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    PL da Anistia vira da Dosimetria: a velha guarda pacificadora é mágica

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    Achei que tivesse voltado no tempo, ao ler que Paulinho da Força, Aécio Neves e Michel Temer haviam se reunido na casa do ex-presidente, em São Paulo, para conversar sobre o PL da Anistia.

    Como é que pude esquecer que as ressurreições não são obra de milagre, mas fato relativamente comum na vida política brasileira?

    No caso de Michel Temer, aliás, é mais do que inexato falar em ressurreição. É injusto. Mesmo no papel de lobista do Google, ele nunca deixou de ser visto — e consultado — como referência a pairar acima dos partidos e sempre disponível para defender o interesse nacional.

    É um pacificador. Em julho, por exemplo, ele serviu de bombeiro para evitar que o depoimento de Jair Bolsonaro a Alexandre de Moraes passasse longe das vias de fato.

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    Não foi a primeira vez que Michel Temer atuou para baixar a temperatura entre ambos. Em setembro de 2021, meio arrependido (os arrependimentos dele nunca são totais) de ter chamado Alexandre de Moraes de “canalha”, durante manifestação na avenida Paulista, Jair Bolsonaro pediu a intercessão do seu antecessor no Palácio do Planalto.

    Ele foi aconselhado a dar um telefonema ao ministro do STF e a divulgar também uma cartinha oficial, negando que tivesse más intenções — cartinha, aliás, que  foi escrita pelo conselheiro Michel Temer.

    Não adiantou muito, é verdade, mas o ex-presidente tentou, e a simples tentativa já é meritória.

    Agora, temos Michel Temer dando um jeito para que não dê ruim entre a Câmara e o STF por causa do PL da Anistia.

    Paulinho da Força estava na casa do ex-presidente para tratar do assunto, porque foi escolhido por Hugo Motta para ser o relator do atual projeto. Por Hugo Motta, não por Alexandre de Moraes, de quem Paulinho da Força é muito próximo.

    Quanto a Aécio Neves, bem, ele está sempre pronto a dar uma mão quando há Gilmar Mendes no meio de campo, e só vê problema nisso quem é detrator do Supremo.

    Os dois são amigos de longa data, e o decano do STF foi contatado telefonicamente durante a reunião em São Paulo, assim como Alexandre de Moraes.

    Conversa vai, conversa vem, a primeira providência foi mudar o nome do PL da Anistia para PL da Dosimetria.

    Ao que parece, os dois ministros que dão as cartas no STF concordam que o tribunal exagerou tanto na dose quanto na metria ao impor penas tão pesadas aos participantes do quebra-quebra de 8 de janeiro.

    A concessão fica por aí. Anistia para Jair Bolsonaro, nem pensar. O máximo a que ele pode aspirar, no momento, é a permanecer em prisão domiciliar.

    Redução da sua pena de 27 anos? “O problema terá que ser tratado em outro campo, não nesse PL”, avisou Paulinho da Força.

    Ah, o partido do relator do PL da Anistia… Ops, do PL da Dosimetria, digo, quer blindar os ministros do STF de impeachment e propôs uma ação nesse sentido, antes de Paulinho da Força ser escolhido para ser relator. A ação do Solidariedade está nas mãos do decano, veja só quantas coincidências.

    Nada como a velha guarda para pacificar o país. O tempo nunca passa para ela. É uma coisa mágica.