MAIS

    “PCC fake”: criminosos fingiam sequestros e espancamentos em vídeos encenados

    Por

    Para reforçar o terror psicológico, a organização criminosa desmantelada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), nesta terça-feira (2/9), recorria a vídeos encenados. Em alguns deles, homens apareciam com armas de grosso calibre, sobrepondo áudios em que exigiam dinheiro e ameaçavam familiares das vítimas. O bando era especializado em aplicar golpes de extorsão pela internet, forjando a participação da maior facção criminosa do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC), para intimidar vítimas.

    Um dos materiais apreendidos mostrava um homem com hematomas no rosto, suplicando para que a vítima pagasse o valor exigido “pelos faccionados”. Outros vídeos eram gravados em países estrangeiros e adaptados com vozes brasileiras, simulando sequestros que, na realidade, nunca haviam acontecido.

    Leia também

    Segundo as investigações da 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia), a quadrilha teria feito cerca de 250 vítimas somente no DF. O prejuízo estimado apenas na capital da república, nos últimos cinco anos, ultrapassa R$ 1 milhão. Em todo o Brasil, o esquema pode ter causado perdas superiores a R$ 15 milhões, com atuação também em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Piauí.

    Assista aos vídeos gravados pelos criminosos que fingiam ser do PCC:

    Engenharia social

    A Operação Black Widow, cumpre 10 mandados de prisão e 10 de busca e apreensão contra integrantes da organização criminosa baseada em Montes Claros (MG). O modus operandi do grupo era marcado por sofisticação e uso de técnicas de engenharia social. A abordagem começava de forma aparentemente inocente: vítimas acessavam sites de acompanhantes ou de relacionamentos, onde faziam contato com falsas prestadoras de serviço.

    A partir desse primeiro contato, outros integrantes da organização entravam em cena, enviando mensagens com dados pessoais sigilosos — como endereço residencial, local de trabalho e nomes de familiares. Essas informações eram obtidas por meio de invasões virtuais.

    A extorsão seguia uma escala de ameaças. No início, os criminosos cobravam valores sob a justificativa de “tempo da acompanhante”, mesmo sem que o encontro tivesse ocorrido. Quando as vítimas resistiam, passavam a exigir o chamado “valor da facção”, apresentando-se como membros do PCC.

    Organização estruturada

    De acordo com a PCDF, o grupo funcionava como uma célula criminosa descentralizada, modelo herdado das antigas “centrais do golpe”. O município de Montes Claros já era apontado como um dos principais polos de formação desse tipo de quadrilha, sendo alvo recorrente de operações de diferentes estados.

    Os 10 presos na operação ocupavam posições estratégicas: liderança, logística, suporte financeiro e contato direto com vítimas. Para movimentar os valores ilícitos, utilizavam uma rede de contas bancárias e chaves Pix distribuídas em várias regiões do país, dificultando o rastreamento do dinheiro. Somente em 2025, o grupo já havia feito 80 vítimas no DF, arrecadando cerca de R$ 300 mil.