A Justiça de São Paulo determinou que os policiais militares envolvidos na morte de Allan de Morais Santos, ocorrida em fevereiro de 2024, na Operação Verão, sejam julgados no Tribunal do Júri. Diogo Souza Maia e Glauco Costa respondem por homicídio qualificado, com suspeita de terem forjado a cena do crime para criar uma versão falsa, de que a vítima tinha uma pistola e um fuzil no porta-malas do carro.
Allan de Morais Santos, conhecido como “Príncipe”, foi morto enquanto voltava do trabalho como roupeiro no Jabaquara Atlético Clube, em Santos.
Ao determinar a pronúncia dos réus, o juiz Alexandre Betini, da Vara do Júri de Santos, afirmou que não há elementos para sustentar a tese de que os PMs agiram em legítima defesa. Atualmente, a dupla está afastada dos trabalhos operacionais, cuidando de serviços administrativos na PM.
“Ao contrário, os laudos produzidos durante a investigação policial apontam exatamente o oposto”, disse o magistrado.
Allan de Morais
Reprodução
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“O Ministério Público, baseado nos laudos existentes no processo, indica que a pistola que supostamente pertenceria à vítima teria sido plantada pelos réus, uma vez que em um primeiro momento não aparece nenhuma pistola, somente após algum tempo, mesma situação em relação ao fuzil supostamente encontrado no porta-malas do veículo”, acrescentou.
Durante a ação que vitimou Allan de Morais, os PMs usavam câmeras corporais. Na denúncia, oferecida em novembro do ano passado, os promotores do MPSP disseram que as imagens dos equipamentos contradizem a versão oficial.
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Os PMs disseram em depoimento que, após localizarem Allan, o suspeito teria se negado a descer do carro, feito o veículo colidir contra a viatura e teria apontado uma pistola para a equipe policial. Antes que pudesse atirar, foi alvo de quatro tiros de pistola e quatro de fuzil.
Com base na perícia do Instituto de Criminalística, os promotores afirmam na denúncia que, na verdade, os disparos teriam ocorrido antes da colisão entre os veículos, o que indicaria que Allan não resistiu à abordagem.
Imagem de câmera corporal
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De acordo com o MPSP, o policial Diogo Souza Maia foi até a janela do veículo e deu quatro tiros de fuzil em sequência. Com Allan baleado, o carro teria andado alguns metros e colidido com a viatura. Na sequência, dizem os promotores, Glauco Costa também atirou quatro vezes.
“O suposto encontro da pistola no interior do Jeep e o arremesso para fora por parte do acusado Diogo Maia para que o denunciado Glauco Costa recolhesse o armamento teve sua ação obstruída, de modo que as câmeras corporais não filmaram a encenação anterior dos disparos e o posterior ‘encontro’ da arma”, dizem os promotores.
“Príncipe do PCC”
A morte de Allan de Morais Santos foi comemorada pelas polícias de São Paulo como uma vitória na luta contra o crime organizado. Segundo a versão oficial, “Príncipe” seria um importante nome do Primeiro Comando da Capital (PCC) na Baixada Santista. No dia do ocorrido, teria surgido a informação de que ele estaria transportando armas para a facção.
Santos tinha passagem pela polícia por tentativa de homicídio e associação criminosa. Ele chegou a ficar preso durante 10 anos, mas há 4 anos cumpria pena em regime aberto. A família afirma que, desde que saiu da prisão, não teve qualquer relação com o crime.
A morte de Allan de Morais foi citada em diversas oportunidades pelo secretário da Segurança Pública (SSP), Guilherme Derrite, como um troféu da Operação Verão.
Família
Em 7 de novembro, o Metrópoles conversou com Luciana de Castro, esposa de Allan de Morais. A mulher disse que, após a morte do marido e outros episódios de violência na região, decidiu deixar o Morro do São Bento.
“Eu sou moradora do morro, estou vendendo minha casa pela metade do preço. Eu quero ir embora. Não dá mais para viver aqui. A gente é daqui, a gente é nascido e criado no morro. Minha raiz é aqui”, contou a moradora.
“Da maneira que meu marido morreu, da maneira que o filho da Bia morreu, é claro que a gente tem medo. Tudo isso é terrível”, desabafou Luciana.
A mulher afirmou que, mesmo após o fim da Operação Verão III, em 1º de abril, a violência policial no Morro do São Bento não reduziu.
“Não houve redução da presença da polícia. Acho que isso foi abafado um pouco, na mídia. Mas aqui está tudo igual.”
