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Polícia diz que CT do Deic foi doado por empresa em nome de pintor

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Polícia diz que CT do Deic foi doado por empresa em nome de pintor

Após manter sigilo sobre o doador do centro de treinamento (CT) de artes marciais instalado no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), a Polícia Civil de São Paulo publicou na última sexta-feira (26/9), no Diário Oficial, um termo de doação afirmando que os recursos usados na construção da academia foram oferecidos pela empresa C2 Gestão de Patrimônio, que está registrada no nome de um pintor que mora em uma ocupação irregular na periferia de Ubatuba, no litoral norte do estado.

Como revelado pelo Metrópoles na semana passada, o empresário do setor de combustíveis Gabriel Cepeda, investigado por relação com o Primeiro Comando da Capital (PCC), foi apontado como o responsável pela doação do CT, em agosto. Na ocasião, ele se reuniu com o diretor do Deic, Ronaldo Sayeg. Após o encontro, o influenciador Matheus Serafim, que teria intermediado a doação, fez uma publicação agradecendo Cepeda e dizendo que o empresário “não mediu esforço” para construir o CT.

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Matheus Serafim anuncia que CT do Deic está pronto

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A Secretaria da Segurança Pública (SSP) negou o envolvimento do empresário na doação, mas manteve a identidade do doador sob sigilo até a última sexta-feira, quando publicou o termo de doação da C2 Gestão de Patrimônio. Segundo a pasta, o valor foi de R$ 36,7 mil, sendo R$ 22,2 mil em equipamentos e R$ 14,5 mil para a adequação do espaço físico. A data de celebração informada no termo foi 25 de setembro, três dias após o Metrópoles publicar a reportagem dizendo que Cepeda havia sido apontado como doador secreto do CT.

Empresa em nome de pintor

A C2 Gestão de Patrimônio está registrada na Junta Comercial de São Paulo (Jucesp) em nome Felipe Francelino da Silva Alves (foto em destaque), um homem de 34 anos que trabalha como pintor e está sendo processado por construir sua casa, de 19 m² (veja abaixo), em um terreno no bairro Maranduba, periferia de Ubatuba, que pertenceria a um casal de Jacareí, no interior paulista. Felipe nega e diz que a casa não está localizada na área reivindicada.

No processo, Felipe solicitou declaração de hipossuficiência financeira e concessão de Justiça gratuita, alegando que não tinha como pagar pelas custas processuais. Ele disse que nunca declarou imposto de renda, porque teria renda mensal média abaixo do valor mínimo estipulado pela Receita Federal, de R$ 2.824.

Apesar disso, a empresa na qual ele figura como único sócio e que teria feito a doação do centro de artes marciais ao Deic possui patrimônio de R$ 1,6 milhão, que consiste em diversos bens de luxo, como uma Porsche Carrera, uma Land Rover e um jet ski. Após a publicação das reportagens do Metrópoles sobre o centro de treinamento, a Corregedoria da Polícia Civil instaurou uma investigação para apurar quem seria o responsável pela doação.

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Casa de Felipe Francelino, sócio da C2 Gestão de Patrimônio

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Casa de Felipe Francelino, sócio da C2 Gestão de Patrimônio

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Casa de Felipe Francelino, sócio da C2 Gestão de Patrimônio

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“Mantive contato com ele”

Questionado pela reportagem sobre a empresa que seria doadora do CT, Ronaldo Sayeg disse que chegou a conversar com Felipe Francelino e com uma outra pessoa que representa a empresa. O diretor do Deic, no entanto, recusou-se a dar detalhes sobre como teria chegado até o suposto empresário.

“Isso é coisa pessoal. Eu não vou falar como eu mantive contato com a empresa. Eu não queria nem expor a empresa. Mas como tem uma parte pública nisso, nós revelamos o CNPJ”, disse Sayeg. “Eu não preciso responder essas coisas. Aquilo que eu tiver que falar vou falar na Corregedoria”, acrescentou.

O chefe do Deic disse que a empresa teria sido indicada por amigos em comum e que, para ele, isso seria suficiente. “Eu não fui atrás da empresa. Eles se dispuseram, fizeram toda a documentação. Foi por etapas, ‘parcelada’, que culminou com a convalidação do parecer e na publicação no Diário Oficial”.

“Não tem nada”

O Metrópoles não conseguiu falar com Felipe Francelino até a publicação desta reportagem. Por telefone, a esposa dele, Bruna Aquino, confirmou que o casal segue morando na casa alvo da disputa judicial em Ubatuba. Ela, no entanto, disse que não poderia falar sobre a C2 Gestão de Patrimônio.

O advogado que defendeu Felipe no processo de reintegração de posse, Leandro Seno, afirmou que o pintor tem uma vida simples e disse que nunca ouviu falar sobre a empresa milionária que seria a doadora do centro de artes marciais do Deic, segundo a Polícia Civil.

“São pessoas que não tem condições. Moravam numa casa simples ali no terreno. Já tinha um tempo que eles tinham comprado de alguém. O Felipe é um pintor”, afirmou o advogado. “Ele nunca mencionou empresa. Nós solicitamos a Justiça gratuita na época justamente por ele não ter nada”.

C2 Gestão de Patrimônio

A C2 foi aberta em 13 de abril de 2023, em nome de Alex Jun Choe, com endereço indicado em um prédio comercial de luxo na Vila Gomes Cardim, na zona leste de São Paulo. Inicialmente, o patrimônio da empresa era de R$ 100 mil.

Em dezembro de 2024, ela foi transferida para o nome de Felipe Francelino. Na ocasião, a área de atuação declarada da empresa também foi alterada, passando de gestão de patrimônio para administração de fundos e intermediação e agenciamento de negócios.

Seis meses depois, em maio deste ano, o capital declarado foi alterado e foram incluídos bens de luxo que somam R$ 1,5 milhão:

No último dia 5 de setembro, o valor referente à Porsche foi convertido em moeda corrente, dando a entender que o veículo teria sido vendido.

“Amigo Cepeda”

A participação de Gabriel Cepeda na construção do centro de treinamento do Deic foi anunciada nas redes sociais por um amigo dele: o influenciador e ex-lutador de MMA Matheus Serafim. Em agosto, dias antes da Operação Carbono Oculto, da qual Cepeda foi alvo, a dupla se reuniu com o diretor do Deic, Ronaldo Sayeg, na sede do departamento.

Na ocasião, Serafim publicou uma foto em seu Instagram dizendo que o empresário “não mediu esforço” para construir a academia.

“Agradecer meu grande amigo Gabriel Cepeda que ao meu pedido não mediu esforço para construir um dos maiores e mais bem equipados centro (sic) de treinamento da Polícia Civil – Deic. Obrigado irmão pela parceria de sempre, logo logo inauguração”, disse o ex-lutador.

Após a operação, a publicação foi apagada, mas seu link continua visível no Google, o que permitiu ao Metrópoles acessar o texto original por meio do código fonte da página.

Questionado pela reportagem, Matheus Serafim negou que Cepeda tenha feito a doação para o CT do Deic. Ele disse que mentiu na postagem, com o objetivo de “dar uma moral” ao amigo, a quem pretendia agradar.

“Eu quis agradar ele. Essa é a verdade. Ele seria um grande parceiro meu, mesmo em relação às minhas pretensões políticas, nos projetos sociais que eu tenho. As coisas dependem muito de empresário”, afirmou o ex-lutador por telefone.

“Isso não quer dizer que ele tinha algum envolvimento com a academia. Eu até tinha pretensões de querer que ele ajudasse, mas não aconteceu”, completou.

A família Cepeda, dona da rede Boxter de postos de combustíveis é investigada desde 2020 por suspeita de lavagem de dinheiro para o PCC. Natalício e Renan Cepeda, pai e irmão de Gabriel Cepeda, foram presos naquele ano, na operação Rei do Crime, deflagrada pela Polícia Federal.

O que diz a SSP

O Metrópoles pediu um posicionamento da Secretaria da Segurança Pública (SSP) no início da noite da última sexta-feira (26/9), sobre o dono formal da empresa apontada como doadora do CT do Deic. Até o momento, não houve retorno. O espaço segue aberto para manifestação.

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