José Lourenço, Kelvyton Vale, Elber Fares e Anderson Figueira. Os quatro policiais — militares e civis — são somente alguns dos nomes na longa lista de policiais assassinados no Rio de Janeiro (RJ) apenas em 2025. Os dois últimos foram mortos com menos de 24 horas de diferença. Elber foi executado na noite do último domingo e Anderson, na manhã desta segunda-feira (1°/9).
A disputa por territórios e o domínio do tráfico de drogas nas comunidades impulsionam as facções criminosas a atirar contra as forças de segurança sem remorso algum, sobretudo em solo fluminense.
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Policial civil é assassinado na frente do filho após sair de igreja
O levantamento mais recente do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), revela que, de janeiro a julho deste ano, 42 policiais (civis, militares e penais) foram mortos de forma violenta no RJ.
Se comparado ao mesmo período do ano passado, constata-se que a violência aumentou em 147%, uma vez que 17 profissionais de segurança pública foram assassinados de janeiro a julho de 2024.
Morto na frente do filho
Lotado na 166ª Delegacia de Polícia (Angra dos Reis), Elber Fares foi morto a tiros na noite do último domingo (31/8), na frente do filho, após sair de uma igreja no bairro Balneário, na Costa Verde fluminense.
Segundo testemunhas, um carro se aproximou do veículo do agente no momento em que ele abria a porta. O atirador disparou ao menos três vezes.
Câmeras de segurança da região flagraram a execução. Nas imagens, é possível ver o momento em que o filho corre desesperado em direção ao pai, que cai no chão, enquanto o criminoso retorna ao carro e foge.
Ferido gravemente, Elber foi levado pelos Bombeiros ao Hospital Municipal da Japuíba (HMJ), mas não resistiu. Ele havia sido atingido por pelo menos cinco disparos, segundo informações preliminares da Polícia Civil.
A primeira linha de investigação aponta que traficantes locais podem estar por trás da execução, mas a Polícia Civil ainda não descarta outras hipóteses, como tentativa de assalto.
Assassinado em operação
Policial militar desde 2002, Anderson de Souza Figueira, lotado no 41º BPM (Irajá), foi assassinado quando atuava em uma ação no Complexo do Chapadão, em Costa Barros, na Zona Norte do Rio.
Apesar de ter sido socorrido com vida e levado para o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, Figueira não resistiu aos ferimentos.
No momento em que foi atingido, ele realizava buscas no interior de uma igreja, com o intuito de capturar lideranças de uma facção que se escondiam ali.
A operação tinha como objetivo reprimir a movimentação de criminosos envolvidos em disputas territoriais, além de coibir roubos de veículos e cargas nas principais vias de acesso à localidade.
Após o confronto, outros dois homens acusados de participar do ataque às equipes do 41° BPM foram socorridos ao Hospital Ronaldo Gazolla, em Acari, onde permanecem internados sob custódia policial.
O subtenente Figueira tinha 43 anos e ingressou na Corporação em 2002. Ele deixa esposa e três filhos.
Ataque à delegacia
Em 15 de fevereiro deste ano, o destemor dos criminosos foi traduzido em um ataque fortemente armado à 60ª Delegacia de Polícia (DP), em Campos Elíseos, no município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Criminosos equipados com armamento bélico atiraram contra a estrutura da unidade policial. À época, a PCERJ afirmou que o ataque foi uma tentativa de resgate dos criminosos Rodolfo Manhães Viana, conhecido como Rato, e o braço direito dele, Wesley de Souza do Espírito Santo. Eles haviam sido presos um dia antes.
Na intensa troca de tiros entre os policiais e os criminosos, que ocorreu na tentativa de invasão, dois agentes foram feridos. Apesar de serem atingidos por disparos, eles foram socorridos e receberam alta médica dias depois.
O atentado à delegacia gerou uma série de confrontos violentos. Por não titubear durante as operações que miraram o grupo que orquestrou o ataque, 13 suspeitos acabaram mortos durante confrontos. Outros 40 envolvidos foram presos.
Piloto baleado na cabeça
Além de serem mortos, há os casos em que policiais têm suas vidas completamente modificadas após serem baleados.
É o caso do policial Felipe Marques Monteiro, baleado na testa, em 20 de março, quando pilotava um helicóptero da Polícia Civil durante uma operação na Vila Aliança.
Cinco meses após o ataque, ele permanece internado no hospital. Durante os mais de 150 dias, Monteiro passou por diversas transfusões de sangue e intervenções cirúrgicas.
Por meio das redes sociais, a família do policial posta homenagens e atualiza o quadro de saúde do piloto.
Contumazes em desafiar a polícia
Enquanto irmãos de fardas e familiares enterram seus entes queridos, os criminosos não parecem se preocupar com a possibilidade de punições.
Na semana passada, um vídeo em que criminosos da facção Comando Vermelho (CV) aparecem desafiando policiais na comunidade da Gardênia Azul, bairro localizado na Zona Oeste, passou a circular nas redes sociais.
Nas imagens, é possível ver quando um homem trajado com uma farda de estampa militar, deitado no chão, dispara tiros de fuzil supostamente na direção da polícia.
Na legenda da publicação, que passou a circular entre os criminosos e moradores da comunidade, os faccionados escreveram: “Toma Jack! Toma Jack! Nosso mais novo do Gardênia distribuindo bala de manhã”.
Reação às operações
Quem também sofre com as investidas criminosas é a população. Semanalmente, as facções respondem às ações policiais com barricadas, incêndio a veículos de transporte público e explosão de artefatos.
Nessa segunda (1°), em resposta à operação que culminou na morte do PM Figueira, criminosos tomaram pelo menos 3 ônibus como barricadas.
Além disso, 10 unidades escolares foram fechadas e duas unidades de saúde suspenderam o funcionamento.
A resposta da polícia
A Polícia Civil do Rio de Janeiro se manifestou nesse sgunda (1°) após o assassinato de Elber Fares. A corporação afirmou que lamenta profundamente a morte do inspetor, covardemente assassinado na frente de seu filho. “Não mediremos esforços para localizar e prender o responsável — e quaisquer envolvidos — nesse crime brutal”, declarou.
“A perda de um policial civil é uma afronta não apenas à instituição, mas a toda a sociedade”, destacou.
A nota termina com a seguinte declaração: “Reafirmamos nosso compromisso: Não descansaremos até que o covarde seja encontrado”.
À coluna, a Polícia Miltar do RJ também declarou estar em luta pela morte de Figueira e informou que, nesta semana, foram entregues 79 viaturas semiblindadas às unidades operacionais. No início deste ano, também foram adquiridos 1.700 capacetes balísticos — o que representou a duplicação do estoque disponível — e já está em andamento a compra de 23 mil novos coletes balísticos, que ampliarão ainda mais a segurança dos policiais militares.
No fim da tarde dessa segunda (1º), o Disque Denúncia divulgou um cartaz solicitando ajuda da população com informações que auxiliem o inquérito policial instaurado pela 166ª DP (Angra dos Reis), a fim de obter informações que levem à identificação e à prisão dos envolvidos na morte de Elber Fares.
A recompensa oferecida é de R$ 5 mil. As informações podem ser repassadas por meio dos seguintes canais: Central de atendimento/Call Center: (021) – 2253 1177 ou 0300-253-1177
WhatsApp Anonimizado: (021) – 2253-1177
Aplicativo: Disque Denúncia RJ. O anonimato é garantido em todos os formatos.