Desde o temporal da última segunda-feira (22/9), frequentadores do Parque da Aclimação, na zona sul de São Paulo, passaram a notar centenas de peixes mortos às margens do lago, que é o cartão postal do lugar. Além dos animais, o espelho d’água está sujo, repleto de todo tipo de detrito que é jogado nas ruas, bem como com manchas de esgoto.
A reportagem do Metrópoles esteve no parque na tarde desta quinta-feira (25/9) e encontrou peixes boiando em diversos pontos da margem do lago, em meio a muito lixo. Apesar do dia frio e nublado, com temperatura em torno dos 15°C, o vento trazia consigo o cheiro dos peixes mortos.
Na margem mais próxima da Rua Muniz de Souza, foram encontrados ao menos 11 sacos cheios de peixes, com aspecto de que teriam sido recolhidos horas antes. No lago, uma dupla de funcionários usava um barco para retirar, com um puçá (espécie de rede), aqueles que boiavam nos cantos. Urubus também cercavam os peixes.
Segundo pessoas que frequentam diariamente o local, outras levas de peixes mortos já tinham sido retiradas do lago, entre terça e quinta.
O lago do Parque da Aclimação é formado pelos córregos Pedra Azul e Jurubatuba Mirim. Ambos correm sob o asfalto e recebem águas das chuvas que atingem o bairro. Durante temporais, como o de segunda-feira, toda a poluição que é arrastada pela enxurrada acaba no lago. Também chega água “por cima”, vinda da rua. Grelhas de proteção ainda estavam imundas nesta quinta.
A relação entre o lago, seus córregos formadores e as tempestades já provocou cenas de “filme catástrofe” na Aclimação. Em 2009, depois de uma tempestade de verão, o antigo vertedouro não suportou a quantidade de água e extravasou, inundando um campo de futebol e as ruas imediatamente mais próximas. O asfalto ficou tomado por milhares de peixes.
19 imagens
Fechar modal.
1 de 19
Peixes mortos no lago do Parque da Aclimação, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
2 de 19
Peixes mortos no lago do Parque da Aclimação, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
3 de 19
Funcionários trabalham na limpeza de lago do Parque da Aclimação, na zona sul de São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
4 de 19
Peixes mortos no lago do Parque da Aclimação, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
5 de 19
Peixes mortos no lago do Parque da Aclimação, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
6 de 19
Funcionários trabalham na limpeza de lago do Parque da Aclimação, na zona sul de São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
7 de 19
Lago do Parque da Aclimação, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
8 de 19
Peixes mortos no lago do Parque da Aclimação, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
9 de 19
Funcionários trabalham na limpeza de lago do Parque da Aclimação, na zona sul de São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
10 de 19
Peixes mortos no lago do Parque da Aclimação, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
11 de 19
Peixes mortos no lago do Parque da Aclimação, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
12 de 19
Peixes mortos no lago do Parque da Aclimação, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
13 de 19
Funcionários trabalham na limpeza de lago do Parque da Aclimação, na zona sul de São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
14 de 19
Sujeira acumulada em grelhas de proteção do Parque da Aclimação, na zona sul de São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
15 de 19
Peixes mortos no lago do Parque da Aclimação, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
16 de 19
Peixes mortos no lago do Parque da Aclimação, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
17 de 19
Peixes mortos no lago do Parque da Aclimação, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
18 de 19
Peixes mortos no lago do Parque da Aclimação, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
19 de 19
Peixes mortos no lago do Parque da Aclimação, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
Segundo pessoas que acompanham há anos a situação do parque, o lago acabou por se tornar um grande piscinão, como são conhecidos, em São Paulo, os reservatórios usados para minimizar os efeitos das enchentes, represando a água da chuva. Dentro dele, além do lixo, chegam restos de materiais de construção e também muita areia, provocando assoreamento.
A reportagem conversou que pessoas que conhecem o Aclimação e que afirmaram que o único equipamento responsável pela aeração da água (para aumentar a quantidade de oxigênio) do lago está quebrado.
Ex-conselheira gestora do parque e integrante do Fórum Verde Permanente, a tradutora Claudia Santana Martins, 64 anos, diz que não é a primeira vez que peixes morrem após um temporal. “O que acontece quando o lago sobe é que saem alguns peixes pelo vertedouro. Isso, infelizmente, é normal. Mas não foi só isso. Começaram a aparecer peixes mortos em todo o lago. Então a gente ficou preocupada, porque isso já aconteceu há dois anos”, diz.
A ex-conselheira afirma que a principal hipótese é a de que a poluição que entra no lago, pelos córregos Jurubatuba e Pedra Azul, esteja prejudicando a respiração dos peixes. “Podem ser poluentes ou quantidade muito grande de lixo. Porque está mesmo muito cheio de lixo o lago”, afirma.
Leia também
-
Procon dá 72h para Enel explicar falta de energia após temporal em SP
-
Temporal e ventania derrubaram 875 árvores em 22 horas em SP
-
Temporal com rajadas de vento causa alagamentos e estrago em SP. Veja
-
Dia vira noite: minutos após alerta, céu escurece e temporal atinge SP
Claudia diz que já fez sua parte quando conselheira gestora, acionando diversos órgãos responsáveis. “Na verdade, tem sempre que passar pela Secretaria do Verde e Meio Ambiente. Mas mandamos para Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras (Siurb), Sabesp, Subprefeitura da Sé, para tentar resolver os problemas”, diz. “A gente não recebeu nenhuma resposta concreta”, afirma.
O que dizem Sabesp e prefeitura
A Sabesp diz que a água que chega ao lago do Parque da Aclimação, por meio da Estação de Flotação de Rios e Fundos (EFRF), encontra-se em boas condições de qualidade. “No entanto, para que os peixes sobrevivam, é necessária a aeração constante da água já existente no lago. Esse sistema de aeração não é administrado pela Sabesp”, afirma.
Procurada, a Prefeitura de São Paulo não se manifestou sobre a mortandade de peixes no lago do Parque da Aclimação até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.