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Polícia investiga elo entre milícia de PMs e GCMs com o CV em SP

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Polícia investiga elo entre milícia de PMs e GCMs com o CV em SP

A prisão de um policial militar na semana passada em Limeira, no interior de São Paulo, reforça a suspeita, já em investigação pela Polícia Civil, sobre a existência de uma milícia formada por PMs e guardas municipais (GCMs), em parceria com o Comando Vermelho (CV), maior facção carioca, cujos tentáculos se expandem paulatinamente pelo interior do estado.

Com o abandono do Primeiro Comando da Capital (PCC) de territórios que comercialmente não interessam mais à organização criminosa, facções rivais viram o caminho livre para expandir o comércio local de drogas em território inimigo.

Fontes que acompanham a expansão da organização criminosa carioca em São Paulo, assim como o surgimento de milícias compostas por policiais e guardas — ligados ao CV — confirmaram que o cabo José Casimiro de Lima Júnior, de 44 anos, agia em parceria com o também PM Carlos Alexandre dos Santos, o Bicho — preso desde fevereiro e apontado como o “principal executor e articulador” de uma milícia que presta serviços ao CV na região de Rio Claro.

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Carlos Alexandre dos Santos, o Bicho (esq) e cabo José Casimiro (dir)

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Cabo José Casimiro durante audiência de custódia

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PM da ativa foi preso suspeito de envolvimento com o crime organizado

Reprodução/Instagram

O Metrópoles apurou que José Casimiro foi flagrado, durante a investigação, entrando com um carro clonado no condomínio onde Bicho tem um imóvel, após uma tentativa frustrada de assassinato. A ligação entre ele e o chefe da milícia, ligada ao CV, confirma-se em uma foto, compartilhada em uma rede social do PM preso na semana passada (veja galeria acima).

Crimes violentos

Por volta das 7h10, do último dia 27, policiais da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), juntamente com membros da Corregedoria da PM, prenderam o cabo José Casemiro no momento em que ele chegava para trabalhar na 5ª Cia. do 36º Batalhão do Interior.

A casa do PM também foi alvo de buscas, feitas mediante mandado judicial, na qual foram apreendidos celulares, cartões bancários e munições. Os itens serão submetidos a perícia.

A investigação da Polícia Civil do interior mostra que o cabo José Casimiro estaria envolvido na prática de crimes violentos, “especialmente homicídios”, para os quais a milícia composta por agentes públicos usaria veículos clonados, ou dublês.

Os carros, após os crimes, são abandonados em locais previamente definidos, ou incendiados, com o intuito de eliminar vestígios e dificultar a identificação dos criminosos, destaca ainda a investigação.

José Casimiro foi indiciado por tentativa de homicídio, falsificação de sinal identificador de veículo, prevaricação, tráfico e associação ao tráfico de drogas. Ele foi encaminhado para o Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte da capital paulista, onde permanecerá durante sua prisão temporária.

Prisão mantida

Durante audiência de custódia, às 12h30 do último dia 28, a defesa do cabo José Casimiro afirmou considerar a prisão dele “ilegal”. O advogado Lucas Alvarenga alegou na ocasião que o PM é réu primário, conta com residência fixa, além de ser servidor público.

“A prisão dele baseia-se somente na menção de um vulgo, que aparece duas vezes no decorrer de toda investigação, que é ‘Bigode’ ou ‘Bigodeira’”.

Ele disse ainda não existir provas da suposta relação do cliente com o crime organizado. Os argumentos, porém, não surtiram efeito e o PM segue atrás das grades.

Quem é o Bicho

Preso desde o final de fevereiro deste ano, o PM  Carlos Alexandre dos Santos, o Bicho, coordenava um grupo composto por criminosos de carreira, além de Guardas Civis Municipais (GCMs), segundo investigação da Polícia Civil. Parte do bando foi presa em 5/5, durante a Operação Hitman, deflagrada no interior paulista e na região Sul do país.

Além da parceria com a maior organização criminosa fluminense, o grupo chefiado pelo PM também mantinha relações com o Bando do Magrelo, uma forte organização criminosa regional, nascida em Rio Claro, que se opõem ao PCC no interior paulista.

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Chefe da GCM de Araras foi afastado

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Subcomandante da guarda teve prisão decretada

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Comandante da guarda é investigado por suposto elo com facção carioca

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PM liderava grupo criminoso, diz Polícia Civil

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Policial agia nos bastidores do crime, mesmo estando na ativa

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Guarda dava infirmações para criminosos

Reprodução/Policia Civil

Carlos Alexandre foi preso após a constatação de indícios de seu envolvimento na clonagem de veículos e também com o tráfico de armas, drogas, homicídios encomendados e, inclusive, na arquitetação do assassinato de policiais considerados honestos.

Além da prisão, mandados de busca e apreensão foram cumpridos contra o PM, ainda em fevereiro, incluindo na viatura usada por ele e no armário do batalhão onde estava lotado, em Limeira. No carro de serviço foi apreendido um celular, como consta em relatório da Corregedoria da Corporação, peça chave para a revelação de uma complexa e violenta disputa pelo controle das atividades criminosas na região.

Vida dupla

As investigações da DIG, que seguem em sigilo, afirmam que o PM Carlos Alexandre dos Santos é o “principal executor e articulador da organização criminosa”.

Entre suas condutas, a Polícia Civil destaca homicídios “consumados e tentados”, tráfico de armas e drogas, adulteração de identificadores de veículos, receptação, obstrução da Justiça, corrupção ativa e passiva e roubo de veículos, atribuindo ao PM “a liderança local da organização criminosa armada”.

O policial também agia na linha de frente, ajudando no planejamento e participando de ações para matar rivais e no monitoramento de vítimas, feito por meio do uso de carros clonados.

Para que os veículos “frios” não fossem identificados, ele contava com a ajuda do GCM Denis Davi de Lima.

Central de Monitoramento

Denis, como mostra a investigação, fazia a ponte entre o crime organizado e o sistema institucional. Para isso, usava o acesso que tinha ao Centro de Operações Integradas (COI), no qual apagava registros de veículos clonados, repassava informações estratégicas ao tráfico de drogas e monitorava — a pedido da organização criminosa — servidores públicos considerados “ameaças”.

As ações do guarda eram acobertadas pelo comandante da GCM de Araras, Daniel Ponessi Alves, como constado após a quebra do sigilo telemático do celular do cabo Carlos. O guarda está atualmente afastado da função.

De acordo com a Polícia Civil, Daniel Ponessi era informado sobre a circulação de veículos clonados e “ao invés de agir” se limitava a “alertar informalmente os envolvidos”.

“[Ele] também autorizou movimentações de viaturas para favorecer o tráfico [de drogas]”, diz trecho de relatório policial.

O outro guarda investigado é o subinspetor Anilton dos Santos, o Tijolo, que recebia propina da organização criminosa, para garantir a fluidez do tráfico e demais ações da célula que prestava serviços ao CV e ao Bando do Magrelo.

O agora ex-comandante da guarda respondia ao caso em liberdade e o subinspetor estava foragido, até a publicação desta reportagem. A defesa dos três GCMs mencionados neste texto não foi localizada. O espaço segue aberto para manifestações.

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Roubo de armas

Uma das ações articuladas pelo cabo Carlos Alexandre dos Santos era a venda de armas para o CV. Parte dos itens comercializados, segundo as investigações, era roubada.

Em conversa com um criminoso ligado ao CV, o PM de São Paulo negociou e fechou a venda do arsenal, pertencente a um GCM, antes mesmo de as armas serem roubadas na casa da vítima.

Registros oficiais da Delegacia de Araras, obtidos pelo Metrópoles, mostram que três criminosos invadiram a residência do guarda, na madrugada de 23 novembro do ano passado. O trio acessou o prédio, localizado no centro da cidade, usando um controle remoto e destrancaram o apartamento com uma chave.

Encapuzados, os bandidos ameaçaram o GCM e a esposa dele, para que o cofre onde as armas estavam fosse aberto. O trio roubou  fuzis, pistolas, revólveres, munições, além de itens eletrônicos e joias.

A investigação da DIG constatou que esse assalto foi articulado pelo grupo liderado pelo PM Carlos.

“Rota Caipira”

O núcleo ligado ao CV atuava em Limeira e cidades próximas do interior paulista, como Araras, Leme, Conchal e, também, na região sul do país – onde o GCM do interior paulista foi preso, com apoio da Polícia Civil gaúcha.

O objetivo dos criminosos ligados ao CV, como mostram as investigações, era tentar assumir o controle da chamada “Rota Caipira”, usada para o transbordo de armas e, principalmente, da cocaína produzida na Bolívia e Colômbia.

Os PMs e GCMs investigados, como consta em documento da Polícia Civil, estão “alinhados aos interesses expansionistas” da facção fluminense “a fim de alterar o domínio geocriminal da região, que é estratégica para o tráfico de armas e de drogas”.

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