakuten Advertising aponta que 61% dos consumidores (no Brasil e globalmente) fizeram compras motivadas por recomendações de influenciadores nos últimos seis meses.

No Brasil, 83% já compraram produtos acima de R$ 100 indicados por influenciadores, sendo que 38% chegaram a gastar mais de R$ 500.

Esses números reforçam como a força das redes sociais vai muito além do entretenimento, transformando-se em uma vitrine de consumo em tempo real.

Segundo o especialista em vendas e tecnologia, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e CEO da Receita Previsível, Thiago Muniz, a resposta está no que ele define como “empreendedorismo de tendência”, uma abordagem estruturada que permite às empresas surfar nas ondas digitais sem perder a essência do negócio.

Porém, para Muniz, a questão central não é apenas acompanhar o que está em alta, mas sim entender se aquela tendência conversa com o posicionamento da marca.

“É fácil se perder no hype e lançar produtos ou campanhas que não têm conexão com a identidade da empresa. O principal risco é conquistar uma atenção momentânea, mas perder credibilidade no longo prazo”, alerta o especialista.

“As redes sociais deixaram de ser apenas vitrines de produtos para se tornarem espaços de diálogo. Quando uma marca decide entrar em uma trend, precisa pensar não só em visibilidade, mas em como essa comunicação contribui para construir narrativa e reputação de longo prazo.”

Stefani Pereira, fundadora e CEO da Temma

Seguir o hype ou não, eis a questão

Mais do que aderir a uma trend, o verdadeiro desafio das marcas é alinhar autenticidade ao movimento. Pesquisas recentes mostram que 86% dos consumidores consideram a autenticidade um fator decisivo na hora de apoiar marcas.

Quando isso ocorre, as chances de engajar e fidelizar clientes aumentam significativamente, transformando o empreendedorismo de tendência em uma estratégia de crescimento e abertura para novos públicos.

Por outro lado, a volatilidade típica das trends também exige cautela. Um exemplo é o chamado “efeito meteoro”, quando marcas investem alto em algo que viralizou, mas veem o engajamento desaparecer tão rápido quanto surgiu. Nesses casos, o prejuízo pode ser maior do que o retorno.

Muniz destaca que a chave está no equilíbrio.

“O segredo é observar o que faz sentido para o seu negócio e, se decidir entrar em uma trend, criar uma estratégia que vá além do imediatismo. Isso inclui mensurar resultados, planejar a comunicação e, principalmente, manter coerência com a proposta de valor da empresa”.

Thiago Muniz, especialista em vendas e tecnologia, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e CEO da Receita Previsível

Os três pilares do sucesso

Muniz identifica três características essenciais para quem deseja aproveitar as tendências de forma sustentável:

Originalidade

Não se trata de copiar, mas de encontrar sua própria interpretação da tendência. Exemplificando, o morango do amor foi um produto que várias casas de confeitaria e confeiteiras artesanais passaram a produzir assim que a trend explodiu.

“No entanto, para deixar o produto original e com um diferencial, alguns empreendedores imprimiram suas marcas pessoais na embalagem, na forma de divulgar, e assim em diante, chamando mais a atenção à experiência completa do consumidor”, explica Thiago.

A originalidade permite que a marca se destaque em meio ao mar de imitadores que surge quando uma trend explode.

Inovação

O segundo pilar vai além de acompanhar o que está em alta: trata-se de reinventar produtos ou serviços já existentes para que conversem com o contexto da tendência.

“Um exemplo, é o do whey protein com sabor de waffle. O whey é um produto clássico, que já existia no mercado, com os sabores tradicionais, mas que ganha uma roupagem inovadora ao se conectar com tendências gastronômicas. Esse movimento mostra como a criatividade pode revitalizar algo tradicional e abrir novas oportunidades de consumo”, rememora Muniz.

Aqui, a inovação aparece como estratégia de renovação constante, ajudando empresas a manterem produtos relevantes mesmo em um cenário de mudanças rápidas.

Pertencimento sobre lembrança

Para Muniz, não basta que a marca seja lembrada; é fundamental que o consumidor se sinta parte de algo maior.

“Quando o cliente se identifica com a proposta e percebe que faz parte daquela comunidade, a conexão emocional é muito mais forte. Ele deixa de ser apenas comprador e passa a ser um embaixador natural da marca”, reforça.

Nesse sentido, o pilar do pertencimento cria laços duradouros e engajamento genuíno, essenciais para que uma tendência não se esgote no curto prazo.

Trends e o planejamento como diferencial competitivo

Para Thiago, a diferença entre o sucesso e o fracasso no empreendedorismo de tendência está na capacidade de planejamento. Para ele, é fundamental se preparar para tomar decisões rápidas, perceber o interesse do público ao longo do tempo e avaliar se o mercado é realmente viável para o produto ou serviço que viralizou.

O especialista recomenda que empreendedores desenvolvam uma rotina estruturada para acompanhar novidades digitais.

“Permaneça sempre questionando: ‘Por que meu cliente me escolheu?’. Essa reflexão constante sobre o valor entregue ajuda a identificar quais tendências fazem sentido para cada negócio”, frisa.

Oportunidades e armadilhas nas trends virais

Embora reconheça que existam “oportunidades milagrosas de conseguir dinheiro” por meio das trends, Muniz alerta para os riscos de uma abordagem superficial. “Hoje em dia, a inovação faz parte da vantagem competitiva, principalmente na experiência do cliente. Mas, é preciso saber se seu objetivo está sendo realmente atingido.”

Nesse sentido, ele destaca a importância de ouvir o consumidor de forma estruturada, indo além do entusiasmo do momento.

“Muitas empresas se limitam a acompanhar comentários nas redes sociais ou impressões durante a interação, mas isso nem sempre reflete a experiência real do cliente.

O ideal é fazer pesquisas posteriores quando o consumidor já concluiu o contato com a marca, para entender se os objetivos foram atingidos de fato, explica.

Para Muniz, essa prática ajuda a identificar se uma trend gerou apenas engajamento passageiro ou se trouxe valor concreto para o negócio.

“Em um ambiente digital onde trends nascem e morrem em questão de dias, apenas as empresas que combinam agilidade com estratégia conseguem transformar virais momentâneos em resultados duradouros”, ressalta Thiago Muniz.

“O algoritmo pode até impulsionar uma trend, mas é a consistência da comunicação que fideliza. Marcas que conseguem transformar o hype em conversa relevante com sua comunidade seguirão tendo muito mais chances de converter curtidas em relacionamento e consumo”, complementa Stefani Pereira.

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