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    PCC na Faria Lima: renda de dono de gestora cresceu 1.700% em 3 anos

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    O empresário José Carlos Mansur, dono da Reag Investimentos, gestora sediada na Faria Lima, teve um crescimento exponencial em sua renda no mesmo período em que fundos administrados por ele foram utilizados em um esquema de blindagem de patrimônio e lavagem de dinheiro sob suspeita de ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

    Dados da Receita Federal utilizados pela Polícia Federal (PF) na operação Quasar mostram que, entre 2020 e 2023, os rendimentos em nome de Mansur saltaram de R$ 31 milhões para R$ 570 milhões -crescimento de cerca de 17.000%.

    O Fisco também aponta que os “bens menos dívidas” cresceram no mesmo período saindo de R$ 40 milhões para R$ 737 milhões.

    Segundo a Receita, o “patrimônio seria justificado pelo recebimento de lucros e dividendos de suas empresas, entre 2019 e 2020, especialmente da Lumabe Participações e da Lurix Participações”.

    As informações constam na decisão da Justiça Federal de São Paulo que autorizou busca e e apreensão e bloqueio de bens da Reag e de José Carlos Mansur.

    De acordo com a decisão, a Reag “seria a principal responsável pela ocultação de valores sem origem, que alcançaria bilhões de reais.”

    A operação Quasar foi uma das três operações deflagradas na quinta-feira (28/8) e que investigam o uso de fundos de investimentos para blindar patrimônio e lavar dinheiro de um grupo empresarial supostamente ligado ao PCC atuante no setor de combustíveis.

    Dos 21 fundos investigados na Quasar, 10 estiveram sob gestão da Reag Investimentos, segundo a decisão da Justiça.

    São eles: Celebration, Derby, Wels, Gold Style, Hans 95, Location, Los Angeles (Lucerna), Mabruj II (Rhodonite), Novo Fundo (Reag Leeds) e Olaf 95.

    “Aponta-se que os fundos sob investigação recorreriam a mecanismos para encobrir a verdadeira titularidade dos ativos, valendo-se de uma rede imbricada de transações financeiras e negociações imobiliárias, estruturadas com o auxílio de pessoas físicas e jurídicas interpostas, cuja atuação revelaria ausência de substrato econômico legítimo, funcionando como engrenagem para a ocultação e integração de valores de origem criminosa”, diz trecho da decisão.

    Imagem colorida de agente da Polícia Federal. Procurador de SP que abusou de filha de oito meses é preso pela PF - MetrópolesAgente da Polícia Federal durante operação

    A investigação da PF indica que os fundos eram utilizados para “ocultação do patrimônio de pessoas físicas e jurídicas que operariam na revenda varejista de combustíveis e relacionados (postos de petróleo e serviços)”.

    O grupo teria como líderes Roberto Augusto Leme da Silva, conhecido como Beto Louco, e Mohamad Mourad. Os parceiros eram os nomes por trás da Copape Produtos de Petróleo e Aster Petróleo. Os dois foram alvos de mandados de prisão na operação Tank, também deflagrada pela PF no mesmo dia que a Quasar.

    Como não foram encontrados, são considerados foragidos e a PF pediu a inclusão de seus nomes na lista de procurados da Interpol.

    A PF afirma que o grupo liderado por eles se valia de um modus operandi em que era possível ocultar o real beneficiário dos ativos ilícitos, uma vez que eles ficavam em nome dos fundos. Como mostrou a coluna, esses fundos não visavam a valorização do capital investido, mas a blindagem patrimonial.

    Defesa

    Questionada pela coluna sobre os rendimentos de João Carlos Mansur, a empresa afirmou que sua evolução patrimonial reflete, também, o crescimento da companhia nos últimos anos, “sendo que tudo se encontra devidamente declarado e de origem lícita”.

    “Todas as informações relativas ao patrimônio e rendimentos foram devidamente prestadas e esclarecidas junto às autoridades competentes, por meio das declarações anuais de Imposto de Renda, em absoluto cumprimento das normas fiscais e legais vigentes”, afirma a nota.

    Sobre os fundos citados, a Reag diz que tinha 10 fundos e oito foram renunciados a partir de 2024, antes da operação.

    Quanto a uma suposta relação com o PCC, a Reag esclarece que “unca manteve, mantém ou manterá qualquer relação com grupos criminosos, incluindo o PCC, nem com quaisquer atividades ilícitas”.

    “Reafirmamos que não há qualquer participação da empresa ou de seus executivos em operações de ocultação de patrimônio ou de lavagem de dinheiro”, diz a manifestação.

    Em nota divulgada pela Reag, a empresa refutou “veementemente” qualquer atuação em irregularidades apontadas pelas investigações e diz que “recebeu com surpresa as divulgações que a envolvem em supostas irregularidades investigadas no âmbito da Operação Carbono Oculto”.

    A Reag também afirma que “atua em linha com as normas vigentes no mercado financeiro e de capitais” e que há diversos Fundos de Investimentos mencionados na operação que nunca estivaram sob sua administração ou gestão.

    “Em relação aos Fundos de Investimento que a empresa manteve prestação de serviço, sua atuação sempre foi diligente e proba, e os Fundos foram, há meses, objeto de renúncia ou liquidação. Sua trajetória demonstra práticas sólidas de governança e transparência, com base em ética e rigor técnico”, diz trecho da nota.

    Por fim, a empresa ressalta que possui controles internos “rigorosos” de prevenção à lavagem de dinheiro, em linha com padrão dos reguladores aos quais está submetida.

    “A Reag seguirá atuando com ética, diligência e transparência, sem qualquer tolerância a desvios, sempre em colaboração com as autoridades e em defesa de um mercado financeiro saudável e de seus clientes e investidores”, afirma.